O motor invisível que transforma crédito em investimentos
Fundos de Investimento em Direitos Creditórios – FIDCs, no jargão do mercado monetário – têm uma presença na economia bem mais abrangente do que o nome pode sugerir. Quando uma firma antecipa o recebimento de vendas a prazo, quando um banco organiza carteiras de financiamentos, ou quando uma rede de lojas busca transformar duplicatas em liquidez, lá estão os FIDCs.
Em essência, esses fundos compram direitos creditórios (isto é, valores que uma firma tem a receber no futuro) e os transformam em ativos para investidores.
Para as firmas, os FIDCs funcionam como uma fonte alternativa de financiamento. Para os investidores, uma forma de aplicar recursos com retorno atrelado ao risco de crédito. E para o mercado, cumprem a função de ampliar e diversificar o acesso ao capital, reduzindo a dependência do sistema bancário tradicional.
Mercado em expansão
Evolução do carteira de FIDC’s por segmento em R$ milhões | ||||||||
Ativos-Lastro | dez./24 | jan./25 | Feb 25 | mar./25 | Apr 25 | May 25 | jun./25 | jul./25 |
Total Carteiras | 563.471 | 566.931 | 578.278 | 587.280 | 600.553 | 606.743 | 667.038 | 675.374 |
Recebíveis Comerciais | 205.751 | 205.898 | 212.073 | 214.395 | 217.488 | 223.292 | 262.996 | 269.167 |
Multiclasse | 86.206 | 86.720 | 88.872 | 90.365 | 92.723 | 98.032 | 100.264 | 102.417 |
Crédito Pessoal | 78.777 | 80.205 | 81.292 | 82.999 | 85.251 | 86.802 | 91.388 | 92.029 |
Crédito Pessoa Jurídica | 49.026 | 48.170 | 49.118 | 49.158 | 51.768 | 48.440 | 46.651 | 45.816 |
Ações Judiciais e Precatórios | 35.731 | 36.066 | 35.256 | 36.361 | 38.298 | 39.620 | 41.066 | 41.626 |
Setor Público | 27.846 | 27.517 | 27.757 | 27.601 | 27.753 | 25.884 | 28.356 | 28.334 |
Financiamento de Veículos | 20.925 | 20.488 | 21.082 | 20.958 | 21.074 | 20.531 | 22.446 | 23.025 |
Recebíveis do Agronegócio | 21.848 | 22.597 | 22.862 | 23.502 | 23.370 | 21.227 | 20.105 | 18.615 |
Prestação de Serviço Público | 6.995 | 7.020 | 8.024 | 8.925 | 8.957 | 10.331 | 12.630 | 12.717 |
Títulos Mobiliários | 5.673 | 6.979 | 7.219 | 7.509 | 8.589 | 8.984 | 10.705 | 11.480 |
FIAGRO | 7.606 | 8.033 | 7.681 | 7.888 | 7.866 | 7.483 | 7.834 | 7.160 |
Recebíveis Médicos | 502 | 499 | 463 | 460 | 470 | 466 | 6.959 | 6.944 |
Recebíveis Educacionais | 6.400 | 6.562 | 6.281 | 6.977 | 6.767 | 5.651 | 5.420 | 5.437 |
Crédito Imobiliário | 4.931 | 4.967 | 5.047 | 4.985 | 4.918 | 4.886 | 4.993 | 5.142 |
Direitos | 2.920 | 2.844 | 2.844 | 2.828 | 2.830 | 2.646 | 2.689 | 2.848 |
Tributos | 1.865 | 1.884 | 1.921 | 1.888 | 1.934 | 1.964 | 2.026 | 2.109 |
Aluguel | 471 | 484 | 486 | 481 | 497 | 504 | 509 | 509 |
Elos Ayta / UQBAR |
De acordo com levantamento da Elos Ayta com base nos dados da plataforma Uqbar, a carteira de FIDCs atingiu em julho de 2025 o recorde de R$ 675,3 bilhões, crescimento de 19,86% em relação a dezembro de 2024.
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O destaque vem do segmento de Recebíveis Médicos, que saltou de R$ 502 milhões em dezembro para R$ 6,9 bilhões em julho, um avanço superior a 1.200%. Na segunda posição aparece o segmento de Títulos Mobiliários, que mais que dobrou de tamanho (+102%), alcançando R$ 11,4 bilhões. A categoria Prestação de Serviço Público completa o pódio de maiores crescimentos, com alta de 81,79%, chegando a R$ 12,7 bilhões. A classificação dos segmentos segue a metodologia própria da plataforma Uqbar, que cruza informações dos informes mensais e regulamentos dos fundos.
Na ponta negativa, o setor de Recebíveis Educacionais encolheu 15,04%, com uma perda de R$ 963 milhões desde dezembro. Os Recebíveis do Agronegócio também recuaram (-14,79%), assim como o Crédito Pessoa Jurídica, que caiu 6,55% no período.
