Dólar a R$ 6 chacoalha o Brasil: 7 impactos que você nem imaginava sobre o câmbio
Nesta terça (8), o presidente dos EUA Donald Trump elevou as tarifas sobre as importações chinesas em mais 50% – agora, a alíquota total chega a 104%. Em resposta, o governo chinês anunciou hoje que vai impor uma tarifa adicional de 50% sobre importações americanas, levando a retaliação aos americanos a uma taxa total de 84%. Para entender mais, leia esta matéria do E-Investidor. A guerra comercial abalou os mercados globais: derrubou bolsas, elevou juros, mexeu com a cotação de commodities. No Brasil, um dos reflexos foi a valorização do dólar, que já ultrapassa a barreira de R$ 6. Isso coloca em risco a recuperação econômica do país, criando uma pressão inflacionária significativa, já que o real foi a 3ª moeda mais desvalorizada, com queda de 5,1% frente à moeda americana desde o anúncio das tarifas de Trump, em 2 de abril.
Segundo André Matos, CEO da MA7 Negócios, diante do cenário, o Banco Central (BC) terá de agir com firmeza. “O risco inflacionário aumenta substancialmente, o que pode forçar uma elevação dos juros. Isso encarece o crédito, esfria o consumo e atrasa ainda mais qualquer expectativa de retomada consistente da economia”.
A alta do dólar pressiona os custos de combustíveis, alimentos e outros produtos essenciais, que são fortemente impactados pela variação cambial – como consequência, a inflação fica mais difícil de ser controlada. Essa pressão sobre os preços afeta o poder de compra dos brasileiros e aumenta a incerteza nos mercados. A elevação dos juros pelo Banco Central, embora necessária para conter a inflação, pode desaquecer o consumo e a atividade econômica, prejudicando ainda mais o crescimento em um momento já delicado.
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“Tudo que vem de fora fica mais caro. O comércio e o setor de bens duráveis também sofrem, já que o crédito encarece e as pessoas seguram o consumo”, explica Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. Com o crédito mais restrito e a incerteza no cenário econômico, consumidores ficam mais cautelosos, reduzindo compras não essenciais e atrasando investimentos de maior porte, como automóveis e eletrodomésticos.
Além disso, a escalada do dólar já havia mostrado seus efeitos em momentos recentes. “Em janeiro de 2025, o dólar chegou a bater R$ 6,22 ao longo do dia. Portanto, em momentos de turbulência e instabilidade mundial, é sim esperado que a divisa se mantenha acima de R$ 6 nos próximos dias”, comenta João Kepler, CEO da Equity Group. A declaração reforça como a moeda americana costuma se valorizar em contextos de incerteza, sendo um reflexo das tensões externas e da percepção de risco nos países emergentes, a exemplo do Brasil.
1- Aumento de preços
Segundo Kepler, setores como o varejo são especialmente sensíveis a essas oscilações. A elevação do dólar aumenta os preços de produtos importados, reduz as margens de lucro e diminui o poder de compra da população, o que rapidamente se traduz em queda nas vendas.
Segmentos intensivos em tecnologia e insumos importados são os que mais sofrem nesse contexto. “A alta cambial pressiona os custos operacionais, reduz margens e pode exigir reposicionamento de preços”, diz Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio. Muitas firmas, ao não conseguirem absorver os aumentos nos custos, acabam repassando-os aos consumidores — o que acelera o processo inflacionário.
Por outro lado, nem todos os setores são prejudicados com a alta do dólar. Monteiro ressalta que o agronegócio e a mineração, cujas receitas são fortemente dolarizadas, podem ver seus resultados monetários melhorarem. A valorização da moeda americana torna os produtos brasileiros mais competitivos no exterior, ampliando as margens de lucro para os exportadores.
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No entanto, essa aparente vantagem pode ser ilusória. “Mesmo que alguns setores se beneficiem pontualmente da alta do dólar, como exportadores, é preciso lembrar que a economia brasileira é altamente dependente de insumos importados. A vantagem competitiva obtida nas exportações pode ser anulada por custos operacionais inflacionados”, pondera Theo Braga, CEO da SME New Economy. O especialista aponta que os ganhos com exportações nem sempre compensam as perdas estruturais que o país sofre com uma moeda local desvalorizada.
2- Fuga de capitais
O cenário também levanta alertas mais amplos. Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, destaca os perigos de uma valorização abrupta da moeda americana. “Caso essa marca simbólica dos R$ 6,00 seja efetivamente rompida, os primeiros setores a sentir o impacto serão os mais dependentes do câmbio, como combustíveis, alimentos industrializados, medicamentos e tecnologia. A indústria tende a repassar parte desses custos ao consumidor, pressionando a inflação”, explica.
