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‘Ganhar milhões também é bom’: por que o private equity brasileiro está olhando para os EUA

Quando fundou a startup Billor nos Estados Unidos em 2023, o empreendedor Jardel Cardoso enxergou uma oportunidade: motoristas imigrantes enfrentavam dificuldades para financiar seus próprios caminhões e conquistar autonomia no setor de transportes americano, um mercado que passa do US$ 1 trilhão. O potencial existia, mas faltava quem apostasse no negócio e ajudasse a impulsioná-lo.

Foi nesse cenário que a Leste, casa do ex-sócio do BTG Pactual Emmanuel Hermann, entrou em cena e investiu na firma no início deste ano. A gestora viu no negócio de Cardoso uma oportunidade de investimento alinhada à sua filosofia de investimentos: fomentar o crescimento de firmas em setores resilientes, com acesso a capital e atuação em mercados com alta demanda.

A partir de 2024, o braço de private equity – negócio que compra participação em firmas – da Leste migrou seu foco para os Estados Unidos em busca de mercados mais líquidos e dinâmicos. “A grande razão da nossa mudança foi a liquidez. O mercado americano oferece uma profundidade de transações que o Brasil ainda não tem”, explica Fabrício Bossle, sócio da gestora.

A Leste busca firmas que, mais do que perseguir crescimento acelerado, apresentem margens saudáveis e capacidade de expansão. “A gente olha três pilares: tamanho do mercado, qualidade da gestão e margens boas”, afirma Eduardo Karrer, também sócio da gestora. Outro fator que não pode ser desprezado é a geração de caixa ser em moeda forte.

Seca no Brasil

Antes da virada para os Estados Unidos, a Leste já havia acumulado experiência relevante em private equity no Brasil, com destaque para a rede de academias Bluefit, hoje a principal rival da Smart Fit.

Investida em 2016, quando tinha apenas quatro unidades, a firma cresceu para mais de 130 academias e chegou a se preparar para um IPO. Com a janela de mercado fechada, a saída se deu em 2023 por meio da venda de uma participação para os árabes do Mubadala, marcando uma das últimas grandes realizações da gestora no país.

Aliás, a seca de IPOs desde 2021 tornou o ambiente para novos investimentos no Brasil cada vez mais desafiador. Em 2024, o volume de operações de private equity recuou 44%, para R$ 13,3 bilhões, no menor nível em cinco anos, segundo dados da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). A combinação de juros elevados e incerteza econômica reduziu a atratividade do país para novas apostas de longo prazo.

Diante desse cenário, a Leste acelerou sua estratégia de internacionalização, mirando empreendedores latino-americanos que buscam crescer em mercados mais líquidos e previsíveis.

Um outro olhar

O modelo da Leste é baseado em investimentos minoritários relevantes (de 15% a 49%) em firmas avaliadas entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, com cheques de US$ 25 milhões a US$ 100 milhões.

A expectativa de maturação dos investimentos, período após o qual a gestora vende sua fatia na firma, é de sete a dez anos, com múltiplos planos de saída previstos desde o início. “A gente precisa ter mais de uma rota de saída desenhada: pode ser um IPO, uma venda estratégica ou uma transação secundária [para outro private equity] – o que é mais fácil no mercado americano”, afirma Bossle.

Nessas operações de private equity, a Leste busca uma taxa interna de retorno (TIR) entre 25% e 30% em dólar. “Todo mundo quer ganhar bilhões, mas ganhar milhões também é muito bom”, prossegue o gestor.

Em outra frente, a Leste introduziu soluções de crédito estruturado para alavancar o crescimento das investidas sem sacrificar o “cap table” (composição acionária) dos fundadores.

Um exemplo é a estrutura criada para a Billor, que hoje tem cerca de 350 caminhões financiados e mira atingir uma frota de 5 mil veículos nos próximos anos, com o apoio de uma linha de crédito de US$ 335 milhões, a ser estruturada ao longo de três anos.

Outro exemplo é a Prestige Cosméticos, distribuidora de perfumes de luxo criada no Brasil e agora em expansão nos EUA e Canadá. A Leste adquiriu 49% da companhia no ano passado e quer multiplicar seu faturamento por dez nos próximos cinco anos.

“Nosso objetivo é transformar firmas brasileiras em multinacionais, apoiando a travessia para mercados mais maduros”, resume Bossle.

Hoje, a gestora opera em modelo “deal by deal” (negócio por negócio), captando recursos entre investidores parceiros a cada nova oportunidade. Mas os próximos passos são mais ambiciosos: a Leste planeja lançar um fundo de até US$ 500 milhões em 2026.

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Rikardy Tooge

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