Por trás da decisão de Trump de taxar o Brasil para salvar Bolsonaro


Desde março, Eduardo Bolsonaro, 41, deputado federal, tem circulado pelos corredores da Casa Branca.
Sua missão em Washington tem sido convencer autoridades americanas de que um ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil pretende prendê-lo, a ele e a seu pai, Jair Bolsonaro, por contestarem uma eleição que consideram fraudada.
Essa narrativa encontrou eco entre oficiais americanos. “Isso é, pura e simplesmente, um ataque a um adversário político — algo que eu conheço bem!”, escreveu o presidente Donald Trump nesta segunda-feira. “Foi pior comigo, mil vezes.”
Eduardo contou que vinha pedindo às autoridades da Casa Branca que aplicassem sanções ao ministro Alexandre de Moraes, responsável por conduzir investigações e processos contra Jair Bolsonaro.
No entanto, na quarta-feira, Trump optou por uma medida muito mais drástica: impor uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto, em retaliação ao que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Fontes presentes na reunião em que Trump defendeu a medida confidenciaram que a decisão foi tomada por ele, com o claro objetivo de pressionar o Brasil.
Além de ser legalmente controversa, a medida mostra a disposição do presidente americano de usar tarifas como arma política, capaz de causar grande impacto econômico e ampliar a pressão diplomática.
“Adoro isso”, declarou Steve Bannon. Ele vinha defendendo sanções contra o ministro brasileiro, mas admitiu que nem chegou a cogitar tarifas. “Agora é simples: se vocês abandonarem o processo, as tarifas caem.”
Perguntado se isso não caracterizava extorsão, ele respondeu apenas: “É o MAGA, meu amigo. É um mundo corajoso.”
Eduardo Bolsonaro, o comentarista Paulo Figueiredo e advogados da plataforma Rumble — frequentadora constante do público conservador e banida no Brasil — fizeram lobby junto a membros do Congresso e do governo americano nos últimos meses. Foram realizadas audiências, com o apoio de assessores da Casa Branca.
“Trump decidiu partir para o ataque com força total. Isso diz muito sobre ele”, afirmou Eduardo, que desde fevereiro vive no Texas e segue sob investigação no Brasil por interferência no caso de seu pai. “É a mesma caça às bruxas que ele sofreu nos EUA, e isso gera empatia.”
Eduardo construiu influência no círculo de Trump ao longo dos anos: fala inglês, esteve em Washington antes dos atos de 6 de janeiro de 2021 e no Mar-a-Lago na noite da eleição americana de 2024. Também jantou com Trump em Mar-a-Lago.
A decisão de Trump gerou a maior crise diplomática entre os dois maiores países das Américas em mais de uma década, além de representar um grande desafio para o presidente Lula, que agora busca se reposicionar como candidato em 2026.
Lula reagiu com veemência, afirmando que o Brasil não irá desistir dos processos contra Bolsonaro e anunciará novas tarifas contra produtos americanos. “O Brasil é um país soberano, com instituições independentes, e não aceitará tutela”, declarou numa nota na quarta-feira.
O impasse começou no domingo, quando Trump reagiu ao discurso de Lula sobre comércio injusto durante uma reunião de líderes do BRICS, advertindo que qualquer país alinhado a políticas “antiamericanas” sofreria tarifas de 10%.
Na segunda, Trump citou o Brasil diretamente: “Eles estão tratando mal o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo POVO.”
Lula reagiu: “Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos um imperador.”
Dois dias depois, Trump anunciou a tarifa de 50%, alegando que Bolsonaro sofre “perseguição” judicial e que o STF teria mandado remover contas de apoiadores nas redes sociais — além de citar incorretamente um suposto déficit comercial, quando, na verdade, o superávit dos EUA com o Brasil foi de US$ 7,4 bilhões em 2024.
A crise coloca Lula em uma situação delicada. Por um lado, a guerra tarifária pode causar impacto negativo na economia antes das eleições; por outro, ceder a Trump significaria traçar os valores democráticos que defende, especialmente num país onde a intervenção estrangeira sempre foi vista com desconfiança.
“A interferência de um país na soberania de outro”, disse Lula em entrevista. “E, mais grave ainda, a interferência de um presidente de um país no Judiciário do meu.”
Ele planeja levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), mas descarta falar com Trump por ora. “Não tenho nada para discutir com o presidente.”
O governo brasileiro avalia aplicar tarifas retaliatórias específicas a setores americanos, mas evita medidas amplas que possam prejudicar firmas nacionais que dependem de insumos dos EUA, afirmaram fontes oficiais.
Se o impasse persistir, o económico pode sofrer. Os EUA são o principal comprador de aço e café brasileiro, além de serem o segundo maior destino da carne nacional.
O comércio entre os países bateu recorde em 2024, com exportações brasileiras ao mercado americano somando US$ 40,3 bilhões — cerca de 15% das exportações totais do Brasil.
Nos últimos meses, o Brasil havia sido beneficiado pela disputa tarifária global: as exportações de carne bovina dobraram e as de café cresceram mais de 40% até maio, enquanto os rivais enfrentavam tarifação, segundo dados da Logcomex.
Alguns analistas veem oportunidade política para Lula, cujo apoio vinha caindo e hoje figura ligeiramente atrás de Bolsonaro nas pesquisas para 2026. O analista Thomas Traumann disse: “Lula deve estar adorando – agora ele tem um inimigo externo, e qualquer dificuldade econômica poderá ser atribuída a Trump e Bolsonaro.”
As tarifas entram em vigor às vésperas do julgamento de Bolsonaro por conspiração para manter-se no poder após perder a eleição de 2022. Ele é acusado de planejar golpe, desmontar o Judiciário e dar poderes especiais às Forças Armadas.
Após a derrota, milhares de seus apoiadores exigiram intervenção militar e, em 8 de janeiro de 2023, invadiram prédios públicos em Brasília. Ele nega que tenha incentivado o ato.
Na acusação mais grave, promotores afirmam que Bolsonaro estava ciente de um plano para assassinar Lula, Moraes e a vice-presidente, vido registros telefônicos que indicam que um assessor imprimiu o plano duas vezes dentro da Presidência — em uma ocasião com o então presidente no local. Bolsonaro negou qualquer envolvimento, mas admitiu que estudou alternativas constitucionais para se manter no poder.
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Autor: Paulo Barros