Por que 1.000 empresas globais não voltarão à Rússia, a despeito de Trump e Putin


Em meio à aparente mudança de visão do presidente Trump em relação à Rússia, Vladmir Putin ofereceu a oportunidade para as firmas americanas se envolverem novamente na Rússia como uma de suas principais moedas de troca nas negociações de paz, uma aparente “concessão” aos Estados Unidos. Putin fracassará neste último esforço, assim como seus planos militares imperialistas estagnaram e seu exagero econômico implodiu.
“As firmas dos EUA perderam mais de US$ 300 bilhões ao deixar o mercado russo”, declarou enganosamente à CNN na terça-feira (18) Kirill Dmitriev, chefe do fundo soberano da Rússia e um dos principais negociadores de Putin, referindo-se à saída original de mais de 1.000 grandes firmas da Rússia em 2022, após a invasão da Ucrânia por Putin. “Dadas essas perdas pesadas, [o retorno] seria do interesse dos EUA”, afirmou Dmitriev.
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Esses pontos de discussão foram repetidos pela equipe de negociação dos EUA, com o secretário de Estado, Marco Rubio, refletindo sobre as “incríveis oportunidades que existem para fazer parceria com os russos economicamente”.
Há apenas um problema: essas “oportunidades de parceria econômica com os russos” são inexistentes, porque sabe-se que nenhuma das mais de 1.000 firmas que partiram está ansiosa para retornar à Rússia ou aumentar seus negócios lá.
Sabemos disso em primeira mão, porque ajudamos a catalisar o êxodo original em 2022. Imediatamente após a invasão russa da Ucrânia, seu vizinho soberano pacífico, nossa equipe de 50 pesquisadores especializados – com domínio em economia, estratégia e diplomacia global e fluência em 15 idiomas – em conjunto com uma rede de 200 fontes no estilo wiki na Rússia e na Europa, começou a publicar uma classificação do status comercial russo de 1.400 grandes firmas globais.
Trabalhando 24 horas por dia, 7 dias por semana, esse esforço foi amplamente creditado por catalisar o maior êxodo de negócios da história. Permanecemos, em contato constante com os CEOs das maiores firmas do país, aconselhando-os sobre suas respostas russas.
Como regra geral, as firmas procuram investir onde existe o estado de direito, não a lei dos governantes. Nenhuma firma quer investir capital precioso na Rússia enquanto Putin estiver no poder, pois sabe que pode perder a totalidade desse investimento quatro anos depois, com a próxima eleição, ou talvez até antes, dada a instabilidade das relações EUA-Rússia.
Mas ainda mais especificamente para a Rússia, e ao contrário das afirmações de Dmitriev de que as firmas americanas perderam US $ 300 bilhões ao sair, o mercado russo é “liliputiano” para as firmas americanas e economicamente irrelevante.
Mesmo antes de sair, a maioria das firmas não recebia mais de 1% de suas receitas da Rússia; e quaisquer receitas que perderam ao deixar a Rússia foram substituídas muitas vezes por grandes aumentos imediatos em sua avaliação, à medida que os investidores tranquilizados saudaram o alívio do persistente excesso de riscos regulatórios, de reputação e de nacionalização exclusivos de operar na Rússia.
Nenhum acionista está clamando para que as firmas americanas façam negócios na Rússia, assim como nenhum CEO está, e especialmente agora, já que, como até o presidente Trump reconheceu, a economia russa está em queda livre com inflação descontrolada de 20%, fuga de talentos em massa (mais de 1 milhão de russos fugiram), fuga de capitais no valor de US$ 250 bilhões e reservas cambiais diminuindo rapidamente com a hemorragia de todos os setores.
A única coisa que a Rússia tem de valor econômico genuíno são seus depósitos de recursos naturais. Talvez a equipe de negociação de Trump tenha isso em mente – mas poços de petróleo, campos de gás e minas de metais exigem investimentos significativos para serem desenvolvidos, e nenhuma firma americana precisa correr o risco de apostar em Putin quando os EUA já abrigam alguns dos maiores depósitos não desenvolvidos de energia e minerais de terras raras do mundo, todos prontos para serem colhidos. Como tal, Putin precisa do investimento dos EUA muito mais do que as firmas americanas precisam dos recursos naturais russos.
Não importa o que Trump e Putin possam dizer, estamos confiantes de que nenhuma das mais de 1.000 firmas que deixaram a Rússia está animada para retornar. Com poucas firmas dispostas e capazes de investir na Rússia, as “incríveis oportunidades que existem para fazer parceria com os russos economicamente” são tão inexistentes quanto a credibilidade de Putin. Há concessões genuínas a serem conquistadas dos russos, mas oportunidades significativas para os negócios dos EUA não estão entre elas.
- Jeffrey Sonnenfeld é o Professor Lester Crown em Prática de Gestão e Reitor Associado Sênior da Yale School of Management. Steven Tian é o diretor de pesquisa do Yale Chief Executive Leadership Institute.
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Artigo publicado originalmente na Fortune
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Autor: Roberto de Lira