Um grupo de oito traders, confinados por uma semana em uma casa em São Roque (SP), operando o mercado em tempo real, enfrentando desafios psicológicos, físicos e emocionais. Essa é a proposta do Trade da Vida Real, reality show idealizado por Nelson Lee, especialista em PNL (Programação Neurolinguística) e comportamento emocional no trading.
O projeto, agora em sua segunda temporada, vai além de mostrar operações e resultados. A intenção é expor, de forma prática e intensa, os padrões emocionais que sabotam a consistência de traders em busca de performance.
“Eu defendo, por exemplo, que não existe controle emocional. Se fala muito nisso, mas na prática isso não se viabiliza”, afirma Lee.
A dor que o gráfico não mostra
A ideia do reality nasceu da própria vivência de Lee como trader e mentor. Ele percebeu que os principais obstáculos enfrentados por operadores não estavam apenas na técnica ou na gestão de risco, mas em bloqueios emocionais invisíveis que se repetem.
“O trader está muito sozinho em casa e, às vezes, ele não tem a quem recorrer. A família não entende o que ele está sentindo. Eu trouxe eles para cá para que passem essa dor ao vivo, e para mostrar que vai muito além de dizer frases positivas ou repetir que você tem que ser disciplinado”, explica.
Ao reunir participantes com diferentes perfis — servidor público, empresário, autônomo, trader iniciante — o programa busca gerar identificação com a realidade de milhares de operadores espalhados pelo país. “A gente só repete os mesmos padrões de comportamento em cenários diferentes, seja como trader, pai, marido ou profissional”, completa.
Dinâmicas extremas e gatilhos reais
A estrutura da casa envolve mentoria com traders renomados, como Mauro Botto, Felippe Aranha, Bruno Marques e Vasco Mamede, além de sessões práticas de autoconhecimento. O cotidiano é intenso: operações pela manhã, visitas de mentores à tarde e dinâmicas de alto impacto emocional à noite.
Entre os desafios, estão banhos em piscina gelada às 6h da manhã, exercícios físicos e práticas de imersão com fogo, todos cuidadosamente estruturados para expor medos, padrões e crenças limitantes.
“O fogo por si só não significa nada para a PNL. O que vale é o significado que você dá a ele. Pode ser medo, cura ou libertação. Nosso papel aqui é fazer com que o participante enxergue isso e ressignifique”, explica Lee.
Além da técnica: a mente do trader no foco
Para participar, os selecionados passam por entrevistas e investem financeiramente no processo — um filtro que, segundo Lee, garante comprometimento real com a transformação.
“Não basta dizer que quer. O cara tem que estar disposto a investir tempo, dinheiro e energia. As dinâmicas aqui são de altíssimo impacto”, diz.
A rotina proposta, que teoricamente inclui mercado pela manhã, mentorias à tarde e dinâmicas à noite, frequentemente é quebrada propositalmente, com o intuito de tirar os participantes da zona de conforto. “Eu quero que ele passe pela dor dele. Só assim ele se dá conta do padrão automático que antes não enxergava”, afirma.
Feridas emocionais e bloqueios invisíveis
Durante as gravações, Lee relata que padrões como medo de errar, ansiedade por resultados rápidos e procrastinação surgem com frequência. Mas, na visão dele, a raiz desses comportamentos vai além do rótulo.
“Não é indisciplina. Tem uma dor por trás disso. Às vezes, o cara tem tanto medo de errar que prefere dizer que é perfeccionista. Ou então, diz que procrastina, mas na verdade tem pânico de falhar”, destaca.
Uma das dinâmicas envolveu os participantes carregarem um “caderno de pau” — um pedaço de madeira onde deveriam escrever suas dores emocionais, como fracasso ou incompetência, e levá-lo consigo o dia todo.
“A dor está com você o tempo inteiro, só que você finge que ela não existe. Aqui, a gente faz você olhar para ela”, diz Lee.
Evolução emocional antes do operacional
Diferente da primeira temporada, que teve foco maior em mentorias, o segundo ciclo intensificou as práticas voltadas para o emocional. Segundo Lee, a evolução técnica de um trader só ocorre após uma transformação mental profunda.
“Se você não estiver emocionalmente preparado, nem consegue estudar direito. Tem gente que quer dar certo rápido, mas não lida bem com pressão ou com as perdas. E aí não adianta falar de técnica”, reforça.
Durante o processo, alguns participantes superaram bloqueios antigos e conseguiram operar com mais clareza — mesmo após momentos de tensão.
“Teve participante que disse: ‘Pela primeira vez, eu segurei 840 pontos sem nem tremer’. E isso não foi porque falamos para ele segurar. Foi porque ele passou pelo processo emocional antes”, relata.
Veja o que aconteceu na primera temporada:
Terceira temporada a caminho?
Apesar de ter dito no passado que não faria uma nova edição, Nelson Lee admite que o projeto se tornou parte de sua missão pessoal.
“Eu entendo que isso é minha missão, é meu propósito, é ajudar outras pessoas”, afirma.
Ele destaca que o reality evoluiu muito da primeira para a segunda temporada, com mais foco em dinâmicas emocionais e autoconhecimento. Para Lee, cada edição é uma oportunidade de aprofundar ainda mais o processo de transformação dos participantes.
Sobre uma possível terceira temporada, ele deixa no ar. “Hoje é mais fácil eu dizer que sim do que dizer que não. Se for para fazer, vai ser ainda melhor do que essa”, conclui.
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Autor: Bruno Nadai
