Como funciona o novo programa habitacional do governo para a classe média, e quando é mais vantajoso que outras opções?
Para muitas famílias de classe média, comprar a casa própria ainda parece um sonho distante. Entre aluguéis que consomem boa parte do salário e imóveis que ficam mais caros a cada visita a plantões de vendas, rondas entre construtoras ou pesquisas em sites de anúncio, é fácil sentir que o sonho está sempre fora de alcance. Imagine um casal que ganha juntos R$ 10 mil por mês: mesmo com planejamento, juntar a entrada de um apartamento de R$ 400 mil, por exemplo, pode levar anos. Para imóveis maiores, acima de R$ 1 milhão, essa dificuldade se torna ainda mais evidente.
O governo federal anunciou mudanças no financiamento imobiliário que devem abrir espaço justamente para esse público. Pelo novo modelo, financiamentos de imóveis de até R$ 2,25 milhões poderão ser realizados pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), com até 80% do valor do imóvel financiado, um aumento em relação aos 70% que eram praticados até novembro de 2024. A taxa de juros chega a 12% ao ano, abaixo da Selic atual, que está em 15% ao ano, tornando o crédito mais acessível do que no mercado tradicional.
O novo modelo também altera a forma como os recursos da poupança são usados no crédito imobiliário. Hoje, 65% dos depósitos captados pela caderneta de poupança são obrigatoriamente destinados a financiamentos habitacionais, 15% podem ser usados livremente pelos bancos e 20% ficam retidos no Banco Central (depósitos compulsórios).
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Com a mudança, parte desses recursos retidos poderá ser liberada gradualmente, aumentando a disponibilidade de crédito. O Banco Central estima que o novo modelo viabilize R$ 111 bilhões no primeiro ano, R$ 52,4 bilhões a mais do que seria possível com o modelo anterior, incluindo R$ 36,9 bilhões imediatamente disponíveis para financiamento habitacional.
Segundo o Ministério das Cidades, as mudanças devem permitir que a Caixa Econômica Federal financie até 80 mil imóveis para a classe média, movimentando também o setor de construção civil e ajudando a gerar empregos. “Essa medida atende a uma faixa da população que estava sem acesso a crédito habitacional. Hoje, as famílias nas faixas de renda 1, 2, 3 e 4, que vão até R$ 12 mil são atendidas pelo Minha Casa Minha Vida. Acima disso, as pessoas estavam sem alternativas. A não ser que ganhem muito bem para suportar juros de mercado”, disse o ministro das Cidades, Jader Filho, no lançamento da nova linha de crédito, em outubro.
| Informação | Regras |
|---|---|
| Faixa de renda | Famílias com renda mensal de R$ 12 mil a R$ 20 mil |
| Valor do imóvel | Até R$ 2,25 milhões |
| Financiamento | Até 80% do valor do imóvel |
| Juros | 12% ao ano |
| Entrada mínima | 20% do valor do imóvel |
| Parcelas | Variam conforme prazo e condições do financiamento |
| Quem pode participar | Famílias de classe média com capacidade de pagamento comprovada |
Programa deve aquecer mercado imobiliário
José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), avalia que, ao oferecer juros menores e prazos mais longos, o programa deve ampliar a capacidade de compra da classe média.
“Isso vai colocar muitas pessoas num mercado que antes era inacessível. E com mais liquidez, principalmente nos imóveis usados, a procura por imóveis novos tende a crescer, o que deve beneficiar a construção civil”, projeta.
De acordo com Neto, o mercado espera que a venda de imóveis, sobretudo acima de R$ 500 mil, aumente. “Antes, a taxa de juros era um obstáculo: dificilmente alguém conseguia financiamento abaixo de 14%. Com a taxa a 12%, muitas famílias já passam a ter chance de comprar, especialmente quem tem renda familiar entre R$ 12 mil e R$ 20 mil. Ainda não há projeção concreta de crescimento do mercado, mas a expectativa é que haja um aquecimento nas vendas”, diz.
O aumento da demanda também tende a estimular a produção, segundo Juan Garcia, sócio e CEO da GMV Incorporadora e Construtora. É que construtoras e incorporadoras podem antecipar lançamentos ou retomar projetos parados, movimentando empregos e toda a cadeia de insumos e serviços ligados à construção civil. Os impactos, no entanto, não são uniformes. Cidades com terrenos disponíveis e processos de licenciamento mais ágeis devem sentir os efeitos de forma mais intensa, enquanto mercados saturados podem ter resultados limitados.
Além disso, Garcia alerta para a necessidade de monitorar o custo fiscal e avaliar os riscos de crédito, principalmente se o programa envolver garantias ou subsídios significativos. O equilíbrio entre ampliar o acesso à casa própria e manter a sustentabilidade financeira do setor público e das instituições financeiras, conforme ele, será determinante para o sucesso da medida.
Classe média tem opções além do programa do governo
Embora o novo modelo do governo abra espaço para a classe média, não é a única alternativa para financiar um imóvel, avalia Luiz Otávio Prado, especialista em investimentos imobiliários. Bancos privados podem oferecer condições mais competitivas, especialmente para clientes de alta renda e bom histórico de crédito, e nesses casos a portabilidade de financiamento pode valer a pena: se uma instituição privada oferecer taxas ou prazos melhores, é possível negociar fora do programa público.
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Outra opção são os recursos próprios ou consórcios de imóveis. Essa alternativa, diz Prado, é ideal para quem pode esperar ou acumular uma entrada maior, evitando juros e priorizando disciplina financeira. Já famílias que ainda se enquadram nas faixas tradicionais do Minha Casa Minha Vida podem preferir essa linha, porque incluem subsídios diretos e benefícios que reduzem o custo total do financiamento.
No fim das contas, a decisão depende do perfil de cada comprador: renda, prazo disponível, capacidade de entrada e tolerância a juros. “Antes de assumir um financiamento de longo prazo, é fundamental ter renda estável e planejamento monetário. Avaliar o quanto se pode comprometer por mês, considerar entrada, parcelas e custos extras faz toda a diferença. Comprar um imóvel é um passo importante, mas só vale a pena se a família conseguir manter o equilíbrio do orçamento e evitar apertos desnecessários”, orienta Prado.
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Autor: Murilo Melo