Selic chega a 14,25% ao ano: o que o mercado achou da decisão do Copom?
O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou nesta quarta-feira (19) a Selic em 1 ponto percentual para o nível de 14,25% ao ano, o maior patamar desde 2016. A reunião foi a segunda sob o comando do novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo.
A decisão não trouxe surpresas e representou a quinta elevação consecutiva da taxa básica de juros brasileira. Em janeiro, a autoridade monetária já havia ampliado a Selic em 1 ponto percentual, projetando mais um ajuste da mesma magnitude em março.
Como o mercado já precificava a decisão, a grande expectativa estava no comunicado da autoridade. Investidores queriam entender melhor os possíveis passos da política monetária nos próximos meses – afinal, em sua última reunião, o Copom não havia deixado nenhum guidance (orientação futura sobre os rumos dos juros) para além de março.
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O comunicado divulgado nesta quarta-feira justificou a elevação da Selic em 1 ponto percentual com base no ambiente externo ainda desafiador, principalmente pela incerteza em relação à política comercial de Donald Trump nos Estados Unidos. No cenário doméstico, o Copom destacou que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma leve moderação no crescimento. Já a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.
“O Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual para 14,25% ao ano e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, destacou em comunicado.
Para a próxima reunião, o Comitê projetou, se confirmado o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude. Em relação ao tamanho total do ciclo de aperto monetário, reforçou que ele será ditado pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação.
Para analistas do mercado, o tom do comunicado veio em tom duro e gerou dúvidas sobre o tamanho exato do aumento da Selic em maio. O efeito imediato da decisão tende a ser uma valorização do real, na visão dos especialistas, dada a ampliação do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, o que tende a atrair fluxos monetários para cá.
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Veja a seguir as primeiras impressões do mercado sobre a decisão do Copom:
Alexandre Dellamura, head de conteúdo da Melver e mestre em economia
No mercado monetário, mais do que o aumento da Selic, a preocupação vinha do teor do comunicado do BC. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) aquém do esperado em 2024 e a desaceleração da economia no quarto trimestre mostram que o aumento da Selic deve seguir em ritmo menor, já que, no atual cenário, o arrefecimento da economia é uma condição para a redução da inflação, que se encontra desancorada. Isso também é corroborado pela valorização do real frente ao dólar nas últimas semanas, o que ajudou a acomodar os juros futuros.
Os juros futuros, aliás, caíram praticamente em todos os prazos. A redução dos prêmios parece demonstrar a percepção de que o mercado já se prepara para o fim do ciclo de alta da Selic.
Para alívio e confirmação generalizada, em seu comunicado, o BC veio em linha com o esperado, informando que, “diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”.
Para finalizar, se o aumento para 14,25% era consenso no mercado, o teto de 15% (como indica o Boletim Focus) para 2025 não é unanimidade. Parte do mercado segue pessimista em relação à política fiscal, no que tange à liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), à isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil e ao aumento do crédito consignado. Algumas casas precificam a Selic em 15,50% já no mês de junho.
Alexandre Espirito Santo, sócio e economista-Chefe da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM
O fato é que o Copom não deu um guidance explícito para a reunião de maio. Interpretamos que agirá de acordo com a evolução da dinâmica da inflação, até porque foi enfatizado no comunicado, como de costume, os desafios fiscais, além da questão externa, que está conturbada e pesa contra, vide decisão do Federal Reserve (Fed), também hoje, de manter as taxas, embora especule eventuais duas reduções ainda este ano, por considerar o estresse atual. com as tarifas de Trump, “transitório”.
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Nossa expectativa, agora, abrange duas possibilidades. A primeira é de que a Selic suba 0,5 ponto percentual em maio. A outra é que esse valor seja dividido em duas fatias de 0,25 ponto percentual, nos encontros de maio e junho. Dessa forma, iremos até 14,75% ao ano e assim permaneceremos até o fim do ano, com Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechando 2025 em 5,3%.
Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos
O comunicado veio com tom duro. Um primeiro destaque, na minha visão, é que eles começam reforçando a preocupação com os Estados Unidos e com as medidas do Donald Trump. O segundo ponto de destaque é uma percepção da preocupação em relação aos números aqui, que mais uma vez fogem da nossa meta. E o terceiro ponto ainda é exatamente esperar a curva conseguir converter para termos uma movimentação.