Um ponto adicional é a estabilidade de segmentos tradicionais como Crédito Pessoal, que cresceu apenas 11,7% no período, e Financiamento de Veículos, que avançou 10% até julho. Ou seja, o crescimento de novos nichos foi muito mais acelerado que o desses setores clássicos do crédito.
Faca de dois gumes
Participação percentual por segmento das carteiras de FIDC’s | ||||||||
dez/24 | jan/25 | fev/25 | mar/25 | abr/25 | mai/25 | jun/25 | jul/25 | |
Recebíveis Comerciais | 36,5% | 36,3% | 36,7% | 36,5% | 36,2% | 36,8% | 39,4% | 39,9% |
Multiclasse | 15,3% | 15,3% | 15,4% | 15,4% | 15,4% | 16,2% | 15,0% | 15,2% |
Crédito Pessoal | 14,0% | 14,1% | 14,1% | 14,1% | 14,2% | 14,3% | 13,7% | 13,6% |
Crédito Pessoa Jurídica | 8,7% | 8,5% | 8,5% | 8,4% | 8,6% | 8,0% | 7,0% | 6,8% |
Ações Judiciais e Precatórios | 6,3% | 6,4% | 6,1% | 6,2% | 6,4% | 6,5% | 6,2% | 6,2% |
Setor Público | 4,9% | 4,9% | 4,8% | 4,7% | 4,6% | 4,3% | 4,3% | 4,2% |
Financiamento de Veículos | 3,7% | 3,6% | 3,6% | 3,6% | 3,5% | 3,4% | 3,4% | 3,4% |
Recebíveis do Agronegócio | 3,9% | 4,0% | 4,0% | 4,0% | 3,9% | 3,5% | 3,0% | 2,8% |
Prestação de Serviço Público | 1,2% | 1,2% | 1,4% | 1,5% | 1,5% | 1,7% | 1,9% | 1,9% |
Títulos Mobiliários | 1,0% | 1,2% | 1,2% | 1,3% | 1,4% | 1,5% | 1,6% | 1,7% |
FIAGRO | 1,3% | 1,4% | 1,3% | 1,3% | 1,3% | 1,2% | 1,2% | 1,1% |
Recebíveis Médicos | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 1,0% | 1,0% |
Recebíveis Educacionais | 1,1% | 1,2% | 1,1% | 1,2% | 1,1% | 0,9% | 0,8% | 0,8% |
Crédito Imobiliário | 0,9% | 0,9% | 0,9% | 0,8% | 0,8% | 0,8% | 0,7% | 0,8% |
Direitos | 0,5% | 0,5% | 0,5% | 0,5% | 0,5% | 0,4% | 0,4% | 0,4% |
Tributos | 0,3% | 0,3% | 0,3% | 0,3% | 0,3% | 0,3% | 0,3% | 0,3% |
Aluguel | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% | 0,1% |
Elos Ayta / UQBAR |
Um dado salta aos olhos: os segmentos de Recebíveis Comerciais e Multiclasse concentram juntos mais de 50% do patrimônio dos FIDCs. Em julho, a participação chegou a 55,0%, a maior desde dezembro de 2024, quando era de 51,8%.
Essa concentração patrimonial é uma faca de dois gumes. De um lado, ela deixa clara a relevância estratégica desses setores na engrenagem dos FIDCs – são, afinal, os setores que mais geram recebíveis e onde a indústria encontra maior liquidez e escala. Mas há risco de dependência. Choques no crédito ao consumo ou no segmento de multiclasse poderiam impactar de forma desproporcional o mercado de FIDCs como um todo.
Um elo vital
Os FIDCs têm um papel essencial no sistema monetário brasileiro. Eles funcionam como pontes entre firmas e investidores, transformando recebíveis em liquidez e permitindo que recursos privados financiem diretamente a atividade econômica.
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Nos últimos anos, esse mercado se sofisticou, atraindo desde grandes fundos institucionais até family offices em busca de diversificação e maior rentabilidade. Ao mesmo tempo, ampliou a base de financiamento das firmas, especialmente em períodos de restrição de crédito bancário.
O que esperar?
FIDCs são muito mais do que uma sigla técnica: são um motor invisível do crédito no Brasil. Ao mesmo tempo em que ajudam firmas a manter o caixa saudável, oferecem aos investidores novas alternativas de retorno e fortalecem o mercado de capitais.
Se a concentração em segmentos como Recebíveis Comerciais e Multiclasse mostra a espinha dorsal dessa indústria, com todas as vantagens e riscos inerentes à concentração de recursos, o crescimento explosivo de nichos como saúde e serviços públicos abre espaço para uma diversificação que tende a tornar os FIDCs ainda mais relevantes no futuro.
Não por acaso, o setor de FIDCs será tema central das discussões ao longo do fórum de inovação financeira Uqbar Day 2025, a ser realizado em São Paulo no mês de outubro. Mais um sinal de que esse mercado deixou há muito tempo de ser coadjuvante quando o assunto é crédito.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: E-Investidor