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Como o Brasil pode se proteger de um novo Banco Master

A intervenção no Banco Master, que deixou um rastro de prejuízos e expôs mais uma vez as rachaduras silenciosas do sistema monetário, não é um ponto fora da curva. É o resultado de escolhas institucionais que permitiram que um banco de médio porte captasse R$ 55 bilhões sem que o mercado ou mesmo parte da supervisão tivessem acesso claro à evolução dos riscos. O problema não é um “caso isolado”. O problema é estrutural. E enquanto tratarmos cada crise como um acidente, continuaremos empurrando o sistema para o mesmo abismo.

A discussão precisa sair do campo das desculpas e entrar no território das soluções. Existem, hoje, três mudanças que poderiam reduzir drasticamente a probabilidade de outro Master acontecer.

  1. Acabar com o cheque em branco sobre o destino dos recursos captados

O ponto mais negligenciado do debate é o mais óbvio. Hoje, quando um banco capta R$ 1 bilhão via CDB, o uso desse dinheiro tem uma flexibilidade que seria impensável em outros mercados. É a porta de entrada para o desvio de finalidade. Para captar muito, rápido e caro, é preciso correr riscos proporcionais. E isso cria um incentivo tóxico.

A solução passa por elevar o padrão de qualidade do ativo. É exatamente o oposto do que ocorre hoje. Se o banco quiser captar, deve comprovar que os recursos serão direcionados a operações transparentes, auditáveis e com métricas de risco que o mercado possa acompanhar. Ao atacar o coração do problema, reduzimos o ganho de quem quer crescer sem lastro.

  1. Transparência integral e compulsória sobre a evolução dos depósitos

O que permitiu o Master chegar a R$ 55 bilhões não foi genialidade financeira, foi escuridão regulatória. Entre 2017 e 2024, ninguém viu a evolução dos depósitos garantidos pelo FGC no antigo Banco Máxima. Quem quisesse acompanhar esse número não conseguia. E quando a distribuição acelerou em 2024, não havia um painel público, atualizado e padronizado que mostrasse o salto.

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A verdade incômoda é que vivemos em um ambiente onde a opacidade não é acidente, é escolha. Um mercado que proíbe o investidor de ver dados essenciais sobre quem está segurando o seu dinheiro é um mercado que alimenta o risco, não que o controla. A transparência deveria ser automática, obrigatória e simples. Se o volume de depósitos cresce 20%, 50% ou 200% em poucos meses, isso precisa estar exposto como um farol. A luz do sol continua sendo o melhor detergente.

  1. Fiscalização em tempo real e com prestação pública de contas

Hoje a supervisão atua como uma caixa-preta. Tecnicamente competente, mas incomunicável. O investidor não sabe o que está sendo observado, quais métricas preocupam e como evolui o risco das instituições fora dos grandes bancos. A fiscalização precisa sair do modo oculto.

Com toda a tecnologia já disponível, por que não temos painéis públicos que mostram a evolução do risco operacional, da concentração de carteira, da inadimplência por segmento, da liquidez diária? Não se trata de revelar segredos industriais, mas de dar ao mercado o mínimo necessário para prever problemas em vez de descobri-los quando explodem.

A supervisão não precisa ser mais rígida, mas mais transparente. Quando a sociedade vê o que está acontecendo, o comportamento muda. Regulador, banco e investidor passam a dividir o mesmo conjunto de informações. Isso inibe excessos e reduz a zona cinzenta onde fraudes prosperam.

O Brasil não precisa de mais heróis. Precisa de regras claras.

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Não se evita um novo Master com discursos de ocasião, mas com uma arquitetura institucional que impede crescimento cego e incentiva a responsabilidade. Transparência, rigor no uso dos recursos e fiscalização aberta não são medidas radicais, são o padrão mínimo das economias maduras.

Enquanto continuarmos operando no escuro, a próxima crise deixa de ser hipótese e passa a ser apenas uma questão de tempo.

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: E-Investidor

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