Como os membros do Copom citam que preços estão reagindo de uma forma dinâmica, eu entendo que há sim uma possibilidade de, na próxima reunião, a gente ter um aumento de juros, mas um aumento menor. De qualquer forma, estamos indo rumo aos 15% até o final do ano.
Para decisão de maio, eu trabalho com uma possibilidade de um aumento de 0,5 ponto percentual. Quando eles falam de dinamismo nos preços, eu vejo isso como o início de uma correção inflacionária aqui.
Eduardo Amorim, especialista de investimentos da Manchester
Agora a principal dúvida é até onde esse aperto monetário pode chegar. Sobre o comunicado, ele basicamente frisou um ambiente externo que permanece desafiador, devido ao atual contexto e à política econômica dos Estados Unidos, sobretudo em torno da política comercial e os efeitos que vão ter nos próximos meses. Esse cenário tem alimentado questionamentos sobre o ritmo de desaceleração, desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed.
Diante da permanência de um ambiente mais adverso para a convergência da inflação, do elevado grau de certeza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário, o Comitê prevê, caso o cenário projetado se confirme, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião. No mercado de juros, foram reduzidas as apostas que a Selic iria ultrapassar 15%, em meio a sinais de desaceleração econômica e menor pessimismo quanto às contas públicas. A queda do dólar para R$ 5,67 e o maior apetite por risco também contribuem para aliviar a pressão sobre a curva.
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Reforço que ainda é necessário aguardar a ata do Copom para compreender de forma mais clara o tom adotado.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg
A decisão em si não foi nenhuma surpresa, uma vez que o Banco Central já havia mencionado na reunião de janeiro que provavelmente elevaria a taxa básica de juros nesse ritmo caso o cenário projetado pelo Comitê se confirmasse. O ponto de dúvida dessa decisão estava muito mais concentrado na comunicação para os próximos encontros. Confirmando nossas expectativas, o Copom antecipou que deverá continuar o ciclo de aperto monetário na próxima reunião com um ajuste de menor magnitude. Assim, reforçamos nossa expectativa de um aumento de 0,5 ponto percentual para 14,75% ao ano no encontro de maio. Para além dessa reunião, o BC reforçou que qualquer ação será tomada levando em consideração o firme compromisso de trazer a inflação para a meta. Acreditamos que o aumento de 0,5 ponto percentual de maio será o último movimento deste ciclo de alta de juros.
Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1
No geral, avaliamos que a comunicação do Copom foi ponderada. Por um lado, é compreensível que, com a taxa de juros real no nível atual, com sinais já evidentes de desaceleração da atividade, e considerando que há as defasagens na transmissão da política monetária, o Copom indique que será mais cauteloso com a condução da política monetária daqui por diante.
Por outro lado, com as projeções de inflação bem acima do centro da meta, a inflação corrente bastante pressionada e as expectativas de inflação mais desancoradas, era importante que o Copom deixasse claro que o ciclo de aperto monetário não está concluído. Além disso, há uma incerteza enorme em relação aos efeitos das políticas do governo Trump sobre a atividade e a inflação global, e isso também advoga por maior prudência por parte do nosso Banco Central.
Dito isso, a grande pergunta a ser respondida nos próximos meses é como o Banco Central reagirá caso a atividade econômica continue enfraquecendo. Acreditamos que a composição atual do Copom é mais sensível à piora da atividade e buscará encerrar o ciclo de alta de juros assim que possível, buscando uma convergência mais lenta da inflação à meta para evitar que o risco de recessão se eleve demasiadamente no curto prazo. Nosso cenário base é que o Copom elevará a taxa de juros em 0,5 ponto percentual em maio e 0,25 ponto percentual em junho, encerrando o ciclo de aperto monetário com a Selic em 15% ao ano.
Marcelo Bolzan, planejador monetário e sócio da The Hill Capital
Eu vejo com “bons olhos” essa sinalização de que vai sim continuar aumentando os juros, mas com uma magnitude menor. Isso porque quando a gente avalia os dados de inflação que saíram recentes, o IPCA de fevereiro, que veio em 1,31%, e o acumulado de 12 meses, está bastante pressionado ainda, acima de 5%. Então, a inflação corrente está muito pressionada. A expectativa futura, que é analisada através do Boletim Focus, também está desancorada. Então, realmente necessita-se, nesse momento, de um Comitê duro que continue subindo os juros, mas em menor magnitude.
