Presença de remédio para ansiedade na água está alterando vida de salmões, diz estudo


Pesquisadores alertam que a presença de ansiolíticos em rios pode estar modificando o comportamento migratório de salmões jovens, com impactos ainda desconhecidos para a sobrevivência da espécie.
Um novo estudo publicado na revista Science em 10 de abril mostra que o medicamento clobazam — comumente usado no tratamento da ansiedade e epilepsia — altera o tempo e a forma como esses peixes chegam ao oceano.

Governo projeta falta de recursos para saúde e educação no Orçamento de 2027
Projeção do Orçamento aponta falta de espaço fiscal para cumprir pisos constitucionais; arcabouço e precatórios pressionam gastos até 2029

MPF questiona veto a terapia hormonal para crianças e adolescentes
Associação pede apuração da legalidade de resolução do CFM
A substância, um benzodiazepínico frequentemente detectado em águas residuais ao redor do mundo, parece acelerar a jornada migratória dos salmões, fazendo com que cheguem mais rapidamente ao mar e atravessem represas com mais agilidade. Embora o efeito possa parecer benéfico à primeira vista, os cientistas advertem que esse tipo de interferência psicoativa em animais silvestres pode ter consequências graves e imprevisíveis.
“Peixes e humanos compartilham parte significativa da mesma arquitetura biológica. Não é surpresa que drogas desenvolvidas para o sistema nervoso humano também impactem os peixes”, afirmou à CNN o professor Christopher Caudill, da Universidade de Idaho, que não participou do estudo.
Salmões “sem medo”
O estudo foi liderado pelo biólogo Marcus Michelangeli, da Universidade Griffith (Austrália), e acompanhou a migração de mais de 700 salmões jovens no rio Dal, na Suécia, entre 2020 e 2021. O experimento utilizou implantes com liberação controlada de clobazam e tramadol, um analgésico opioide. Os pesquisadores compararam os peixes medicados com um grupo de controle.
Salmões expostos ao clobazam chegaram ao Mar Báltico em maior número e mais rapidamente. No entanto, os cientistas identificaram alterações no comportamento coletivo desses peixes, que passaram a nadar mais afastados uns dos outros, mesmo diante de predadores — um sinal de que a droga reduz as respostas naturais ao medo. Além disso, eles cruzaram represas em velocidade até oito vezes maior, o que pode aumentar o risco de morte nas turbinas hidrelétricas. “A travessia do rio para o oceano é um dos momentos mais perigosos da vida de um salmão. Se as drogas reduzem a cautela desses animais, eles podem ser presas mais fáceis no ambiente marinho”, explicou Caudill.
Sinais de alerta
Essa é uma das primeiras pesquisas em campo a avaliar o impacto real de contaminantes farmacêuticos no comportamento animal em larga escala. Estudos anteriores já haviam demonstrado que benzodiazepínicos influenciam a atividade de peixes, mas eram realizados em laboratórios e com doses acima das normalmente encontradas na natureza. Michelangeli alerta que os resultados mostram a urgência de investigar como a poluição invisível — como remédios presentes em esgotos — pode afetar ecossistemas inteiros. “Mesmo alterações sutis de comportamento podem, a longo prazo, reduzir a taxa de sobrevivência e prejudicar a reprodução. Precisamos entender melhor como essas mudanças se traduzem em impactos populacionais”, afirmou. O pesquisador pretende expandir os estudos para outras espécies e regiões.
Desafio global
A preocupação maior é com o efeito acumulado: muitas substâncias, mesmo em doses baixas, podem interagir entre si e causar alterações imprevisíveis no comportamento de animais silvestres. A poluição farmacêutica é um desafio global. A presença de remédios como ansiolíticos, anticoncepcionais e analgésicos em águas doces já é uma preocupação ambiental crescente. Estudos apontam que esses contaminantes afetam desde peixes até insetos aquáticos e anfíbios. A União Europeia e os Estados Unidos têm intensificado discussões sobre regulação, mas os sistemas de esgoto ainda não conseguem remover completamente essas substâncias.
Para os pesquisadores, o caso dos salmões serve como um alerta de que é preciso rever o impacto da atividade humana sobre os rios e oceanos. “A ideia de que mais salmões chegam ao mar não significa que a população esteja melhor. Eles podem estar menos preparados para sobreviver”, concluiu Michelangeli.
The post Presença de remédio para ansiedade na água está alterando vida de salmões, diz estudo appeared first on InfoMoney.
O que achou dessa notícia? Deixe um comentário abaixo e/ou compartilhe em suas redes sociais. Assim deixaremos mais pessoas por dentro do mundo das finanças, economia e investimentos!
Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Marina Verenicz