“Produzimos o que é necessário e nada em excesso”, diz CEO da Lojas Renner sobre cenário de juros altos
Para a Lojas Renner (LREN3), o segredo para manter as margens de lucro e inadimplência controladas em um ambiente de juros nas alturas pode ser resumido em uma palavra: investimento. A companhia, que viu o lucro crescer 58,7% no 1º trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, apostou em tecnologia e capacitação do time para navegar mais um período desafiador.
Isto porque as projeções apontam para uma taxa Selic em 15% ao ano até o final de 2025 e acima dos dois dígitos até 2028. Esse desenho, entretanto, não assusta a varejista, que nesta terça-feira (1) comemora marcos históricos em sequência. Há 20 anos, a Renner foi a primeira companhia a ter a totalidade das ações negociadas em Bolsa, sem controlador definido, após a saída da rede americana JC Penney do quadro acionário. Também faz duas décadas que a Lojas Renner está listada no Novo Mercado, um grupo seleto que reúne as firmas com maior nível de governança corporativa da B3.
No total, são 60 anos de experiência no varejo – e de adaptação aos diversos ciclos e crises da economia brasileira. Agora, com o maior nível de juros desde 2006, essa capacidade de se adaptar será testada novamente. “Trabalhamos muito em encurtar os nossos ciclos produtivos e sermos mais responsivos à demanda”, diz Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner, em entrevista ao E-Investidor. “Dessa forma, temos uma firma mais sustentável e que gera valor ao acionista porque produzimos o que é necessário, o que está sendo consumido e nada em excesso. Evita desperdício e prepara a firma tanto para bons quanto para maus momentos.”
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Apesar de estar preparado para o pior, Faccio não transparece pessimismo. O executivo vê as ações da Lojas Renner, que já sobem mais de 60% no ano, como descontadas. “Acreditamos tanto nisso, que temos em curso o maior plano de recompra da nossa história”, afirma o CEO, que planeja abrir pelo menos 26 lojas físicas em 2025.
E-Investidor – O que foi essencial para a Renner conseguir navegar esses 20 anos de Novo Mercado trazendo resultados?
Fabio Adegas Faccio – Desde a fundação da Renner nós sempre tivemos um foco muito grande nos clientes e isso continuou sendo a essência: o engajamento do time com o propósito de gerar encantamento. Estamos sempre em busca de evoluir e inovar para continuar superando as expectativas dos nossos clientes e gerando valor para os acionistas. Eu diria que nesse período, principalmente por sermos uma firma com mais de 100 mil “donos”, reforçamos ainda mais as nossas práticas de ESG (boas práticas sociais, ambientais e de governança dentro de firmas). Já vinha das raízes da firma desde sempre, mas nessas últimas duas décadas nós nos destacamos ainda mais em inovação e sustentabilidade.
Lógico que tivemos altos e baixos ao longo da nossa história. Momentos mais difíceis, como na pandemia, mas, se olharmos do período de 2005 até 2024, a nossa receita saiu de R$ 1,5 bilhão para R$ 18,4 bilhões. São 1.660% de crescimento do valor das nossas ações, que ficaram muito acima dos 475% do Ibovespa
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O “aniversário” vem em uma boa fase nos números. No 1º trimestre houve crescimento do lucro líquido, vendas e margens, além de diminuição da inadimplência. Quais estratégias foram implementadas para alcançar esses resultados?
Nós viemos de um investimento muito grande, feito nos últimos 2 ou 3 anos, na melhoria do nosso negócio. Isto tanto na parte da melhoria de moda, de termos mais assertividade nas nossas coleções, como na disponibilização de mais ferramentas para o nosso time de desenvolvimento e uma integração maior com a nossa rede de fornecimento de forma digital, com uso de inteligência artificial.
Investimos muito para sermos uma firma cada vez mais conectada, digital, encantadora e isso vem sendo reconhecido pelos nossos clientes e isso acaba gerando resultados crescentes também no nosso balanço, para o nosso acionista. Mesmo em um cenário desafiador, temos um plano de investimento bastante robusto, em torno de R$ 850 milhões de reais para serem investidos no ano. Devemos aumentar o número de lojas novas em relação aos anos anteriores. Queremos abrir de 15 a 20 lojas da marca Renner, de 10 a 15 lojas da marca Youcom e de 1 a 2 lojas da Camicado. Isso mostra que o potencial da firma em cenários difíceis continua sendo importante.
Mas como a Lojas Renner tem se preparado para o cenário esperado de juros em 15% por mais tempo e uma possível desaceleração do consumo no 2º semestre?
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Juros altos não ajudam ninguém, é um cenário difícil para o nosso país, mas a gente vem tendo uma performance positiva mesmo assim.
Com todos esses investimentos, nós nos preparamos para sermos uma firma mais flexível e preparada para lidar com qualquer cenário. Trabalhamos muito em encurtar os nossos ciclos produtivos, desde o desenho dos produtos e captura das tendências, até chegar nas nossas lojas, sites e aplicativos.
Logo, conseguimos ser mais responsivos. Produzimos só o que é necessário e ajustamos os estoques para a demanda. Se o mercado está mais aquecido a gente consegue ter uma produção maior, se o mercado desaquece e temos um cenário mais difícil, conseguimos rapidamente ajustar os estoques. Assim, temos uma firma mais sustentável e que gera valor ao acionista porque produzimos o que é necessário, o que está sendo consumido e nada em excesso. Evita desperdício e prepara a firma tanto para bons quanto para maus momentos.
E esses investimentos serão o suficiente para frear o aumento da inadimplência na carteira com juros de 15% ao ano?
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Mesmo com o ambiente tão difícil a gente vê a inadimplência bastante controlada, no nosso caso, caindo. Na nossa firma, investimos muito no time de moda, operações de varejo e muito também na nossa financeira, a Realize.
Investimos muito na qualidade do nosso time na Realize e na melhoria das ferramentas tecnológicas para a decisão (de crédito). Então mesmo em um cenário desafiador, vemos a inadimplência em queda e temos uma carteira bastante controlada.
As ações da Lojas Renner já sobem quase 60% no ano, mas ainda estão longe de recuperaram os patamares pré-pandemia. O que falta para o mercado entender a respeito da Renner?
Por mais que a ação da Renner tenha subido bastante nesse ano, ela ainda tem muito potencial para subir. E a gente tanto acredita nisso, que temos em curso o maior plano de recompra da nossa história. Na nossa opinião, ainda com o cenário de baixa confiança no mercado, a ação ainda está com valor descontado.
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Do nosso lado, acho que a consistência na entrega dos resultados vai gerar uma confiança cada vez maior nos acionistas. Mas tem uma parte desse valor (a ser destravado) que vem de termos uma segurança maior no país, no cenário macro, e da própria situação da taxa de juros.
Quando é feita a redução da taxa de juros em um país, o valor de todas as firmas aumenta porque o custo de capital é menor. Então os múltiplos respondem à eficiência das firmas e a um cenário macro que quanto maior for a diminuição do risco, maior será a melhora na confiança no país. Espero que em breve possamos ter uma redução da taxa de juros.
Qual a análise sobre a situação atual do varejo, de forma geral, e as perspectivas para os próximos meses?
O varejo brasileiro é um varejo muito moderno, com firmas muito competentes. E o varejo de moda, especificamente, vem performando muito bem – as firmas que operam no Brasil estão crescendo cada vez mais em qualidade e competência.
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É um setor que batalha muito, gera muito emprego, movimenta bem a economia e merecia ser melhor reconhecido em geral pela importância na economia do país.
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Autor: Jenne Andrade