Análise: Não é o momento para um “Fed put” enquanto cenário for de incerteza


O chair do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, enviou mensagens fortes quando sentiu que eram necessárias, indo à televisão para prometer o máximo de apoio à economia diante da pandemia da Covid-19, usando um discurso conciso em 2022 para uma mensagem dura sobre a inflação e entrando em cena para apoiar os mercados monetários após a falência do Silicon Valley Bank em 2023.
Porém, com Powell e o Fed no escuro tanto quanto o resto do mundo sobre aonde o presidente Donald Trump está levando a economia, o chair do banco central norte-americano indicou na sexta-feira que este não é o momento para um “Fed put” – termo de Wall Street para medidas que sustentem os mercados de ações – mesmo com as poupanças das famílias evaporando com riscos reais para a atividade econômica.
“Há muita espera e observação em andamento, inclusive por nós, e isso parece ser a coisa certa a fazer em um momento de elevada incerteza”, disse Powell, deixando claro que o Fed não se apressará em cortar a taxa de juros como faria se houvesse uma crise que exigisse uma resposta óbvia do banco central.
De fato, o crescimento do emprego em março permaneceu forte, segundo dados divulgados na sexta-feira, embora Powell tenha tido o cuidado de observar que os números foram computados antes dos anúncios de tarifas de Trump.
“Não está claro neste momento (…) a trajetória apropriada para a política monetária”, disse ele. “Vamos precisar esperar e ver como isso vai se desenrolar.”
Embora os movimentos dos preços das ações possam afetar a economia ao alterar a poupança das famílias e mudar as expectativas, a dinâmica das primeiras semanas de Trump no cargo criou uma enxurrada de sinais conflitantes tão grande que o Fed, até o momento, não consegue escolher um caminho.
Recentemente, tornou-se uma máxima do banco central agir rápido e com força quando o problema está claro.
Mas, em suas decisões recentes, tem sido igualmente importante para o Fed evitar tomar medidas que depois precisem ser desfeitas. Esse é um risco que o Fed correria se Powell e outros parecessem inclinar-se a favor de cortes nos juros para estabilizar a economia em um momento em que a inflação mais alta e a possível necessidade de manter as taxas mais altas também são uma ameaça.
Choque de outra natureza
O Fed aumentou os juros rapidamente a partir de 2022 pois precisava controlar a inflação, e depois os reduziu em 1 ponto percentual no ano passado, quando a inflação desacelerou.
As autoridades de política monetária agora parecem satisfeitas em esperar, com aumentos de tarifas potencialmente seguidos por outras medidas fiscais e tributárias que podem mudar as perspectivas mais uma vez.
No momento atual, a “primeira tarefa de Powell é eliminar a ideia de que o Fed está prestes a reduzir muito a taxa de juros rapidamente”, disse o ex-vice-chair do Fed e professor de economia de Princeton, Alan Blinder. “Isso não significa que o Fed nunca reduzirá a taxa de juros em resposta a isso. Se isso se transformar em uma recessão, o Fed provavelmente cortará.”
Nenhuma autoridade do Fed jamais admitirá que algo como uma “Fed put” faça parte de seu kit de ferramentas, mas Wall Street acredita em sua existência há quase quatro décadas.
O termo surgiu pela primeira vez como “Greenspan put”, cunhado depois que o ex-chefe do Fed, Alan Greenspan, cortou os juros e injetou liquidez após a famosa quebra do mercado acionário em outubro de 1987.
Os sucessivos líderes do Fed responderam às crises que se seguiram com outros grandes movimentos que ajudaram a estancar as perdas do mercado ou até mesmo a revertê-las.
“Quando enfrentamos uma inflação alta, foi doloroso para o país… mas sabíamos o que precisávamos fazer” e começamos a aumentar a taxa de juros para conter a demanda e as pressões sobre os preços, disse Powell.
“Durante a pandemia, ficou muito clara a direção que precisávamos tomar, com força, e foi o que fizemos”, com cortes rápidos nos juros e uma série de outros programas para restaurar o crescimento e o emprego.
O que está ocorrendo agora é um choque não decorrente de doenças, cadeias de oferta obstruídas ou embargos de petróleo, como aconteceu na década de 1970, mas de uma decisão política da Casa Branca de taxar as importações em níveis muito além do que os analistas esperavam, e de uma forma que provocou retaliação da China, com a expectativa de mais medidas de outros países.
A opinião crescente, entretanto, é que as tarifas de Trump prejudicarão o crescimento, se não desencadearem uma recessão definitiva.
Sem pressa
A taxa tarifária média sobre os cerca de US$3 trilhões de importações anuais dos EUA deve agora aumentar talvez dez vezes, de cerca de 2,5% para 25% ou mais.
O impacto inicial deve ser sentido nos preços, uma vez que os produtores e importadores repassam pelo menos parte desses custos aos consumidores.
Economistas preveem que esses preços mais altos se traduzirão, ao longo do ano, em uma inflação geral talvez 1 ponto percentual ou mais acima do que seria sem as tarifas, e muito mais distante da meta de 2% do Fed.
À medida que as famílias e as firmas se ajustam aos preços mais altos, espera-se que ocorra também uma desaceleração da demanda – uma combinação que, no mínimo, sugere uma estagflação.
Powell e outras autoridades do Fed não acreditam que ainda estejam em um ponto em que sua capacidade de atingir a meta de inflação esteja em conflito direto com o objetivo de manter o desemprego baixo.
“Não estamos em uma situação como a da década de 1970”, disse Powell, quando a inflação de dois dígitos coincidiu com um desemprego relativamente alto.
“Mas os efeitos na margem, neste momento, seriam uma inflação mais alta e talvez um desemprego mais alto”, disse Powell. “Isso é difícil para um banco central”, já que os dois desafios exigem soluções diferentes.
Até que fique mais claro qual direção a economia está tomando e com que velocidade, “parece que não precisamos ter pressa”.
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Autor: Paulo Barros