Gol (GOLL54) fora da Bolsa: analistas veem prêmio de 23% para investidor; migração para a Azul (AZUL4) entra no radar
O fechamento de capital da Gol (GOLL54) por meio de uma oferta pública para aquisição (OPA) pode trazer um prêmio de até 23,8% para o investidor e tende a causar uma migração de capital de curto prazo para a Azul (AZUL4), disseram analistas nesta terça-feira (14).
Ontem à noite, a Gol anunciou a convocação de assembleias gerais para 4 de novembro para deliberar sobre a incorporação da companhia e da Gol Investment Brasil (GIB) pela Gol Linhas Aéreas S.A (GLA), com a consequente saída da aérea do Nível 2 de governança corporativa da B3 e fechamento de capital na Bolsa de Valores.
Segundo fato relevante encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a incorporação, que ainda depende de aprovações, tem o objetivo de reorganizar as operações da companhia, buscar sinergias e reduzir seus custos. Pela proposta, a GLA incorporará a integralidade do acervo patrimonial da companhia e da GIB e sucederá ambas em todos os seus direitos e obrigações, com a consequente extinção delas.
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Além disso, a GIB, como acionista controladora da Gol, realizará uma OPA de ações de emissão da firma para a saída do Nível 2. Poderão participar da operação todos os acionistas minoritários titulares de ações preferenciais da Gol, incluindo os titulares dos bônus de subscrição. Será concedido direito de recesso aos acionistas dissidentes.
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Conforme o fato relevante, o preço apurado no laudo de avaliação da OPA a ser emitido tende a ser igual ou superior a R$ 47,2 milhões. Para Artur Horta, especialista em investimentos da The Link Investimentos, esse preço oferece um prêmio de 23,82% para o investidor.
A conta do especialista considera o valor de R$ 47,2 milhões, dividido por 7,5 bilhões de ações preferenciais no lote de mil ações. Essa quantia equivale a R$ 6,29 por lote de 1 mil papéis. No fechamento de ontem, o lote de 1 mil ações da Gol era negociado a R$ 5,08. Ou seja, a diferença de R$ 5,08 para R$ 6,29 equivale ao ganho de 23,82%.
“Esse prêmio é maior que o oferecido inicialmente na OPA da Cielo e até outras mais recentes. Esse pode ser um ganho atrativo para o investidor”, explica Horta.
O fechamento de capital da Cielo ofereceu um prêmio inicial de 7,42% para os investidores minoritários, isso porque a ação da companhia fechou o pregão cotada a R$ 4,98 no dia do anúncio, enquanto os controladores ofereceram R$ 5,35 por ação. A medida gerou disputa entre os minoritários e os controladores. No fim da história, a Cielo comprou os últimos papéis em circulação no mercado a R$ 5,82, prêmio de 14,4%.
O que o investidor da Gol deve fazer agora?
Ainda assim, os analistas reforçam que essa é apenas uma estimativa e que o investidor deve ficar atento ao preço final, que pode ser definido na assembleia no dia 4 de novembro. Humberto Aillon, especialista em firmas na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), explica que a transação prevê a troca de papéis e que cada acionista da Gol receberá ações da GLA.
Entretanto, destaca-se que o ativo relevante da GLA é a própria Gol e os passivos materiais não foram contabilizados, o que deve trazer pressão para a GLA e os “novos acionistas”. “Como a GLA é um papel sem liquidez, os acionistas minoritários serão forçados a vendê-lo antes da conversão, a menos que queiram ficar com o ativo”, explica Aillon.
Para Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, aderir à OPA da Gol pode ser uma boa oportunidade para o investidor, visto que as perspectivas para a companhia não são positivas.
“A firma vem patinando há anos, sofrendo com custos dolarizados e receitas em reais, e precisa se reorganizar para cortar custos e reter caixa útil para, só depois, pensar em investir e expandir sua malha. Por isso, esse pode ser um bom negócio para os investidores, visto que não temos grandes projeções de valorização no longo prazo”, disse Sant’Anna.
Já Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, reforça que se o investidor não quiser sair do papel, pois acredita nos fundamentos da firma, é possível continuar acionista. Todavia, para manter a participação acionária, é necessário integrar uma companhia de capital fechado, reduzindo a liquidez em caso de necessidade de venda das ações.
“Se o acionista aceita o risco de ficar ‘preso’ como sócio sem mercado secundário e com menor transparência, pode considerar manter, mas essa é uma posição mais especulativa e arriscada”, salienta Lima.
Quais podem ser os impactos para Azul?
Do ponto de vista macro, os analistas não enxergam uma mudança estrutural para a Azul no médio e longo prazo. No entanto, como a firma será a única brasileira do setor aéreo com capital aberto na B3, o papel pode demonstrar uma migração de investidores da Gol para a Azul no curto prazo. Humberto Aillon, da Fipecafi , acredita que os investidores do setor aéreo devem passar a avaliar as ações da Azul.
“Contudo, não vejo pressão estruturante no papel, especialmente pelo cenário complexo em que a Azul se encontra, de recuperação judicial. Assim, a ação da Azul negocia abaixo de R$ 1,20 e deve encarar volatilidade no médio e longo prazo”, explica Aillon.
No fim da manhã desta terça-feira (14), os papéis AZUL4 mantinham estabilidade, cotados no memso preço do fechamento do pregão anterior, R$ 1,15.
Caio Caputo, advogado especialista em direito societário e sócio do Caputo, Bastos e Serra Advogados, reforça a tese. Segundo ele, o desempenho da Azul continuará atrelado à sua capacidade de gestão, à redução de custos e ao ritmo de recuperação do setor aéreo. “O fechamento de capital da concorrente não muda, por si só, os fundamentos econômicos. Entretanto, esse movimento pode gerar uma valorização inicial, já que os investidores que desejam exposição ao setor terão praticamente uma única alternativa”, conclui Caputo.
Em suma, o investidor pode ter uma OPA vantajosa diante do possível prêmio pago pelos controladores e das projeções pessimistas dos analistas para a Gol (GOLL54). Já para Azul, o investidor pode até encontrar procura de capital por AZUL4, mas apenas no curto prazo e sem impacto para a tese da firma.
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Autor: Bruno Andrade