Corte sul-coreana confirma impeachment e destitui presidente por tentativa de golpe


A Corte Constitucional da Coreia do Sul destituiu nesta sexta-feira (4) o presidente Yoon Suk Yeol, em resposta ao polêmico decreto de lei marcial emitido por ele no fim de 2024. A decisão, unânime entre os magistrados, desencadeia uma eleição presidencial que deverá ocorrer nos próximos 60 dias, encerrando um vácuo de poder que já dura meses no país asiático.
Lee Jae-myung, líder do opositor Partido Democrático, desponta como favorito nas pesquisas para suceder Yoon. “Foi uma grande honra trabalhar pela República da Coreia”, declarou Yoon em nota após o veredicto. “Lamento profundamente não ter correspondido às expectativas.”
A destituição encerra um dos capítulos mais turbulentos da história política recente da Coreia do Sul. O próximo presidente enfrentará desafios significativos, incluindo o agravamento das disputas comerciais com os Estados Unidos sob Donald Trump e uma Coreia do Norte cada vez mais provocativa.

“Vemos a decisão como um alívio de curto prazo para o sentimento econômico doméstico, já que a prolongada incerteza política foi superada”, afirmou Kathleen Oh, economista da Morgan Stanley Asia Limited. “Esperamos certa volatilidade durante o período eleitoral, mas o pior parece ter passado.”
Com a saída de Yoon, o primeiro-ministro Han Duck-soo assume interinamente a presidência. Han prometeu manter a estabilidade e garantir a realização das eleições presidenciais sem contratempos. “Faremos o possível para que o novo governo seja instaurado sem obstáculos”, disse.
No mercado, o principal índice da bolsa sul-coreana, Kospi, reverteu os ganhos anteriores e recuava 1,8% às 13h20 no horário local. Por outro lado, ações de firmas dos setores de varejo, turismo e entretenimento subiram com a expectativa de melhora no consumo interno. O won oscilava frente ao dólar, mas se mantinha em alta devido à fraqueza da moeda norte-americana.
A crise teve início em dezembro, quando Yoon decretou lei marcial — a primeira em mais de 40 anos na Coreia do Sul —, mas revogou a medida horas depois, após rejeição parlamentar. Dias depois, foi alvo de impeachment, o que resultou em sua suspensão.
“O ato inconstitucional e ilegal do presidente representa uma traição à confiança do povo e uma violação grave das leis que não pode ser tolerada”, afirmou Moon Hyung-bae, presidente interino da Corte Constitucional.
Yoon nega qualquer ilegalidade e alega que o decreto visava impedir a oposição de paralisar seu governo. Ele ainda responde a um processo criminal sobre o caso, que corre de forma independente da decisão da Corte Constitucional.

Lee Jae-myung, que perdeu por margem apertada para Yoon na eleição de 2022, ganhou impulso após a vitória esmagadora de seu partido nas eleições parlamentares de abril. “Nosso povo reviveu a democracia de forma extraordinária”, declarou. “Se unirmos forças, poderemos restaurar a confiança internacional e transformar a crise em oportunidade.”
Sob a liderança de Lee, o Partido Democrático propõe aumento de impostos para grandes fortunas e conglomerados (chaebols), além de uma abordagem mais conciliadora com a Coreia do Norte — uma postura que pode se alinhar com um eventual retorno diplomático entre Trump e Kim Jong Un.
Por outro lado, Lee adota posição mais cautelosa em relação à China e à aproximação com o Japão, o que pode dificultar a coordenação com os aliados regionais dos EUA.
Com maioria no Parlamento, um eventual governo Lee teria margem para implementar reformas progressistas e ampliar o estímulo fiscal, segundo o economista Hyosung Kwon.
Outros nomes cotados para a sucessão incluem Kim Moon-soo, ex-ministro do Trabalho do governo Yoon, e Oh Se-hoon, prefeito de Seul. “Lamentamos, mas o Partido do Poder Popular respeita e aceita humildemente a decisão da Corte Constitucional”, declarou Kwon Young-se, líder da legenda governista. “Acreditamos firmemente que respeitar essa decisão é essencial para proteger a democracia e o Estado de Direito.”
O novo presidente herdará uma economia sob forte pressão. As tarifas anunciadas por Trump — que entram em vigor em 9 de abril e incluem sobretaxas de 25% sobre produtos sul-coreanos — afetam diretamente setores estratégicos como automóveis, aço e eletrônicos.
O decreto de lei marcial também abalou a confiança dos consumidores. O Banco Central sul-coreano revisou para baixo as projeções de crescimento e reduziu a taxa básica de juros para conter os impactos econômicos.
Logo após a decisão da Corte, manifestantes contrários a Yoon comemoraram nas ruas. Mas nem todos compartilharam do entusiasmo. “O Estado de Direito colapsou completamente. Hoje será lembrado como o dia em que o comunismo tomou a Coreia do Sul”, disse Stella Jung, apoiadora de Yoon, de 36 anos.
Com informações de Youkyung Lee, Shery Ahn, Jaehyun Eom, Yasufumi Saito, Paul Jackson, Seyoon Kim, Emily Yamamoto, Cormac Mullen, Heesu Lee, Whanwoong Choi, Katria Alampay, Andy Hung e Denny Thomas.
©2025 Bloomberg L.P.
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Autor: Bloomberg