Como o veneno do lagarto monstro-de-Gila tornou possível os remédios Ozempic e Wegovy

Ozempic e Wegovy, medicamentos que combatem a diabetes tipo 2 e a obesidade, só estão disponíveis no mercado graças ao veneno do lagarto monstro-de-gila, que teve uma participação fundamental para o desenvolvimento dos remédios. 

Os cientistas se interessaram pelo animal devido a uma enzima específica presente no veneno: a exendina-4, que tem um efeito semelhante ao do hormônio GLP-1 (composto principal dos medicamentos, que é responsável por inibir a fome e regular os níveis de açúcar no sangue).

O veneno do lagarto possui mais de uma dezena de proteínas, mas a exendina-4 ganhou destaque: além de auxiliar o animal na imobilização de pequenas presas, ela também demonstrou efeitos na regulação da glicose.  

O monstro-de-gila, da espécie Heloderma suspectum, é um réptil nativo da América do Norte, encontrado apenas no oeste do México e dos Estados Unidos.

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A relação entre o veneno e os medicamentos  

O monstro-de-gila se alimenta esporadicamente. De acordo com a Universidade de Queensland, na Austrália, pesquisadores observaram que a espécie realiza somente seis refeições em um ano. 

Esse padrão alimentar está diretamente ligado à ação da exendina-4, que prolonga a saciedade do animal.

Em entrevista ao UOL, a bióloga Danielle França afirma que o veneno do réptil passou por mutações ao longo das gerações, criando proteínas e peptídeos que ajudaram na captura de presas. 

A adaptação acontece pois a espécie é considerada como um predador oportunista (ou seja, não caça ativamente e depende da sorte para encontrar alimento), então a enzima é o que garante a sobrevivência. 

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Os cientistas perceberam que a exendina-4 tinha um efeito prolongado no organismo do monstro-de-gila, enquanto o GLP-1, no corpo humano, é eliminado de forma mais rápida. 

Entender o mecanismo da enzima foi essencial para que os medicamentos fossem desenvolvidos, já que eles utilizam uma dinâmica similar para prolongar a sensação de saciedade e auxiliar no controle do açúcar no sangue.  

Mas os medicamentos da Nova Nordisk não foram os primeiros a utilizar a exendina-4. A primeira aplicação prática da enzima foi no desenvolvimento do Byetta (exenatida), também utilizado no tratamento do diabetes tipo 2. 

O remédio é usado para reduzir os níveis de glicose no sangue e serviu como base para a criação de outros compostos, como a semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy.  

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