Turbulência com tarifaço de Trump: dólar pode voltar a superar os R$ 6?


A escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China voltou a agitar os mercados nesta segunda-feira (7), com o dólar disparando frente ao real e reacendendo temores de que a moeda americana possa novamente ultrapassar a marca dos R$ 6, como aconteceu em 29 de novembro de 2024, dia em que investidores aguardavam, apreensivos, o anúncio do pacote de corte de gastos do governo federal e do aumento do limite de isenção do Imposto de Renda.
Às 12h50 de hoje, o dólar subia 1,33%, cotado a R$ 5,913, após ter alcançado R$ 5,90 nas primeiras horas do pregão. A pressão sobre o câmbio é resultado direto da retaliação anunciada por Pequim às tarifas impostas por Donald Trump na última sexta-feira (4) e o presidente americano não mostrando que daria passos atrás. O fortalecimento da moeda americana, por sua vez, derrubou bolsas ao redor do mundo e impulsionou o índice de volatilidade nos mercados.
No Brasil, a reação foi imediata: o real mostra desvalorização, fruto da saída de recursos e a cautela de investidores estrangeiros. Ainda pesa o fato de que o país é altamente dependente do comércio exterior com China e EUA, os dois protagonistas da atual tensão.

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O movimento ampliou o pessimismo sobre o comércio global e levou investidores a buscar proteção no dólar, considerado um porto seguro em momentos de instabilidade. A afirmação é de Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas. Ele explica que a valorização da moeda americana está diretamente ligada ao movimento defensivo dos investidores. “Em momentos de aversão ao risco, investidores migram para ativos considerados mais seguros, como o dólar, retirando recursos de mercados emergentes como o Brasil, o que pressiona o real”, diz.
Para Gusmão, o agravamento das tensões geopolíticas, especialmente após o anúncio de novas tarifas comerciais pelos Estados Unidos, deve acionar um movimento mais intenso de saída de capitais de países emergentes. No caso do Brasil, esse deslocamento tende a se traduzir em um fluxo cambial negativo nas próximas semanas, com investidores estrangeiros retirando recursos do país e buscando aplicações mais conservadoras no exterior.
A leitura predominante entre agentes do mercado é que, diante de um ambiente internacional mais turbulento, ativos brasileiros — considerados mais arriscados — perdem atratividade. Essa dinâmica pressiona o câmbio e dificulta a entrada de novos investimentos. Se a percepção de risco global continuar aumentando, afirma o especialista, o real pode seguir se desvalorizando, acentuando a perda de fôlego da moeda brasileira frente ao dólar.
Intervenção
O mestre em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em economia e política internacional, Paulo Godoi Filho, aponta que a incerteza nos mercados aumentou após informações desencontradas sobre uma possível trégua de Washington. O assessor da Casa Branca, Kevin Hassett, chegou a afirmar que Trump considerava suspender as tarifas por 90 dias para todos os países, com exceção da China. Pouco depois, a própria Casa Branca negou a informação, classificando-a como “notícia falsa”, o que provocou nova rodada de instabilidade nos mercados.
Nos bastidores, cresce o temor de que a insistência de Trump em manter sua estratégia tarifária empurre a economia global para uma recessão. Com isso, o fluxo para ativos de menor risco ganha força, o que fortalece o dólar frente a moedas como o real, o peso chileno e o rand sul-africano.
Para não entrar em colapso, Filho diz que o Banco Central tem ferramentas à disposição para lidar com períodos de forte pressão cambial. O uso de reservas internacionais, contratos de swap cambial e leilões de linha, enumera ele, permite ao BC atuar quando necessário, principalmente para suavizar oscilações mais abruptas.
“A intervenção, no entanto, deve ser pontual e com foco na estabilidade, e não na defesa de um patamar específico do dólar. É preciso haver, acima de tudo, uma comunicação clara da autoridade monetária com o mercado como forma de reduzir o nervosismo dos agentes econômicos e evitar reações exageradas”, explica.
Dólar a R$ 6 já é realidade?
A marca dos R$ 6 voltou a entrar no radar do mercado, especialmente se os atritos comerciais continuarem se intensificando e caso o Banco Central brasileiro opte por não intervir diretamente no câmbio. Analistas observam que o ambiente internacional está cada vez mais imprevisível, o que pode manter a moeda americana em trajetória de alta.
Enquanto isso, a valorização do dólar pressiona a inflação via encarecimento de produtos importados e combustíveis, o que pode afetar o comportamento do Banco Central nas próximas decisões de política monetária. A combinação entre inflação mais alta e menor crescimento dificulta o trabalho das autoridades econômicas e aumenta a percepção de risco entre investidores.
Em meio à turbulência, o mercado cambial segue em alerta máximo. A possibilidade de o dólar voltar a superar os R$ 6 não está descartada, mas, segundo Gusmão, ainda é considerada uma hipótese extrema. Na avaliação dele, o risco existe, especialmente se houver uma fuga acentuada de capitais combinada a uma piora no quadro fiscal brasileiro. Nesse contexto, investidores poderiam aumentar a busca por proteção, elevando ainda mais a pressão sobre o real.

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Apesar disso, ele avalia que o patamar de R$ 6 permanece elevado e só seria alcançado em caso de agravamento expressivo tanto no ambiente externo quanto no interno. Por ora, o movimento de alta da moeda americana é motivo de atenção, mas esse valor ainda não é considerado o cenário mais provável.
Nos próximos dias, tanto Gusmão como Filho dizem que a expectativa é de que o mercado monetário continue operando com volatilidade, influenciado por incertezas ligadas à política comercial dos Estados Unidos, à divulgação de dados econômicos globais e às possíveis sinalizações do Banco Central brasileiro. Investidores devem manter uma postura mais cautelosa, diante do ambiente externo instável e da possibilidade de novos desdobramentos geopolíticos.
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Autor: murilomelo