Crédito privado é seguro em meio à onda de recuperações judicias e juros altos?


O Brasil registrou número recorde de pedidos de recuperação judicial em 2024, com forte aumento de 61,8% na comparação com o ano anterior, segundo a Serasa Experian. Hoje (19), Banco Central deve elevar a taxa básica de juros para 14,25% ao ano e aumentar ainda mais a pressão sobre as firmas que já estão endividadas e/ou dependem de uma atividade econômica aquecida para sobreviver.
O cenário desafiador pode afastar investidores do crédito privado, segmento da renda fixa onde firmas não financeiras emitem debêntures, CRIs e CRAs para financiar suas atividades – comprar um desses títulos é, na prática, emprestar dinheiro a uma companhia, em troca da devolução com juros do valor investido. O receio de um calote ainda pode aumentar ao considerar a Selic chegando em 15,50%, patamar esperado pela equipe econômica da XP.
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As emissoras vão quebrar?
Por outro lado, há argumentos sólidos que ajudam o investidor a precificar melhor o risco no crédito privado. Em relatório, o time de renda fixa da XP lembra que, apesar do aumento nos pedidos de RJ, a representatividade segue baixa: com a proporção de firmas que usaram o recurso subindo de 0,0004% em 2015 para 0,01% em 2024.
O estudo assinado por Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, e Mayara Rodrigues, analista de renda fixa da casa, também destaca que as firmas maiores são ampla minoria nos pedidos de RJ. As grandes registraram, em média, 15 pedidos de recuperação judicial ao mês desde janeiro de 2015, contra média de 51 solicitações de micro, pequenas e médias firmas. A estatística é importante porque são as companhias de grande porte que geralmente acessam o mercado de capitais.
Agências de classificação de risco ainda mostram que é comum perceber sinais de piora no risco de crédito antes que uma firma fique inadimplente. Um estudo da S&P Global mostrou que o rating mediano de um emissor corporativo que deu calote era B+ sete anos antes do evento, mas a média caía para B- oito meses antes e para CCC no mês anterior ao default.
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Considerando as estatísticas, a Americanas, que deu calote enquanto tinha nota de crédito AAA, é um ponto fora da curva. Nesse episódio, porém, a deterioração gradual da percepção de risco não aconteceu por se tratar de um caso de fraude, fugindo dos problemas mais comuns que levam ao calote: piora na liquidez, estrutura de capitais inadequada, endividamento elevado e descumprimento de obrigações contratuais.
Outro fator que faz diferença é que, por terem mais acesso ao crédito, as firmas maiores têm mais ferramentas para atravessar momentos econômicos difíceis. É comum ver emissões para rolagem de dívida, por exemplo, uma ferramenta que permite trocar dívidas curtas por compromissos de longo prazo, aliviando o caixa em momentos mais críticos.
As agências de classificação de risco fornecem uma ferramenta poderosa para avaliação dos papéis: os ratings de recuperação. Além de atribuírem uma nota de crédito ao emissor, S&P, Moody’s e Fitch também estimam quanto os investidores podem esperar recuperar caso o emissor dê calote. Dependendo dos ativos usados como garantia (os reais são mais valorizados), condições de mercado e valor dos ativos em caso de venda, a nota de recuperação para um papel pode, inclusive, ser maior do que a nota atribuída à firma, em geral.
“De modo geral, a recuperação esperada para firmas brasileiras varia entre 30% e 90%, dependendo da situação financeira específica da firma, a solidez das garantias e do setor em que opera”, diz o relatório.
Vale investir no crédito privado agora?
A XP reconhece que o momento pede “maior escrutínio na escolha dos ativos”, mesmo nos casos de firmas grandes e com acesso ao mercado de capitais. A piora do cenário macroeconômico faz o banco recomendar “atenção às emissões privadas de firmas excessivamente alavancadas, pertencentes a setores cíclicos e com duration muito longa”.
Outra recomendação para mitigar riscos é limitar a exposição ao crédito privado a 20% do portfólio de investimentos e não alocar mais de 5% da carteira em uma única debênture, CRI ou CRA.
Dolle e Rodrigues também sugerem privilegiar o carrego em detrimento de estratégias de curto prazo que visam vender os papéis após fechamento de prêmios. A recomendação vem em um momento de “taxas de juros em níveis historicamente elevados e recuperação dos spreads, mais em linha com a média histórica”.
Por fim, as especialistas dizem que “com o conhecimento adequado, o crédito privado continua sendo uma ótima alternativa para aumentar a rentabilidade do portfólio sem sair da renda fixa, fazendo valer a proposição risco versus retorno”.
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Autor: leonardogstos