Isso porque, no último trimestre do ano passado, já veio um PIB um pouco mais fraco também. Então, justifica esse aumento, só que um aumento em menor magnitude.
Marcos Freitas, analista macroeconômico da AF Invest
No geral, o comunicado veio neutro, mas um pouco mais duro do que o mercado esperava. Sobre o cenário externo, alterou um pouco o texto para ressaltar o aumento da incerteza relacionada principalmente à política comercial, às tarifas e sobre o risco de desaceleração da economia americana, a inflação e o ritmo de crescimento global.
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Sobre o Brasil, veio um pouco mais duro que o mercado, no geral, esperava. Ventilava-se uma ideia de que o Copom iria retirar a simetria altista do balanço, o que não aconteceu. Ressaltava-se também a possibilidade de uma preocupação com a desaceleração mais brusca do crescimento, o que também não ocorreu.
Vimos apenas uma mudança pequena no segundo parágrafo, falando sobre “sinais incipientes” de uma moderação no crescimento, mas que o conjunto dos indicadores ainda apresenta dinamismo. Enfim, um pouco mais duro do que o mercado esperava, por não ressaltar uma desaceleração maior, possivelmente no crescimento, e também não tirar a simetria de riscos.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter
O comunicado do Copom manteve o tom mais duro e o viés altista na análise dos riscos para a inflação, apesar da melhora marginal no cenário, principalmente com a valorização do real. Os sinais de desaceleração da atividade também tiveram menção secundária, e o Comitê continua focado nas expectativas de inflação, que, de fato, continuaram a trajetória de alta desde a última reunião.
Para a próxima decisão, mantemos a expectativa de uma alta de 0,50 ponto percentual, para 14,75% ao ano, encerrando o ciclo de aperto monetário. A continuidade da desaceleração da atividade e o atual patamar de câmbio mais favorável devem contribuir para reverter, em parte, a elevação nas expectativas de inflação
Sidney Lima, analista da Ouro Preto investimentos
A alta dos juros deve desacelerar o consumo e o crédito, impactando a atividade econômica no curto prazo, mas reforça o compromisso com a estabilidade de preços. O efeito imediato tende a ser uma valorização do real, já que os rendimentos mais altos tornam o mercado brasileiro mais atrativo para o capital estrangeiro. No entanto, o custo do crédito mais elevado pode desestimular investimentos produtivos, afetando o crescimento no longo prazo.
Essa decisão vem em um momento em que o Federal Reserve optou por manter os juros entre 4,25% e 4,50%, ampliando o diferencial de taxas entre Brasil e EUA. Esse fator pode favorecer a entrada de capital estrangeiro no País, ajudando a reduzir a volatilidade cambial e a conter a inflação importada. Porém, sem um ambiente fiscal mais equilibrado, os efeitos positivos dessa alta podem ser limitados, exigindo um ajuste mais amplo na política econômica.
Thomas Gibertoni, sócio e portfólio manager da Portofino MFO
O texto do comunicado foi considerado mais duro do que o esperado, principalmente pelo fato de o BC já sinalizar, de forma explícita, que deve promover um novo ajuste na taxa de juros na próxima reunião, ainda que de magnitude menor. Essa postura reforça a disposição da autoridade monetária em manter o combate às pressões inflacionárias, mesmo diante de um cenário global e doméstico desafiador, marcado por incertezas fiscais e volatilidade nos mercados internacionais.
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Do ponto de vista do mercado, essa sinalização clara de continuidade no ciclo de alta da Selic pelo Copom tende a trazer mais previsibilidade para os agentes econômicos. Como resultado, é esperada uma resposta positiva nos juros de prazos mais longos, com possíveis quedas nas taxas futuras, refletindo uma maior confiança na ancoragem das expectativas inflacionárias. Além disso, o dólar pode apresentar uma tendência de desvalorização frente ao real, uma vez que a manutenção de uma política monetária restritiva tende a aumentar o atrativo dos ativos brasileiros para investidores estrangeiros.
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Autor: Beatriz Rocha