Tombo de US$ 80 bilhões do Ethereum testa os nervos dos entusiastas cripto
Há dois meses, o entusiasmo em torno do Ethereum — a blockchain que sustenta um dos pilares da economia cripto — transbordava para o mainstream. Seu token nativo, o Ether, havia disparado ao maior nível em quatro anos, enquanto investidores o tratavam ao mesmo tempo como moeda e como uma aposta no papel crescente da rede em pagamentos e finanças.
Mesas de Wall Street estruturavam fundos atrelados ao ativo, e um projeto-piloto da plataforma global de transferência de recursos Swift com uma solução cripto vinculada ao Ethereum parecia selar sua chegada como infraestrutura do mundo real.
Esse enredo agora dá sinais de rachadura. O Ether caiu cerca de 20% desde o pico, apagando algo como US$ 80 bilhões em valor dos criptoativos e reacendendo dúvidas sobre a capacidade do Ethereum de atravessar mais um ciclo de baixa. O que começou como um momento de virada para a blockchain mais utilizada virou lembrete de que, em cripto, crença e preço ainda andam juntos.
“A punição se deve em grande parte ao desempenho recente de ETH e ao fato de ele ser mais volátil do que o BTC”, disse Noelle Acheson, autora da newsletter Crypto is Macro Now. “Se os investidores precisam reduzir a exposição em um movimento de aversão a risco, é mais provável que vendam ETH do que BTC.”
O Ether chegou a cair 9,3%, a US$ 3.893, na terça-feira (14), antes de reduzir as perdas para 2,37%, subindo para US$ 4.123,81. O Bitcoin (BTC) recuava cerca de 1,57%, a US$ 113.230.
Tokens menores e mais voláteis também cederam, levando a capitalização total do mercado de criptomoedas a encolher mais de US$ 150 bilhões em 24 horas, segundo a CoinGecko.
O movimento atingiu também os ETFs. Investidores sacaram cerca de US$ 428 milhões de fundos atrelados ao Ether na sessão mais recente disponível — um dos maiores resgates diários já registrados — de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O fundo de Ether da BlackRock Inc. — o maior do grupo — registrou aproximadamente US$ 310 milhões em saídas, seu segundo maior resgate de um único dia desde o lançamento, em julho de 2024.
“Já vimos isso acontecer com o Ethereum, especialmente várias vezes no último ano”, disse Roxanna Islam, chefe de pesquisa setorial da VettaFi, ao comentar a queda acentuada do ativo. O Ethereum “é mais uma aposta de tecnologia; por isso, a volatilidade costuma ser um pouco maior”.
Desmontes tão bruscos costumam trazer volatilidade elevada na fase de recuperação, à medida que traders refazem posições e consertam balanços após perdas inesperadas, afirma Stéphane Ouellette, CEO e cofundador da FRNT Financial Inc. Segundo ele, os mercados de perpetual swaps (contratos derivativos de futuros) passaram por forte desalavancagem, com o open interest (número de contratos de derivativos em aberto) de Bitcoin e Ether na exchange Binance despencando cerca de 40% em meio a liquidações generalizadas.
Tom Lee não ficou parado. Além de comandar a Fundstrat Global Advisors, ele preside o conselho da BitMine Immersion Technology Inc. A chamada firma de “tesouraria digital” disse na segunda-feira que adquiriu mais de 200 mil tokens de Ether, avaliados em mais de US$ 79 milhões “nos últimos dias”, e agora detém mais de US$ 3 bilhões em criptomoedas.
As ações da BitMine também sentiram o baque na cotação do Ether. O papel caía 5%, para cerca de US$ 54, na terça-feira, longe da máxima histórica de US$ 135 registrada em julho. No acumulado do ano, porém, a alta ainda supera 500%.
“Após quedas tão violentas, é comum ver alguma volatilidade na recuperação, à medida que o posicionamento é refeito — um enorme número de traders sofreu liquidações inesperadas e precisa dar suporte e recompor os livros”, disse Ouellette.
De todo modo, embora o mercado tenha recuperado parte das perdas, o tombo levanta questionamentos sobre o futuro do ecossistema de altcoins – termo usado para identificar qualquer cripto diferente do BTC -, num momento em que participantes veem apoios estruturais a esses tokens sendo testados.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Bloomberg