Empresas que compram criptomoedas viram febre – e já tem gente falando em bolha
Uma bolha financeira acontece quando o preço de um ativo sobe muito acima do seu valor real –geralmente surfando em algum tema do momento, como internet, imóveis, inteligência artificial (IA) e por aí vai. Quando o mercado percebe que aquele valor não faz sentido e é só poeira, os investidores correm para vender, o preço despenca e muita gente fica no prejuízo.
Pois há um papo circulando no mercado cripto de que companhias abertas que investem em cripto – conhecidas como digital asset treasury companies e bitcoin treasury companies – podem estar formando uma bolha. E, se ela estourar (alguns dizem que isso, inclusive, já começou), o estrago pode ser feio.
Um dos especialistas que bate nessa tecla é Tom Lee, da Bitmine, que ironicamente também é uma tesouraria cripto – mas focada em ethereum (ETH). Em entrevista recente à Fortune, ele disse que muitas dessas companhias estão sendo negociadas abaixo de seu valor patrimonial líquido (NAV, na sigla em inglês). Na prática, isso significa que mercado avalia essas firmas por um preço menor do que o valor de suas próprias criptos, apesar de no passado essa métrica ter sido bem maior.
Além disso, segundo o especialista, várias companhias adotam essa estratégia a cada momento. Hoje, segundo agregadores de criptomoedas, há cerca de 200 firmas com bitcoin em caixa, 14 com ethereum (ETH), nove com solana (SOL), duas com BNB (BNB) e tem até firma com dogecoin (DOGE), a memecoin mais conhecida (e super arriscada) do mercado. Mas muitas delas comparam porque está na moeda e não tê um modelo claro de negócios.
“Se isso já não é o estouro de uma bolha… como seria o estouro de uma bolha?”, ironizou Lee. Detalhe: o NAV da própria Bitmine é de 0,68x – ou seja, ela mesma é negociada com um “desconto” de 32% em relação ao valor patrimonial.
E só pra você entender melhor: essas firmas de tesouraria cripto funcionam, em linhas gerais, comprando criptomoedas e, do outro lado, emitindo produtos monetários – como ações ou dívidas – para levantar dinheiro no mercado. A lógica é que esses papéis sejam negociados com algum prêmio em relação ao valor das criptos que a firma detém, justamente pra atrair investidores. Afinal, se o preço for o mesmo, por que alguém compraria ações da firma em vez de comprar as criptos diretamente, certo?
US$ 17 bilhões em perdas
Essa discussão também apareceu sob outro ângulo – o do prejuízo dos investidores. A 10x Research, casa de análise focada em criptomoedas, publicou um relatório, na semana passada, mostrando que investidores de varejo perderam cerca de US$ 17 bilhões ao tentar se expor ao bitcoin comprando ações de bitcoin treasury companies.
Um dos exemplos citados é a Strategy (antiga MicroStrategy), a maior e mais famosa firma do tipo, e super “queridinha” em Wall Street. As ações da companhia hoje são negociadas a apenas 1,4 vez o valor de suas reservas em cripto – uma queda expressiva em relação aos prêmios de três ou quatro vezes observados no passado.
A 10x escreveu que “a era da magia financeira está chegando ao fim para as firmas de tesouraria de bitcoin” e que, com a queda da volatilidade e o fim dos ganhos fáceis, essas companhias “enfrentam uma transição difícil – do impulso de marketing para a disciplina real de mercado”. O próximo ato, disse a firma, não será sobre mágica, “mas sobre quem ainda consegue gerar alfa quando o público parar de acreditar”.
Não é bolha – mas vale ficar de olho
Para Tasso Lago, especialista em criptomoedas e fundador da Financial Move, esse tipo de estratégia de comprar bitcoin como reserva de valor tem muito mais de marketing do que de fundamento. “Acho que quando a gente fala de tecnologia, existe muito hype só por colocarmos blockchain ou Web3 no nome”, disse para o InvestNews.
Mesmo assim, ele não acredita que estejamos diante de uma bolha prestes a estourar. “Acredito sim que passamos por um período de valuations mais esticados, mas não acho que estejamos em um movimento de bolha ainda.”
A principal preocupação, segundo ele, é que alguma dessas firmas fique insolvente em um eventual ciclo de baixa do bitcoin e seja obrigada a vender a moeda no mercado. “Isso poderia causar impacto. No entanto, por serem firmas institucionais, é provável que a venda ocorra via mercado OTC (mercado de balcão, onde a negociação ocorre entre os investidores). Nesse caso, a liquidez poderia ser protegida até por grandes players, que absorveriam essa demanda ou até comprariam as firmas”, explicou.
Rocelo Lopes, CEO da Rezolve Tether Initiative e criador do app Truther, também não acredita em bolha – mas tem outra preocupação: a custódia dos ativos por parte dessas companhias. “Vamos ver cada vez mais firmas fazendo isso (acumulando bitcoin), mas às vezes me pergunto se elas estão realmente comprando a criptomoeda pensando no longo prazo, para reserva de valor”, disse.
“Se fosse o caso, poderiam colocar parte dos bitcoins em carteiras com lock time (mecanismo que permite impedir que uma transação seja gasta antes de um determinado momento no tempo), travando o uso por dez anos, por exemplo. Mas não é o que acontece. Eles ficam disponíveis no dia seguinte. Isso me deixa preocupado com a forma como esses ativos estão sendo armazenados – e por quem”, finalizou.
E para o investidor, o que tudo isso significa?
Investir em cripto é arriscado: o mercado é volátil, a regulação ainda engatinha no mundo todo e há riscos de liquidez. No caso das bitcoin treasury companies, mesmo com ações negociadas em bolsa e o mercado regulado, o investidor não está livre de riscos semelhantes, segundo especialistas.
“Mas o investidor pessoa física não precisa se preocupar em comprar firmas por causa dessa estratégia, já que é possível comprar bitcoin direto”, opinou Lago. “Essas companhias (as bitcoin treasury companies) fazem mais sentido para instituições e fundos que não podem investir em cripto diretamente.”
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Autor: Lucas Gabriel Marins