Braskem (BRKM5) na mínima em 15 anos: vale a pena investir ou o barato sai caro?

O preço das ações da Braskem (BRKM5) chama a atenção de investidores, principalmente após atingir R$ 6,27 na sexta-feira (10), menor patamar desde o dia 28 de maio de 2010, e se manter próximo daí na segunda-feira (13) – a R$ 6,52. O papel sofre pressão diante de incertezas sobre mudança no controle acionário e uma provável reestruturação da dívida após a firma ficar três anos seguidos no prejuízo. Analistas alertam que nem todo preço baixo vale a pena, por isso, a tese de investimento na petroquímica continua em xeque.
O histórico da companhia adiciona complexidade à análise do acionista. O último ano em que a Braskem reportou lucro líquido foi em 2021, quando chegou a R$ 14 bilhões. Desde então, a firma vem de uma série de três anos amargos, com prejuízo de R$ 336 milhões em 2022, de R$ 4,5 bilhões em 2023 e de R$ 11,3 bilhões em 2024.
No balanço mais recente, do segundo trimestre de 2025 (2T25), a Braskem registrou perda de R$ 267 milhões, uma redução de 81% em relação ao prejuízo do mesmo período do ano passado – veja os detalhes aqui.
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As baixas nos últimos anos aconteceram em um cenário de custos elevados das matérias-primas e preços baixos dos principais químicos vendidos pela firma. Para a Fitch, agência de classificação e risco, a Braskem passa por um momento tenso, de liquidez comprometida, reestruturação da dívida e fraca geração de caixa.
Rating, preços baixos do setor e diluição de ações impactam BRKM5
Para a Fitch, a Braskem pode já não ter caixa suficiente no próximo ano para se preparar para os vencimentos de 2028. Isso reflete um fluxo de caixa livre (FCF) projetado negativo em R$ 3,5 bilhões em 2025 e R$ 2,0 bilhões negativos em 2026, além de saídas de caixa de R$ 1,8 bilhão e R$ 1,1 bilhão, respectivamente, relacionadas ao incidente de Alagoas – relembre o caso.
Mesmo que o fluxo de caixa seja neutro em 2026, a liquidez seria marginalmente estendida, ainda insuficiente para cobrir os títulos que vencem em 2028.
“Acreditamos que os spreads (diferença entre preços de compra e venda) petroquímicos permanecerão baixos até 2028, fazendo com que a alavancagem líquida da Braskem continue elevada e compatível com ratings de crédito nas categorias ‘B/CCC’, podendo superar as 10 vezes em 2025 e 2026”, dizem Marcelo Pappiani, Adriana Eraso, Rogelio Gonzalez e Martha Rocha, que assinam o relatório.
Com isso, a Fitch rebaixou o rating da Braskem de BB- para CCC+. A nova classificação indica que a companhia está com um risco de inadimplência muito alto. A petroquímica encerrou o segundo trimestre de 2025 com dívida bruta de R$ 11 bilhões e alavancagem, que mede o nível de endividamento sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), de 10,59 vezes.
Para o BTG Pactual, a petroquímica permanece em uma posição difícil, com os spreads petroquímicos sem sinais de recuperação e o valor patrimonial sendo constantemente corroído pelo aumento das despesas financeiras. Os analistas explicam que a contratação dos assessores monetários sugere um possível aumento de capital via conversão de dívida. O banco estima que 25% dos compromissos da Braskem, cerca de US$ 1,7 bilhão, seria convertido em capital acionário.
Desse modo, o BTG prevê que a Petrobras (PETR3; PETR4) faria outra injeção de US$ 1,7 bilhão para evitar a sua diluição acionária. Atualmente, a estatal petroleira possui uma participação acionária de 47% do capital votante na Braskem. A controladora da petroquímica é a Novonor, ex-Odebrecht, com 50,1%.
“Sob essa estrutura, a alavancagem da Braskem cairia para 2,6 vezes na relação dívida líquida/Ebitda até 2026, com base em nossas estimativas, criando espaço para se beneficiar caso os spreads melhorem”, afirmam Luiz Carvalho, Gustavo Cunha, Thomas Teny e Renan Tiburcio.
Ainda assim, mesmo partindo desse ponto, a situação da firma não estaria totalmente resolvida. Na visão do banco, o vencimento mais crítico da Braskem ocorre em 2028. Embora os detentores de títulos possam, em teoria, esperar até lá, o enfraquecimento do perfil monetário da firma aumenta o risco de enfrentar esse desafio em uma posição muito mais fraca.
- Confira também: Crise na Braskem pode reduzir dividendos da Petrobras
“Um fator decisivo virá da renegociação do Crédito Rotativo (RCF), que consideramos crucial para a preservação da liquidez de curto prazo, embora isso possa se mostrar difícil, dados os sucessivos rebaixamentos de crédito sofridos pela Braskem. É importante ressaltar que a Braskem Idesa permanece sem recurso, mas isso oferece pouco alívio no nível consolidado”, salientam os analistas do BTG.
