“Fundos abutres”: Juro alto e inadimplência levam empresas a vender ativos judiciais


Com um cenário de juro alto e de escalada na inadimplência e nos pedidos de recuperação judicial, o mercado de créditos judiciais ganha relevância na estratégia financeira das firmas para obter maior fluxo de capital.
Esses créditos invisíveis são formados por dívidas judiciais, créditos tributários ou valores que não entram no fluxo de caixa tradicional. E quem está de olho nesses recursos são os fundos especializados em “special situation” – que têm o apelido de fundos abutres.
Fundos abutres
Os fundos abutres operam comprando créditos judiciais e direitos creditórios das firmas inadimplentes, que estão em recuperação judicial, ou em falência.
O nome vem da analogia com o animal, que vê uma carniça e tenta “abocanhar” um pouco. “Mas, na Faria Lima, chamam de special situation”, brinca Matheus Matos, sócio da MA7 Negócios.
“O que não muda a situação, que é especial por conta do preço. Você vem e dá um deságio na canela, parece um abutre que fica por cima da carniça esperando morrer”, diz.
Mas, por que vender esses créditos?
A vantagem para a firma é liberar o recurso imediatamente, ainda que pagando um preço por isso. Para os investidores, o foco é ter um retorno acima do investimento, mesmo que precise esperar um tempo até chegar ao lucro.
“Esses créditos que as firmas têm a receber ficam parados por anos na Justiça, pela morosidade dos processos. O que nós, como boutique do ‘special situation’ vemos é que, através da maximização da venda desses créditos, a firma consegue um fluxo de caixa que pode ser aplicado por ela. É neste limbo jurídico – e você pode colocar entre aspas ‘lixo jurídico’ – que nós enxergamos o ouro”, afirma Matos.
Para firmas em recuperação judicial, a estratégia ajuda a trazer maior saúde para a firma, o que contribui para o quadro processual. E, para as firmas em falência, a ideia é liberar o crédito para pagar os credores.
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Abutres, mas com critério
Embora sejam “abutres”, os gestores desses fundos não compram qualquer crédito. Há critérios. A transformação desses ativos em capital depende muito da tecnologia e análise de risco.
A estratégia das gestoras desses fundos de investimento é avaliar os processos judiciais para verificar as estratégias de recuperação do crédito e, com isso, precificar o risco de adquirir aquele recurso.
Ferramentas como due diligence, inteligência de mercado e avaliação jurídica garantem uma precificação mais precisa dos créditos, diminuindo riscos e ampliando o apelo para investidores, segundo a MA7 Negócios.
Para Matos, “isso revoluciona a forma como os ativos judiciais são vistos e utilizados, criando novas possibilidades de financiamento sem comprometer as operações das firmas, além de promover um planejamento monetário mais seguro e estratégico.”
E essa estratégia pode valer para todos os portes de firma, desde as pequenas e médias, até os grandes negócios. O que vai nortear a decisão para a aquisição será o valor da demanda, segundo Matos, e não o da firma.
Limite de risco
Porém, nem todas as firmas querem se desfazer dos recursos, devido ao custo da operação, e algumas preferem esperar o processo judicial para não terem que lidar com o ágio. “Se a firma tem R$ 100 para receber, e eu ofereço R$ 25 para ficar com os R$ 100, algumas preferem esperar para ter o valor total”, explica Matos, citando um exemplo fictício. A média de deságio varia entre firmas e gestoras, que não abrem os valores para manterem o poder de negociação.
Além disso, nem todos os processos analisados são aceitos. Nas contas de Matos, de cada 100 processos recebidos, 99 são descartados. Isso porque os fundos têm um limite para suportar o risco, considerando liquidez e prazos judiciais. “É preciso ser como um sniper”, compara Matos, citando atiradores de elite que operam com alvos precisos. “Não posso ser alguém que não pensa com fluidez e não tenham um começo, meio e fim nas demandas que eu compro”, diz.
Inadimplência recorde
De acordo com dados do Banco Central, as taxas médias de juros em julho ficaram em torno de 25% para as pessoas jurídicas. Com este custo, muitas firmas não conseguem honrar os pagamentos. Quase três em cada quatro negócios do país estão inadimplentes, de acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
E, antes mesmo dos efeitos do juro prolongado na economia e do tarifaço, os pedidos de recuperação judicial já haviam aumentado 61,8% no ano passado, totalizando 2.273 solicitações — o maior número desde o início da série histórica, iniciada em 2006.
Foram problemas no caixa que levaram a Oi (OIBR3) a migrar para o Chapter 11, modalidade semelhante à recuperação judicial brasileira. A Azul (AZUL4) também obteve aprovação final para as suas petições nos EUA, garantindo continuidade ao plano de reestruturação financeira aprovado por lá.
Já a Gol (GOLL54) concluiu em junho sua recuperação judicial no exterior com um plano de capitalização de R$ 12 bilhões.
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Autor: Élida Oliveira