Trump acelera ofensiva tarifária e ameaça revirar o comércio global até agosto


Parceiros comerciais dos EUA que tentam navegar pelas últimas semanas de negociações antes da entrada em vigor das chamadas tarifas recíprocas do presidente Donald Trump estão enfrentando um líder que deixou claro que perdeu a paciência com as conversas.
Mesmo com negociadores de Bruxelas a Nova Délhi correndo para encontrar uma saída para as tarifas punitivas que ele propôs, Trump continuou a enviar cartas definindo as alíquotas de forma unilateral — embora ainda deixando uma pequena margem de manobra.
Na manhã de sábado, Trump publicou cartas enviadas à presidente do México, Claudia Sheinbaum, e à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, estabelecendo uma alíquota de 30% para México e União Europeia a partir de 1º de agosto.
Ele afirmou que o México não fez o suficiente para conter o fluxo de fentanil para os EUA e reclamou que o déficit comercial da UE com os EUA era injusto. Trump sugeriu que ambos os parceiros poderiam tomar medidas para atenuar as alíquotas — ou ele poderia aumentá-las ainda mais se não gostasse das respostas.
Esforços por parte desses países e de outros para encontrar uma saída às tarifas punitivas devem se intensificar na próxima semana, antes de um novo prazo de 1º de agosto para que muitos dos tributos sobre importações entrem em vigor.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, está a caminho do Japão, enquanto negociadores da UE concentram-se em tarifas sobre automóveis e produtos agrícolas, na esperança de garantir ao menos um acordo provisório.
Os próximos dias também podem trazer uma nova leva de mensagens unilaterais da Casa Branca, fixando tarifas para países que o presidente considera não mais dignos de negociação.
Verão de tensão
Uma fase dramática da guerra comercial de Trump teve alguns dos maiores desdobramentos até agora em sua campanha tarifária, evidenciando os riscos para os parceiros comerciais e elevando a tensão antes do que o presidente insiste ser seu prazo final.
Sua impaciência explodiu nos últimos dias, ao preparar uma onda frenética de tarifas para 1º de agosto — atingindo antigos aliados como Japão e Coreia do Sul, que enfrentaram dificuldades nas negociações devido a pressões políticas internas; elevando algumas alíquotas para o vizinho Canadá, apesar da ofensiva de charme do primeiro-ministro Mark Carney; e impondo uma tarifa surpreendente de 50% sobre produtos do Brasil por disputas políticas não relacionadas.
A mensagem era clara: Trump pretende cumprir sua ameaça de abandonar negociações difíceis e simplesmente impor tarifas unilaterais — e uma nova enxurrada de tributos está a caminho, não muito diferente do anúncio de abril que provocou uma liquidação nos mercados.
Para as nações dependentes do comércio com os EUA, o tempo está se esgotando para decidir como negociar diante da escolha impossível imposta pela postura maximalista de Trump: ceder ou entrar em confronto. O próprio presidente já afirmou repetidamente que prefere tarifas unilaterais, sendo contido apenas por apelos de Bessent e outros assessores por mais paciência.
“A verdadeira questão é: Trump aceitará o que está sendo proposto? Os países vão oferecer algo mais? Como isso vai terminar?”, disse Wilbur Ross, ex-secretário de Comércio no primeiro mandato de Trump, à Bloomberg Television, na quinta-feira.
“Mas, no pior cenário, ele está totalmente preparado para seguir com as tarifas e encerrar o assunto por aí.”
Trump começou a semana estendendo o prazo de 9 de julho para 1º de agosto e renovando a ameaça ao Japão e à Coreia do Sul, onde as negociações se arrastam. Em uma reunião de gabinete, Bessent se gabou da enxurrada de impostos sendo arrecadados dos importadores.
“TACO”
O presidente tem se incomodado com o que chamam de “comércio TACO” — uma referência ao mercado apostar que “Trump sempre recua” nas ameaças tarifárias — e insistiu que esta extensão seria a última.
Ele também anunciou sua aguardada tarifa sobre o cobre, fixando-a em 50% e afirmando que entraria em vigor em 1º de agosto — uma medida que deve atingir uma ampla gama de produtos derivados. Trump também ameaçou impor uma tarifa de 200% sobre produtos farmacêuticos.
