Chevron, gigante do petróleo, tenta equilibrar negócios e política no confronto entre Trump e Maduro

Quando a Chevron obteve uma nova licença para perfurar na Venezuela, celebrou o retorno a uma das regiões petrolíferas mais ricas do mundo, onde operava havia mais de um século. Três meses depois, a firma está em apuros.
O governo Trump promoveu a maior mobilização militar americana no Caribe desde os anos 1980 para exercer pressão sobre o homem-forte venezuelano Nicolás Maduro. Os EUA realizaram ataques aéreos contra barcos supostamente ligados ao tráfico de drogas, matando dezenas de pessoas. Alvos em terra podem ser os próximos, disse o presidente Trump.
Para a Chevron e suas joint ventures, que empregam cerca de 3.000 pessoas no país latino-americano, a situação tensa é um lembrete dos perigos de operar em um Estado autoritário na mira de Washington. Bombardeiros B-52 agora sobrevoam águas onde navegam seus petroleiros.
“Nosso principal objetivo é a segurança do nosso pessoal, das comunidades onde operamos, do meio ambiente e da integridade dos ativos das nossas joint ventures”, disse um porta-voz da Chevron. Ele encaminhou quaisquer perguntas sobre a situação de segurança na Venezuela ao governo dos EUA.
O diretor-presidente Mike Wirth orquestrou uma campanha de anos para manter a Venezuela aberta à produção de petróleo. Ele disse a altos funcionários dos EUA que, se sua firma não pudesse bombear petróleo no país, a China o faria e reivindicaria as riquezas petrolíferas da região.
Em meio à incerteza sobre a situação da licença da Chevron no início deste ano, a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, visitou Pequim em missão para reforçar os laços econômicos com a China, a maior compradora do petróleo bruto do país.
Wirth passou boa parte do verão fazendo lobby por uma extensão da licença da Chevron para perfurar na Venezuela depois que o governo Trump revogou a autorização. Seu argumento — de que a saída da firma poderia reduzir a influência americana na região — ecoou junto à equipe de Trump e superou a oposição de linha-dura nos EUA determinada a derrubar Maduro.
A Chevron há muito calcula que tem meios e resiliência para sobreviver às mudanças de governo tanto em Caracas quanto em Washington. A firma manteve o compromisso de operar na Venezuela mesmo depois de a Exxon Mobil e a ConocoPhillips terem saído quando seus ativos foram nacionalizados.
Wirth e a Chevron conhecem bem os riscos. O regime de Maduro tomou e libertou vários reféns americanos, incluindo dois executivos da Chevron por dois meses em 2018. Prendeu pelo menos três ex-presidentes da petroleira estatal venezuelana sob acusações de corrupção — um deles morreu sob custódia — e buscou a extradição de outro a partir da Itália. Em 2017, a Venezuela prendeu seis executivos da Citgo por quase cinco anos.
“Sem dúvida, este é um momento difícil para a Chevron”, disse Francisco Monaldi, diretor do programa de energia para a América Latina no Baker Institute, da Rice University. “Imagino que o pessoal da Chevron em Caracas esteja muito nervoso.”
A Repsol, da Espanha, a Eni, da Itália, e um punhado de outras firmas perderam suas licenças para a Venezuela no início deste ano. A produção da Chevron no país historicamente representou menos de 10% de sua produção mundial, e a Venezuela respondeu por 3% de seus US$ 31,5 bilhões de fluxo de caixa operacional no ano passado.
Os EUA mantêm sanções que proíbem firmas de negociar petróleo venezuelano; a licença da Chevron é essencialmente uma isenção à regra. Trump advertiu que imporá tarifas pesadas a países que comprem petróleo de Caracas.
Ao mesmo tempo, a Chevron tem enfrentado anos de críticas por, ainda que indiretamente, ajudar a manter Maduro no poder.
“O que se vê é um conflito entre os interesses de uma petroleira e os dos Estados Unidos”, disse Elliott Abrams, que foi o principal enviado dos EUA para a Venezuela durante o primeiro governo Trump.
