Banco Central sem autonomia paga a conta com juros maiores, alerta Campos Neto
A autonomia do Banco Central é uma pauta recorrente — e é o que proporciona um custo mais baixo para atingir as metas de política monetária e combater a inflação no Brasil. É o que afirma o vice-chairman do Nubank e ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Primeiro presidente do Banco Central brasileiro com autonomia, Campos Neto enfrentou uma situação inédita: comandar a autoridade monetária durante o mandato de um governo que não o havia indicado, precisando conciliar a missão de controlar a inflação com as pressões políticas.
“Quando existe um ataque à autonomia do BC, isso enfraquece o canal da política monetária, o que faz com que tenhamos de realizar um movimento maior nos juros para garantir o mesmo objetivo”, disse Campos Neto, que participou nesta quinta-feira (4) do evento Fronteiras do Investimento, realizado pela Nu Asset em parceria com o InvestNews.
Campos Neto também compartilhou sua visão sobre o endividamento no mundo. Para ele, a dívida global já cobrou seu preço após o crescimento expressivo no período da pandemia. Nos mercados desenvolvidos, chegou a 10% do PIB; nos países mais pobres, a 4%. E isso em cima de números que já vinham piorando antes mesmo de 2020.
A partir daí, os impactos deixaram de ser apenas fiscais e passaram a ser também monetários. Ou seja: governos gastando muito mais, ao mesmo tempo em que os bancos centrais cortaram fortemente os juros. O efeito colateral foi claro: a disparada da inflação.
“Depois disso, não só a dívida ficou maior, como os juros tiveram de subir muito, o que fez o custo de rolagem [da dívida] aumentar, sugando liquidez de outros lugares”, explicou. “Começaram os impactos mais graves na economia, com déficit maior.”
A solução para equilibrar as contas seria aumentar impostos ou cortar gastos — e as experiências globais têm apontado para um crescimento da arrecadação. “Temos um equilíbrio de médio prazo que não parece ser estável, e isso se reflete nas taxas de juros longas [contratos futuros negociados em bolsa com vencimento de maior prazo]”, afirmou. “O desafio é crescer a partir daqui.”
Juros nos EUA
Campos Neto também destacou outros temas que estão no radar dos investidores. Um deles é a política monetária nos Estados Unidos. Para ele, a sinalização de corte de juros em setembro é clara, apoiada por dados que apontam enfraquecimento da economia americana — uma visão alinhada à maioria das apostas do mercado para a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) neste mês nos dias 16 e 17.
O ex-presidente do BC comentou ainda o efeito das tarifas comerciais impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra diversos países. Segundo ele, olhando o histórico de tarifas, é fato que há um tratamento assimétrico, em que os americanos cobram menos do que os países costumam cobrar deles.
Ainda assim, o nível de incerteza durante o período em que essa discussão esteve em pauta só aumentou — e toda incerteza, seja qual for, é negativa. “Se você não sabe a tarifa que vai pagar, você freia o seu investimento”, declarou.
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Autor: Juliana Machado