“Presumo que o que estamos vendo aqui seja uma tática de negociação”, disse Lars Suedekum, conselheiro econômico pessoal do ministro das Finanças da Alemanha, Lars Klingbeil.
“Já vimos isso muitas vezes nas últimas semanas: anúncios de tarifas seguidos de suspensões e recuos. Tem sido um vai e vem constante. Não vejo motivo para que agora seja diferente.”
Ainda assim, a prorrogação gerou uma nova corrida entre as nações que esperam convencer um presidente cuja agenda tarifária tem avançado em solavancos e reviravoltas.
A Índia tem avançado em um acordo comercial provisório que poderia reduzir suas tarifas propostas para menos de 20%, segundo pessoas familiarizadas com o assunto, acrescentando que Nova Délhi não espera receber uma carta com imposições tarifárias.
Mesmo com Bessent a caminho do Japão, a perspectiva de um avanço permanece incerta, e os EUA aguardam uma proposta melhor de Tóquio, disse um funcionário americano.
Na sexta-feira, o assessor de comércio da Casa Branca, Peter Navarro, incentivou outro país alvo de tarifas mais altas, o Canadá, a continuar negociando, reforçando que a porta ainda está aberta ao diálogo.
“Eu incentivaria os cidadãos canadenses a pressionarem seus líderes para negociar de forma justa conosco”, disse ele à Bloomberg Television na sexta.
Conflitos em expansão
As cartas de Trump anunciando tarifas a países específicos eram inicialmente padronizadas, distribuídas a parceiros que haviam sido atingidos com tarifas elevadas em seu anúncio de 2 de abril, o chamado “Dia da Libertação” — todos com superávit comercial com os EUA.
Mas seus alvos se expandiram: ele ameaçou uma tarifa de 50% sobre o Brasil, pressionando o país a interromper processos legais contra seu aliado Jair Bolsonaro — uma escalada significativa que demonstra como Trump tem usado o poder comercial em disputas não relacionadas.
O movimento também sinaliza que ele pretende aplicar tarifas elevadas mesmo a países como o Brasil, com os quais os EUA têm superávit na balança comercial de bens.
Trump também vem intensificando as ameaças contra países do BRICS, prometendo novas tarifas mesmo que esses países cheguem a algum tipo de acordo com ele.
A tarifa de 35% sobre o Canadá atingiu um dos maiores parceiros comerciais dos EUA — um país que não enfrentava uma alta tarifária iminente, como outros destinatários das cartas.
Esse aumento, no entanto, não deve se aplicar a produtos energéticos, que continuarão com tarifa de 10%, nem a bens em conformidade com o acordo comercial USMCA.
Em entrevista à NBC, Trump também sinalizou que poderia simplesmente elevar tarifas gerais para 15% ou 20%, acima dos atuais 10% aplicados à maioria dos parceiros comerciais — embora ainda não esteja claro o alcance dessa medida.
Acordos incertos
A Casa Branca de Trump já prometeu 90 acordos em 90 dias, mas até agora só fechou acordos com o Reino Unido, o Vietnã e uma trégua para redução de tarifas com a China — todos com ressalvas.
O acordo com a China permitiu uma redução da ‘escalada’ da guerra comercial entre as duas economias, mas deixou muitas questões em aberto, enquanto o pacto com o Reino Unido ainda enfrenta incertezas sobre tarifas sobre metais.
Embora Trump tenha comemorado um acordo com o Vietnã, o anúncio surpreendeu a liderança do país com uma tarifa mais alta do que o esperado — tornando-o mais parecido com suas cartas unilaterais do que com um pacto negociado mutuamente.
“Tenho receio de que possamos ter uma situação — e não sei se será em 1º de agosto ou mais adiante — em que ele não esteja blefando, mas todos achem que ele está blefando”, disse Michael Strain, diretor de política econômica do American Enterprise Institute, um think tank conservador.
“Quanto mais isso acontece, mais me preocupo que da próxima vez o prazo seja real.”
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Autor: Bloomberg