Maduro, afirmou ele, pode dizer aos seus eleitores que o acordo com a Chevron mostra que os EUA não estão falando sério em sua postura anti-Maduro. “Isso mina o argumento político que os Estados Unidos estão fazendo”, acrescentou Abrams.
A Chevron disse que opera globalmente em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis ao seu negócio, incluindo o arcabouço de sanções dos EUA na Venezuela. “Acreditamos que nossa presença continua sendo uma força estabilizadora para a economia local, a região e a segurança energética dos EUA”, disse o porta-voz da firma.
Segundo pessoas próximas ao governo venezuelano, a Chevron está entregando ao regime de Maduro cerca de metade de sua produção de petróleo no país como pagamento sob a nova licença. Dados de rastreamento de navios da firma de inteligência de mercado Kpler mostram que as exportações de petróleo da Venezuela para os EUA caíram para cerca de 133 mil barris por dia em setembro, ante cerca de 300 mil em dezembro, quando a licença anterior estava em vigor.
Grande parte da fatia venezuelana acaba na China por meio de vendas no mercado negro, de acordo com os dados da Kpler, que também mostram que as exportações venezuelanas para a China aumentaram nos últimos meses e os embarques totais se mantiveram estáveis.
Rodríguez, a vice-presidente, vem trabalhando com a China para eliminar intermediários e permitir que o petróleo chegue diretamente à Ásia. Mas boa parte do óleo importado ainda chega ao mercado com grandes descontos, segundo pessoas próximas ao governo Maduro. O regime paga bilhões em empréstimos da China com petróleo barato.
“Esse é um arranjo muito ineficiente para Maduro, num momento em que ele precisa desesperadamente de dinheiro fresco para tentar construir capacidades na Venezuela”, disse José Ignacio Hernández, professor de Direito, consultor e especialista em dívida pública na Aurora Macro Strategies.
O primeiro governo Trump buscou reduzir as operações da Chevron na Venezuela como parte de uma campanha de “pressão máxima” contra o governo de Maduro, que mergulhou o país em turbulência econômica. Maduro resistiu à pressão e, no fim de 2022, o governo Biden permitiu o retorno da Chevron. Quando Trump voltou ao cargo, revogou novamente a licença, antes de restabelecê-la em julho.
Acredita-se que os termos da nova licença da Chevron — que proíbe pagamentos em dinheiro ao governo Maduro — sejam menos lucrativos para o regime do que os da autorização na era Biden.

A licença anterior permitia à Chevron vender todo o petróleo que extraía, e os recursos da Venezuela eram canalizados por bancos privados para a economia local. Assessores do presidente Joe Biden disseram, na época, que o arranjo fazia parte de um esforço para estabilizar a combalida economia do país e reduzir o êxodo de venezuelanos. Também integrou uma tentativa fracassada de induzir Caracas a realizar eleições livres e justas.
O governo de Maduro recebeu entre US$ 1,8 bilhão e US$ 2,2 bilhões vinculados a atividades petrolíferas estrangeiras licenciadas tanto em 2023 quanto em 2024, segundo estimativas de Hernández, da Aurora. A Chevron respondeu pela maior parte dessa receita.
Por ora, a Venezuela quer que a Chevron continue bombeando.
Desesperado para atrair investidores internacionais, o governo de Caracas tem valorizado o fato de que as ambições da firma frequentemente a colocam em choque com a política externa dos EUA e não enxerga a Chevron como alinhada a Washington, disse uma pessoa a par do pensamento do governo venezuelano.
David Goldwyn, chefe da Goldwyn Global Strategies e ex-funcionário do governo Obama, disse que cortar a fonte de receita “relativamente desprezível” da produção da Chevron na Venezuela não derrubaria Maduro nem levaria o regime à mesa de negociação.
“Isso só criará um problema diferente, que é a influência estrangeira”, afirmou. “Se sairmos, alguém entrará.”
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: The Wall Street Journal
