Esvaziada de líderes, Cúpula do Brics deve ser mais “pragmática”, diz especialista


A reunião da Cúpula de Líderes do Brics, marcada para este domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, deverá ter foco pragmático para priorizar resultados tangíveis em vez de grandes declarações, avalia Maria Elena Rodriguez, diretora adjunta do Brics Policy Center.
“Vai ser um pouco mais pragmática, mais austera, focada em resultados tangíveis que sem possíveis de implementar, e não simplesmente anunciar questões que depois não consiga [realizar]”, afirma, em entrevista ao InfoMoney.
A avaliação leva em conta o momento em que a reunião ocorre. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco inclui agora países como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, além de outras nações observadoras. A variedade de interesses e culturas deve travar alguns temas que, antes, eram de maior convergência entre os membros.
Além disso, há conflitos geopolíticos que estão polarizados entre os países membros, e a ausência de dois grandes líderes – entre eles Xi Jinping, da China – o que traz um esvaziamento simbólico do grupo.
Um dos principais pontos econômicos será a facilitação do comércio entre os países do Brics. Rodriguez destaca que o uso de moedas locais para essas transações deverá sair fortalecido para reduzir a dependência do dólar e os custos de conversão.
Além disso, a harmonização de regras e padrões, simplificação de processos comerciais (reduzindo tarifas e burocracia) e a diversificação dos parceiros comerciais, crucial para países como o Brasil, também estão na pauta.
Com exceção da China, Rodriguez afirma que o comércio entre os países do Brics é pequeno, e a expectativa é impulsioná-lo com essas medidas.
Esvaziamento e ausência de líderes
O encontro vai acontecer em meio a um esvaziamento simbólico com a ausência de dois grandes líderes – Xi Jinping e Vladimir Putin. E terá o desafio de construir um consenso, agora que o bloco passou a integrar mais países, com culturas e interesses diferentes.
Rodriguez, que é colombiana e mora no Brasil há 20 anos, afirma que o Brasil precisará desempenhar um papel crucial para mediar as disputas para encontrar elementos gerais que sejam aprovados por todos.
Tudo isso em meio à ausência de líderes, que serão representados por outros integrantes dos governos locais. Para Rodriguez, esta ausência, especialmente da China, vai impactar simbolicamente na reunião da cúpula porque tira o peso da união desses países em um grupo.
“Simbolicamente, eu acho que deixa um pouco a desejar. A força política que o Brics quer mostrar para o mundo como um grupo forte, com posicionamento, autonomia, independência e pensamento único, neste momento, tem um quê simbólico um pouco ‘resquebrajado’ [quebrado]. Não podemos esquecer que a China é um grande ator central na discussão global. A presença do Xi Jinping daria um peso muito maior à agenda.”
Conflito Israel X Irã
Em meio à agenda de debates, o conflito Israel X Irã, que não está na pauta oficial do encontro, deve surgir nas conversas sobre segurança.
“Essa agenda de conflito entre Israel e Irã é um desafio enorme para a cúpula, porque as posições dos membros não são muito consensuais e tem suas nuances. A Índia tem laços muito fortes com Israel e tem tensões com o Paquistão, que apoia o Irã. Com certeza não haverá um comunicado oficial unificado sobre o tema. A capacidade do Brasil de mediar essas divergências vai ser crucial para encontrar elementos gerais”, afirma.
Temas em debate
Ao longo da semana que precedeu a cúpula dos líderes, diversos negociadores (sherpa) dos países do bloco debateram os temas importantes e defenderam seus interesses para chegar a um rascunho da declaração final do encontro. É este documento pré-elaborado que chega para ser analisado pelos líderes dos países.
Na agenda, há temas como fortalecimento do multilateralismo e a reforma da governança global. A presidência brasileira no encontro deste ano pretende priorizar a cooperação entre os países do Sul Global e a redução dos custos de transações comerciais e financeiras entre os membros, explorando o uso de moedas locais como alternativa ao dólar.
Questões sociais e de saúde, como o esforço em eliminar doenças ligadas à pobreza, fome e moradias precárias, e a cooperação com o desenvolvimento de vacinas; inteligência artificial; mudança climática; financiamento climático; e criação de regras mais claras para o funcionamento do grupo também devem permear as conversas.
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A desdolarização, tema central na cúpula anterior na Rússia que despertou diversas críticas, deverá aparecer nesta reunião com a defesa pelo uso estratégico de moedas locais e a facilitação do comércio, como forma de fortalecer as economias dos países membros. A crítica ao protecionismo comercial e o fortalecimento das parcerias entre os países do Brics também são esperados no documento final.
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Autor: Élida Oliveira