Para ele, o momento atual é agravado pelas tensões entre Estados Unidos e China, o risco de uma recessão global e a fuga de capitais de mercados emergentes. “A Bolsa pode sofrer com a saída de capital estrangeiro, os juros futuros tendem a subir e o Banco Central pode ter de reforçar a comunicação para conter o pânico”, alerta Lima. A instabilidade se espalha por diversos setores, afetando o apetite por risco e aumentando a aversão a ativos brasileiros.
3- Trava no consumo e no crescimento do país
A combinação da alta do dólar com o cenário internacional conturbado e a fragilidade econômica do Brasil impõe desafios extras à gestão econômica. “Quando a moeda americana se valoriza desse jeito, o impacto imediato é sentido nos combustíveis, alimentos e itens importados. Isso alimenta a inflação, pressiona o custo de vida e dificulta ainda mais a recuperação econômica”, avalia Jorge Kotz, CEO do Grupo X. Com a inflação pressionada, o orçamento das famílias se torna ainda mais comprometido, diminuindo o consumo e travando o crescimento.
Para o setor de crédito estruturado, o momento pede ainda mais prudência. “As firmas precisam reforçar os estoques enquanto as coisas não encarecem, reforçar o caixa para ter mais liquidez e repensar o risco nas operações”, orienta novamente Volnei Eyng. Com o eeal entre as moedas que mais perderam valor recentemente, o alerta se intensifica, especialmente em um cenário de enfraquecimento do yuan chinês, que pode provocar novos ajustes globais.
4- Oportunidades para quem mora fora
Ainda assim, nem tudo é negativo. Alguns nichos veem oportunidades em meio ao caos. “Para brasileiros no exterior, o momento é oportuno: com mais poder de compra, investir no mercado imobiliário nacional se torna ainda mais atrativo, especialmente via consórcio, que evita juros altos”, aponta Pedro Ros, CEO da Referência Capital. Com a desvalorização do real, brasileiros que recebem em moeda forte veem seu dinheiro render mais no país, o que pode estimular investimentos internos em imóveis e outros ativos reais.
Ros ainda acrescenta que “a instabilidade global favorece ativos reais e exige decisões estratégicas”. Em outras palavras, a crise cambial também pode abrir portas para quem sabe se posicionar com visão de longo prazo, aproveitando os preços deprimidos de alguns ativos e a necessidade de diversificação patrimonial em tempos turbulentos.
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Por fim, Carlos Braga Monteiro lança um alerta para o futuro próximo. “Caso o ambiente de incerteza interna e externa persista, é possível que o dólar avance ainda mais. Isso exigirá do Brasil uma resposta econômica firme e coordenada”. A declaração resume o sentimento do mercado: diante de um cenário volátil e sensível, será preciso habilidade e clareza nas ações para evitar que o câmbio descontrolado se transforme em crise econômica generalizada.
5- Dolarização do patrimônio
Com a recente disparada do dólar e a crescente instabilidade nos mercados internacionais, pensar em estratégias de proteção financeira se torna cada vez mais urgente. Uma dessas proteções será a dolarização do patrimônio, que, segundo Natalia de Fátima Oliveira Cordeiro, professora do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Anhanguera, deve estar sempre no radar dos investidores. “Dolarizar o patrimônio deve ser sempre considerado. Os aportes precisam ser periódicos para equilibrar, ao longo do tempo, a taxa em que o ativo foi adquirido”, afirma.
Ela explica que o investimento constante permite suavizar os efeitos das variações cambiais. “Suponha que, todos os meses, você faça um aporte de R$ 500 em dólares. Haverá meses em que conseguirá comprar apenas US$ 100, em outros US$ 80,00, e eventualmente até US$ 120. Esse processo ajuda a equilibrar a carteira de investimentos ao longo do tempo”, acrescenta.
6- Queda dos ativos listados na Bolsa
Além da estratégia de proteção, Natalia aponta que o cenário atual pode trazer oportunidades. “Precisamos estar sempre preparados, porque o nosso mercado é cíclico. Por isso, reforço a importância dos aportes periódicos. No entanto, com essas novas taxas, os EUA podem entrar em um ciclo de recessão, e isso pode provocar uma queda brusca no preço dos ativos listados na bolsa”, alerta. Segundo ela, momentos de incerteza também abrem espaço para oportunidades: “O cenário de incerteza pode abrir ‘janelas’ de oportunidade com relação à queda do dólar. O ideal é observar esses pequenos movimentos e aproveitar as chances que surgirem”.
7- Os itens mais afetados pela alta do dólar
No campo da economia real, a alta do dólar tende a afetar diretamente o consumidor. “Grandes firmas têm sua produção terceirizada em diversos países. Com isso, itens de bens de consumo e eletrônicos devem ser os mais afetados nesse cenário de alta do dólar. No entanto, ainda há possibilidades de negociação, o que pode nos ajudar a não sentir tanto os impactos desse aumento”, avalia a professora.
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Autor: Isabela Ortiz