Quem comprou Bolsa em 2021 já “jogou a toalha” e foi para renda fixa, diz Genial
Apesar da recuperação do Ibovespa no primeiro trimestre deste ano, os sinais de desinteresse dos investidores pela Bolsa brasileira ainda estão claros. O volume monetário médio diário em 2025 é de R$ 18,2 milhões, o menor patamar desde 2019, segundo dados levantados por Einar Rivero, da Elos Ayta. Há pelo menos quatro anos também não se vê uma nova oferta inicial de ações (IPO) – pelo contrário, há companhias buscando fechar o capital, como o Carrefour (CRFB3).
Para Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos, esses são sintomas de que as perspectivas para o mercado brasileiro não são promissoras. “O Brasil voltou a ser o paraíso da renda fixa“, diz Motta, em entrevista ao E-Investidor. “Quem comprou Bolsa em 2021 e segurou até hoje, deve estar bastante frustrado. Essas pessoas já devem ter jogado a toalha e aplicado dinheiro em título público ou na renda fixa, que está pagando 15% ao ano”, afirma. Nos últimos quatro anos (31 de dezembro de 2020 a 6 de março de 2025), o Ibovespa acumulou um retorno de 3,65%, enquanto o CDI, parâmetro para renda fixa, rendeu 50,2% (dados da Elos Ayta).
A Genial trabalha com um cenário-base bem adverso para o Brasil em 2025. A casa não vê nenhuma perspectiva de melhora estrutural para a Bolsa nos próximos meses, a não ser que o governo Lula mude bruscamente de direção econômica ou que haja sinais mais claros de alternância de poder nas eleições de 2026, ainda cedo para auferir. No exterior, a conjuntura está em revisão devido aos impactos, ainda não mensurados, da guerra tarifária desencadeada pelo presidente americano Donald Trump.
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Para ter uma estratégia de investimentos vencedora, portanto, a corretora recomenda ter uma “carteira mais conservadora possível“. “A mensagem principal é de que hoje o investidor brasileiro é muito bem remunerado para não tomar risco”, diz Motta. “Nenhum país deveria pagar esse rendimento.”
E-Investidor – Há diminuição de liquidez, volume de negócios e um jejum de IPOs na Bolsa. O que esse quadro diz para você?
Roberto Motta – Esse quadro significa a perda de interesse dos investidores locais e os investidores internacionais com o nosso mercado de capitais. Um motivo é o programa econômico do governo, que não está agradando. A falta de IPOs é apenas uma fotografia disso. Se hoje uma firma quiser levantar capital, além de ter que vender parte da companhia a um preço muito barato, vai ter que concorrer com taxas de juros muito altas. Para a firma, é mais eficiente levantar capital via dívida do que via ações.
A concorrência da renda fixa também tem peso nesse esvaziamento da Bolsa?
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O Brasil voltou a ser o paraíso da renda fixa. O volume de saques dos fundos de ações e multimercados, tem sido astronômico. Quem comprou Bolsa em 2021 e segurou até hoje, deve estar bastante frustrado e triste. Essas pessoas já devem ter jogado a toalha e aplicado dinheiro em título público ou na renda fixa, que está pagando 15% ao ano.
Existe alguma perspectiva de mudança nesse cenário?
A expectativa, por enquanto, é muito baixa. Se o governo não alterar nada na política econômica, os investidores vão se afastar porque os juros tendem a continuar muito altos por muito tempo. Nosso cenário-base para 2025 é bastante adverso. Acreditamos que probabilidade do governo radicalizar é muito maior do que a probabilidade do governo recuar.
Fora uma mudança no governo Lula, algum outro fator poderia engatilhar uma alta da Bolsa?
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O mercado voltar a se interessar agora por Bolsa Brasileira, mas pensando na chance de alternância de poder. Isto em função do nível de popularidade do Lula estar no menor patamar da história. Se a gente tiver uma mudança de poder, as pessoas do mercado acreditam que teremos uma guinada na política econômica. Só que é muito cedo para isso ainda.
Mas o que motivou essa recuperação do Ibovespa nesses primeiros meses do ano, se as perspectivas continuam tão ruins?
O Ibovespa acompanhou um movimento global. No Brasil e no mundo há muita incerteza. Nesses momentos, ser mais conservador é uma ótima opção. E ser conservador no Brasil te remunera bem, é possível receber IPCA+7,5% ao ano. Nenhum país deveria pagar esse rendimento.
Dentro dessa conjuntura, quais estratégias de investimento devem sair vencedoras?
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Uma carteira mais conservadora possível. Dentro deste portfólio, para quem quer ter ações deve pensar em firmas muito desalavancadas, sem dívida. De preferência, geradoras de fluxo de caixa, como setor elétrico e utilities. Procurar líderes de setor, que tem poder de repassar preços caso a inflação apareça e que tenham caixa líquido.
Para quem quer ter um pouco de risco de renda fixa, papéis ligados à inflação trazem um pouco mais de conforto. O grande medo das pessoas é de que essa agenda do governo de radicalizar possa fazer com que a inflação do Brasil mude de patamar. E o terceiro pilar é pensar seriamente em dolarizar parte dos seus investimentos. Tem um universo grande hoje no mercado de capitais brasileiros de produtos atrelados ao dólar, como os fundos cambiais. A mensagem principal é de que hoje o investidor brasileiro é muito bem remunerado para não tomar risco. Só ficar paradinho no CDI provavelmente vai dar um retorno de 15% ao ano.
E qual é a visão para o cenário internacional?
O cenário internacional também está sob revisão, continua extremamente nebuloso e incerto. As bolsas americanas e o Bitcoin, por exemplo, praticamente voltaram para os níveis do dia da eleição do Trump. Nas últimas semanas, a perspectiva que está virando consenso é a desaceleração econômica no mundo. O momento de voltar a olhar ações cíclicas é quando houver a percepção de que a guerra tarifária de Trump não vai causar desaceleração global. E olhar para ações cíclicas no Brasil só a partir de sinalizações de que o governo não vai radicalizar a política econômica ou sinais mais claros de alternância de poder.
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Autor: Jenne Andrade