Ranking mundial do Pix: a verdadeira posição do Brasil na modalidade pagamentos instantâneos

Hoje parece óbvio contar com um sistema que envia dinheiro no ato, de graça, para qualquer pessoa. Mas há apenas cinco anos, 77% dos pagamentos eram feitos em dinheiro do papel, segundo uma pesquisa do Banco Central.
Hoje, o Pix já responde sozinho por 46% das transações. A velocidade da luz na adesão ao sistema fez do Brasil uma estrela em ascensão entre os pagamentos instantâneos, que já existem em mais de 60 países.
O custo zero, o envolvimento de órgãos do governo e a obrigatoriedade de bancos aderirem são fatores que variam de país para país. Mas esses são alguns dos fatores que construíram o sucesso do Pix no Brasil — e em outros líderes do ranking de países que mais usam pagamentos instantâneos.
Números globais
Nosso sistema de pagamentos instantâneos surgiu em novembro de 2020, e foi disparando no ranking mundial. O relatório mais recente, com dados de 2023, já nos deu a medalha de prata, com 37,3 bilhões de Pix feitos naquele ano – 14% do total.
Só a Índia, que lançou o seu sistema, em 2016, supera esse patamar. Em 2023, foram 129,3 bilhões de transações via UPI (Interface Unificada de Pagamentos, na sigla em inglês), o Pix deles; 49% do total planetário.
No gráfico animado aqui embaixo, vai outra estatística – a soma das transações a cada ano desde 2020, o que dá uma ideia da dimensão que o Pix ganhou por aqui.
Bom, o que a gente viu aqui passa a ideia de que o Brasil seria o líder global per capita, já que a Índia tem 1,4 bilhão de habitantes e nós, 211 milhões. Não é o caso. Por esse critério, basicamente empatamos com a Coreia do Sul.
Isso também mostra que não há um padrão entre os países que mais adotam pagamentos instantâneos – o top 20 é democrático em termos de condições econômicas e traços culturais. Veja aqui:
Seja como for, o Brasil se destaca tanto no ranking geral como no per capita. Onde o país perde terreno é no volume de dinheiro transferido.
Foram quase US$ 4 trilhões, ou US$ 18,2 mil por habitante, o que nos deixa na 7ª posição em relação ao volume total, tanto em 2023 quanto no acumulado desde 2020.
Na comparação per capita, caímos para 18º. O número um nesse quesito é, de longe, a Coreia do Sul. Veja:
Isso acontece basicamente porque o Pix deles é popular, mas cobra tarifas. Os coreanos, então, preferem usar para transferências maiores. E deixam os cartões de débito e de crédito para as compras do dia a dia. Tanto que só 19% das transações lá são via EBS (Sistema Bancário Eletrônico, na sigla em inglês); contra quase metade daqui.
Seja como for, o Pix segue evoluindo por aqui – em 28 de fevereiro estreou a modalidade por aproximação, que reduz o tempo de pagamento em lojas.
Mas o ranking mostra que ainda há caminho para o sistema brasileiro crescer, como aceitar transações off-line ou internacionais, novidades que já foram implementadas em outras potências do pagamento instantâneo, principalmente na Ásia.
Conheça abaixo quem está no topo global desse mercado — e quem ainda não conseguiu ganhar espaço no bolso da população.
Inclusão em modo turbo para os indianos
Os pagamentos instantâneos representam 53,4% das transações na Índia, o que torna o país líder global nesse quesito.
O UPI foi lançado há nove anos por uma corporação nacional de pagamentos, criada em uma parceria entre o banco central e a associação de bancos da Índia.
O programa é particularmente inclusivo. Quem não tem smartphone (400 milhões de indianos) pode pagar com uma ligação telefônica.
Na Tailândia, transações entre sete países
O sistema tailandês foi batizado de PromptPay e nasceu em 2016, como o da Índia. Mas a curva de adoção dele foi bem mais lenta: só em 2023 ele superou o pagamento em dinheiro de papel.
Mas o Pix tailandês já deu um passo que o brasileiro ainda não fez: interligação com sistemas de outros países. Desde dezembro de 2023 o PromptPay permite enviar e receber pagamentos de Japão, Cambodia, Vietnã, Malásia, Indonésia, Singapura e Hong Kong.
Na China, a competição é com as carteiras digitais
Por lá, os sistemas de pagamentos tomaram outro rumo: o das carteiras digitais.
Por conta de duas firmas privadas: a Tencent e a Alibaba, que desenvolveram os superaplicativos WeChat e Alipay, respectivamente. Os dois produtos, além de servirem como carteira digital, vinculadas a cartões de crédito ou débito e diretamente às contas bancárias.
Com as carteiras digitais atingindo 90% da população chinesa, o Internet Banking Payment System (Sistema de Pagamento Bancário pela Internet, ou IBPS) — lançado em 2010 — ficou na quarta posição no ranking em 2023 da ACI Worldwide, respondendo por apenas 3,1% de todas as transferências do país.
EUA: o reino do crédito e do débito
Já as maiores economias do Hemisfério Norte vivem um cenário muito distinto dos países da Ásia e da América Latina, onde o Brasil é o principal expoente.
Nos Estados Unidos, serviços privados de pagamentos instantâneos como o Zelle foram criados há quase uma década e adotados por mais de 2 mil bancos e instituições de pagamento. Mas não pegaram. O país de mais de 330 milhões de pessoas registrou 3,5 milhões de pagamentos em tempo real em 2023 (quase um décimo do Brasil) e movimentou US$ 1 trilhão (quase um quarto do Brasil). A média foi de dez transferências por habitante em tempo real (a nossa foi 17 vezes maior).
Reinam por lá os cartões de crédito e débito mesmo, com 80% das transações. A versão deles do Pix fica só com 1,5%. O resto é dinheiro de papel.
Mas isso pode mudar. Desde 2023, o país conta com o FedNow, um sistema de pagamentos instantâneos lançado pelo Federal Reserve, o Banco Central deles. A diferença é que há taxa pelas transações e os bancos não são obrigados a aderir.
Europa: mudança nas regras
Já a Europa colocou no ar em 2017 o SEPA Instant Credit Transfer (SCT Inst), um sistema que já nasceu capaz de circular por um mercado enorme: os quase 350 milhões de habitantes da Zona do Euro.
Quem se destacou foram os Países Baixos, um dos primeiros a adotar o SCT Inst, que virou o sistema prioritário para pagamentos no e-commerce holandês. Na Europa, eles só perdem para a Dinamarca e a Suécia, que não fazem parte da Eurozona contam com seus próprios sistemas de pagamento instantâneo.
Até outro dia, a adesão dos bancos era opcional. Isso mudou. Desde 9 de janeiro, todas as instituições de pagamento da União Europeia passaram a ser obrigados a oferecer o SCT Inst e a enviar o comprovante da transação para os usuários em até dez segundos — um tempão para os padrões daqui, onde todos os bancos e fintechs com mais de 500 mil clientes já participavam do programa desde o dia 1.
Agradecimentos: Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia Consultoria, e Alexandre Pinto, vice-presidente de produtos banking da Pismo
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Ana Carolina Moreno