Os mercados monetários, que vinham demonstrando crescente insensibilidade às ameaças tarifárias dos EUA, enfrentarão um teste já na abertura desta segunda-feira (14), após o presidente Donald Trump anunciar uma tarifa de 30% sobre produtos da União Europeia e do México a partir de 1º de agosto.
Trump elevou o tom das medidas comerciais e prometeu que mais tarifas virão para países como Canadá, Brasil e Argélia — ao mesmo tempo em que convidou os parceiros a negociar. Apesar de alertas contra a complacência, como os feitos pelo CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, investidores seguem agindo como se Trump fosse recuar novamente, como já fez no passado.
“Os investidores não deveriam contar com Trump blefando sobre a tarifa de 30% para produtos europeus”, escreveu Brian Jacobsen, economista-chefe da Annex Wealth Management. “Esse nível de tarifa é punitivo, mas provavelmente prejudica mais eles do que os EUA. O tempo está correndo.”
O Bitcoin, que opera também nos fins de semana, pouco reagiu após os últimos anúncios de Trump, mesmo após ter batido recorde histórico nos últimos dias.
Os mercados cambiais devem oferecer os primeiros sinais do impacto no apetite por risco global assim que reabrirem às 5h de segunda-feira, no horário de Sydney. O euro atingiu neste mês o maior valor frente ao dólar desde 2021, enquanto o peso mexicano alcançou o maior patamar em um ano, cotado a 18,5525 por dólar em 9 de julho.
Risco político se soma à incerteza comercial
As críticas de Trump e aliados ao presidente do Fed, Jerome Powell — por conta da cara reforma da sede do banco central —, também podem afetar os mercados no início da semana. Alguns membros do governo estariam articulando sua remoção do Conselho de Governadores.
Para George Saravelos, estrategista do Deutsche Bank, a eventual demissão de Powell é um risco importante e mal precificado. “Se Trump o forçasse a sair, as próximas 24 horas provavelmente veriam uma queda de 3% a 4% no dólar e uma venda de ativos de renda fixa entre 30 e 40 pontos-base.”
Ele acrescenta que o dólar e os títulos carregariam um prêmio de risco “persistente”, e que investidores poderiam temer a politização das linhas de swap do Fed com outros bancos centrais.
O mercado já vinha enfrentando dificuldades para precificar a política tarifária errática de Trump. Embora os ativos de risco e os Treasuries tenham caído após os anúncios de 2 de abril — batizados de “Dia da Libertação” —, a maior parte do movimento já foi revertida depois que o presidente adiou muitas tarifas prometidas.
A UE vinha negociando um acordo para evitar novas tarifas, mas a carta de Trump derrubou o otimismo recente em Bruxelas — embora ele tenha deixado brechas para ajustes. “Como sempre, há muitas condições e cláusulas que podem reduzir essas tarifas”, disse Jacobsen. “Por isso, o mercado pode até não gostar do discurso, mas também não está entrando em pânico.”
Mesmo com Trump insistindo que 1º de agosto é um prazo firme, o mercado agiu como se ainda houvesse margem de negociação. Ainda assim, houve algum sinal de cautela na sexta-feira: as ações caíram de máximas históricas e o dólar teve sua melhor semana desde fevereiro.
“O mercado não está acreditando no Trump, então talvez vejamos uma pressão temporária sobre o câmbio”, disse Gabriela Siller, diretora de análise econômica do Grupo Financiero Base. “A menos que a tarifa realmente entre em vigor e seja cobrada, o que, segundo dados de comércio dos EUA, nem sempre ocorre conforme o previsto.”
Em carta à presidente do México, Claudia Sheinbaum, Trump reconheceu a ajuda do país no controle da fronteira, mas disse que “não foi suficiente”. Segundo a Casa Branca, a tarifa de 30% não se aplicará a produtos compatíveis com o acordo USMCA.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Bloomberg
