Após RJ, investidores de debêntures e bonds vão ter de negociar com a Ambipar para evitar perdas
Agora que o caldo da recuperação judicial da Ambipar entornou de verdade, o que acontece com os detentores de títulos do grupo? Só para relembrar, a companhia de soluções ambientais formalizou os pedidos de RJ tanto no Brasil quanto nos EUA na segunda-feira (20). A resposta é: vão ter de entrar na mesa de negociações com a companhia junto com outros credores, em meio à estruturação do plano de RJ.
A partir da solicitação do processo, todas as dívidas, incluindo debêntures e bonds (papéis em dólar ou outra moeda emitidos no exterior), passam a fazer parte do processo da RJ, ou seja, a firma já está protegida contra qualquer forma de cobrança ou vencimento antecipado, explica o especialista Luis Carmona, líder da equipe de RJ e falências no Costa Tavares Paes Advogados.
O histórico de RJs recentes não tem sido muito favorável aos investidores. Os debenturistas, por exemplo, tiveram que amargar reduções entre 50% e mais de 90% do valor de face dos títulos, em processos como os da Americanas, Unigel e Cervejaria Petrópolis.
Os pedidos de recuperação impactaram ainda as ações da Ambipar na B3. Os papéis lideram em volume negociado no pregão desta terça-feira (21), com um giro monetário de mais de R$ 77 milhões. A ação ON apresenta um recuo de 31% negociada a R$ 0,39 às 16h20.
Já existe uma movimentação no mercado de gestoras montando estruturas para reunir detentores de títulos de dívida da Ambipar, como estratégia de negociação conjunta. Um veículo único, como um fundo de investimento, permitiria que um gestor qualificado participasse ativamente de assembleias de credores.
A estratégia parte da premissa que a atuação de um especialista em crédito assessorado por advogados pode ter mais chance de reduzir eventuais perdas durante a reestruturação. Para um investidor pessoa física, acompanhar sozinho o processo de negociação pode ser muito complexo e pouco eficaz. Carmona explica ainda que a melhor forma de reduzir as perdas é mesmo pela negociação.
Alguns títulos com garantias podem ficar de fora do processo se a Justiça entender que os credores podem executar essas garantias, caso dos certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e do agronegócio (CRA). Mas, segundo o advogado, nem sempre isso ocorre.
O problema é que se o tribunal entender que executar esse lastro compromete a viabilidade do negócio, pode vetar a execução. Esse pode ser o caso dos recebíveis. Ativos físicos, como imóveis ou terrenos, também costumam entrar na proteção da RJ.
Segundo o documento entregue à Justiça pela Ambipar, o endividamento total do grupo — considerando as obrigações financeiras e operacionais, nacionais e externas — chega a R$ 10,7 bilhões. Do total, R$ 7,86 bilhões vão entrar no plano de recuperação judicial no Brasil.
Desses quase R$ 8 bilhões os bonds internacionais somam R$ 2,93 bilhões e as debêntures domésticas, R$ 1,82 bilhão. Outra parte da dívida, ou R$ 1,61 bilhão, está na mão de grandes bancos, como Bradesco, Santander, Banco do Brasil, Deutsche Bank e mais quatro instituições. O restante se refere a fornecedores, prestadores de serviços, contratos, despesas operacionais e passivos trabalhistas.
O tamanho da dívida da Ambipar tem se tornado cada vez mais pesado diante do ambiente de juros elevados. Mais de 90% dos títulos estão expostos aos juros de curto prazo, com remuneração atrelada ao CDI, atualmente em 15% ao ano, mais um prêmio de risco. Apenas no primeiro semestre de 2025, a companhia desembolsou com a amortização de empréstimos R$ 1,46 bilhão, mas captou R$ 3,26 bilhões com novas emissões.
“A RJ era inevitável, porque a trajetória de endividamento estava muito perigosa, a dívida só aumentava e com um custo de carrego muito alto”, afirma o CEO da Excellance, Max Mustrangi. Segundo o especialista em reestruturação de firmas, os resultados do grupo mostram um prejuízo recorrente há vários trimestres.
Mustrangi lembra que a Ambipar realizou dezenas de aquisições nos últimos cinco anos, sem se preocupar com a margem e a geração de caixa. Essa expansão acelerada, que foi uma das raízes do endividamento, pode se tornar uma notícia relativamente positiva para os credores, dentro da ótica da recuperação judicial. Isso porque a companhia tem uma lista considerável de ativos que podem se tornar uma forma de levantar recursos e reduzir o custo operacional.
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Autor: Sérgio Tauhata