Crítica de Eduardo leva governador de SP a radicalizar, e aliados avaliam riscos


O timing da mudança no discurso de Tarcísio de Freitas (Republicanos) está diretamente ligado ao julgamento da trama golpista e à ofensiva de Eduardo Bolsonaro contra ele no exterior, conforme apurou o blog da jornalista Malu Gaspar, do GLOBO. Interlocutores do presidenciável avaliam que o discurso na Avenida Paulista serviu para demonstrar alinhamento com o bolsonarismo e aplacar as críticas, capitaneadas pelo deputado nos EUA, de que ele estaria se articulando ao Planalto sem anuência do ex-presidente Jair Bolsonaro. Por outro lado, aliados avaliam que tal radicalização afeta a imagem de gestor de Tarcísio, além de queimar pontes com o Supremo Tribunal Federal (STF).

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Foi a primeira vez que Tarcísio atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, ao afirmar que “ninguém mais aguenta a tirania” do magistrado, relator da ação penal que pode condenar o ex-presidente nesta semana. De acordo com a colunista, tanto estrategistas ligados ao PL como lideranças da direita compartilharam da avaliação de que a performance foi calculada com base nos trackings e pesquisas que Tarcísio consome diariamente e visava dois objetivos: mostrar ao bolsonarismo que ele é fiel à causa da anistia; e mostrar aos líderes que tem condições de dominar essa franja da direita e se contrapor a Lula de forma competitiva.
“O discurso do Eduardo de que o Tarcísio estava tentando se viabilizar como candidato sem o pai cresceu na bolha, e isso poderia prejudicar as chances dele em 2026”, afirma um interlocutor do governador paulista.
O discurso de Tarcísio, no entanto, não convenceu a Eduardo. Publicamente, o parlamentar não se manifestou sobre a fala do governador mas, segundo aliados, ele comparou o discurso de Tarcísio a “lágrimas de crocodilo”, informou o blog de Bela Megale, do GLOBO.
Sinais difusos
O cálculo de aliados é que Tarcísio sabe que só será candidato se tiver a benção de Bolsonaro — portanto precisa garantir o apoio do ex-presidente quando chegar a hora de decidir se vai disputar a reeleição ou a presidência. Mas ainda não há garantia de que o ex-presidente de fato vá entregar seu capital político todo nas mãos de Tarcísio em vez de optar por alguém com seu sobrenome na urna em 2026. A quem o visita, Bolsonaro ainda dá sinais trocados. A uns, diz que Tarcísio tem seu aval para se comportar como candidato, e a outros afirma que “nem a pau” vai deixar que a eleição do ano que vem se dê entre Lula e alguém de fora do clã Bolsonaro.
Já integrantes de partidos do Centrão próximos a Tarcísio viram “exagero” nas falas dele durante a manifestação na Avenida Paulista e também entendem que o governador ficou sob pressão de Eduardo para fazer um gesto mais radical que agrade à família Bolsonaro. Para esse grupo, havia necessidade de uma demonstração de fidelidade. Por outro lado, existe também o entendimento que a postura carrega riscos na estratégia de se viabilizar como candidato presidencial. Um deles é romper pontes com a ala mais moderada da direita e o outro é comprar uma briga desnecessária com o STF. Outro eventual prejuízo é que a movimentação afete sua imagem como gestor.
“Tarcísio não deve aceitar chantagem. Precisa estabelecer uma linha de centro-direita democrática e moderada, que não aceita o radicalismo”, afirma o deputado Fausto Pinato (PP-SP).
No entorno de Gilberto Kassab, secretário de Governo de Tarcísio no Palácio dos Bandeirantes, avalia-se que a conduta do governador não poderia ter sido diferente do que foi. Depois de ter passado a semana em Brasília trabalhando para destravar o projeto de anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro, já estava “precificada” a elevação de tom do governador no ato bolsonarista.
Esses aliados argumentam que Tarcísio não poderia ter agido de outra forma depois que o projeto da anistia ganhou força entre o colégio de líderes graças a movimentos também feitos por ele, o que aumentou a pressão sobre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Também pesa o fato, apontam, de a manifestação ter ocorrido enquanto Bolsonaro é julgado pelo STF e com o clima da eleição de 2026 já instalado, entre governo e oposição, o que tem levado atores políticos a se movimentarem mais rapidamente.
A construção do discurso ocorreu após a passagem de Tarcísio por Brasília, na semana passada, onde o governador atuou em favor da anistia e decidiu encampar a tese de “ir até o fim contra a injustiça” para demonstrar lealdade ao ex-presidente, aos filhos dele e, principalmente, aos apoiadores de Bolsonaro. Um titular do secretariado próximo a Tarcísio afirma que não esperava um discurso “tão duro” mesmo diante de uma plateia que ostentou cartazes a favor de Donald Trump.
“Ele apanhava dos dois lados e agora vai deixar de apanhar do lado bolsonarista. Mas não podemos negar que ele carregou na tinta”, resume o auxiliar. Para ele, após os atos, falas e gestos do chefe, Tarcísio firmou posição de homem de confiança do ex-presidente.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, afirma que os próximos discursos de Tarcísio, a depender da plateia que vai ouvi-los, também serão contundentes:
“Eu acho que (a subida de tom) chega em boa hora para mostrar que mesmo os mais cordatos e aqueles que mais diálogo têm também chegam ao limite. Eu acho que ele, daqui para frente, com a condenação do presidente Bolsonaro, que já é para nós uma coisa dada por certo, ele e todos nós da direita vamos aumentar muito mais o tom.”
Nesta semana, o governador não terá agendas públicas em Brasília, segundo ele mesmo disse durante um evento na Fiesp, um dia após a manifestação. Nas outras semanas em que ele esteve na capital federal, porém, também não havia um planejamento prévio de viagens a Brasília.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Agência O Globo