Troca de controle na Braskem também afeta a tese da firma
O mercado também pauta uma possível mudança no controle acionário da companhia. Segundo informações do Broadcast, os bancos credores da Novonor estão dispostos a se tornar acionistas da petroquímica e assumir seu controle ao lado da Petrobras nos próximos 60 dias.

O movimento pode ser feito mesmo sem consenso com a Novonor, ou seja, não descartam assumir essas ações, que foram dadas em garantia por empréstimos concedidos à antiga Odebrecht. Os bancos credores — Bradesco (BBDC3; BBDC4), Itaú (ITUB3; ITUB4), Santander, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco do Brasil (BBAS3) — contrataram a IG4 para fazer a gestão de um fundo onde as ações seriam alocadas, tendo a Petrobras como co-controladora.
Em nota, a Braskem reiterou não ter conhecimento das informações. Novonor e Petrobras também negaram qualquer negociação.
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Em meio a esses pontos, a equipe do Citi diz que a discussão sobre o potencial aumento de capital e a troca de controle são complexas de comentar devido à falta de informações, visto que se trata de uma discussão que ocorre entre os principais acionistas da firma. Para o Citi, a Petrobras não deve assumir o controle da companhia, pois terá que adicionar a dívida da Braskem ao seu balanço, o que deve limitar a distribuição de dividendos da petroleira, importantes para o governo federal fechar o ano na meta fiscal.
Em relação ao endividamento, o banco ressalta que não vê um problema de liquidez na firma ou a necessidade de uma renegociação neste momento, já que a Braskem ainda tem de dois a três anos até o primeiro vencimento.
Medidas contra o tarifaço podem ajudar a petroquímica
O Citi prevê pontos positivos com a aplicação de medidas de defesa comercial do governo brasileiro, como o avanço nas discussões antidumping – contra a estratégia de aplicar preços abaixo do custo para eliminar a concorrência – e aumento das tarifas de importação de produtos petroquímicos.
Outro fator vem da aprovação do Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (PRESIQ), programa do governo federal retomado em 2023. A iniciativa prevê incentivos fiscais para investimentos no setor petroquímico.
“Com a aprovação do projeto de lei, acreditamos que a Braskem poderá aumentar sua competitividade no Brasil por meio do aumento das margens e da produção de polietileno à base de etano, em vez de nafta. Embora o tema não tenha sido pautado na Câmara e no Senado, vemos o projeto como uma luz no fim do túnel para a firma”, reforçam Gabriel Barra, Pedro Gama e Andrés Cardona, do Citi.
O que fazer com as ações da Braskem?
Em meio aos desafios e incertezas, os analistas indicam que o investidor deve tomar cuidado. Thiago Costa Azevedo, sócio-fundador da Guardian Capital, diz que não vale a pena comprar ações da Braskem agora. Para ele, a entrada no ativo só vale para especular com pouco capital.
“Pensando em investimento de longo prazo e nas péssimas projeções da companhia para ano que vem, não vale o risco. O Brasil tem firmas melhores, mais sólidas e com situações financeiras mais saudáveis”, diz Azevedo.
A equipe do UBS BB tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 10 para o fim de 2026, alta de 53,37% na comparação com o fechamento de segunda-feira (13), quando a ação encerrou o pregão a R$ 6,52. O banco destaca que uma melhora de ganhos com margens está prevista somente para 2028. Desse modo, o UBS BB reforça que as perspectivas para as ações BRKM5 não são positivas após o papel bater o menor preço em 15 anos.
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O BTG tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 11 para os próximos 12 meses, alta de 68,71% na comparação com o fechamento de ontem. Segundo o banco, o viés de neutralidade decorre da diluição acionária que o investidor deve passar, pois tal caminho parece ser a única resolução para a situação da firma.
O Citi reforça a tese de que o investidor não deve comprar o ativo. O banco tem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 8 para os próximos 12 meses, alta de 22,70% na comparação com o último fechamento. Os analistas possuem previsões baixas de volume de vendas e de spreads no mercado petroquímico.
Para o terceiro trimestre de 2025, o Citi projeta um Ebitda ajustado, que mede o desempenho operacional, de US$ 99 milhões, alta de 31% no trimestre, mas queda de 77% em um ano. A receita líquida da Braskem (BRKM5) deve alcançar US$ 3,1 bilhões (queda de 18% em 12 meses), com prejuízo líquido estimado em US$ 61 milhões. O banco também prevê redução no capital de giro, impulsionada por maior eficiência e menores estoques.
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Autor: Bruno Andrade