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Turismo de isolamento ganha adeptos no RJ e espera por reservas pode superar 2 meses

Turismo de isolamento ganha adeptos no RJ e espera por reservas pode superar 2 meses

O sonho romântico de um amor e uma cabana ganha versão atualizada: além da promessa de clima ideal e aconchego, o que hoje configura o chamado “turismo de isolamento” é a distância da cidade grande. Serra, litoral e interior atraem milhares de turistas evadidos do caos urbano e em busca de reconexão com a família ou com o meio ambiente. Há ainda os que se identificam com o JOMO (Joy Of Missing Out), sigla em inglês para o “prazer de fazer nada”, e aproveitam os dias sem se preocupar com o que os outros estão dizendo ou fazendo — angústia típica da era das redes sociais.

Efeito da busca por dias menos acelerados, multiplicam-se no Rio, sobretudo no interior do estado, hospedagens — das equipadas às rústicas — que lembram cenários de filme e têm mais estrutura ou serviços do que os chalés, destinos bastante explorados nos anos 1990.

No catálogo de plataformas de hospedagem, há cabanas para todo tipo de freguês: das que ofertam turismo “sofisticado” de isolamento — ou seja, mesmo no meio do mato o cliente não ficará sem seu travesseiro de plumas ou aquela cafeteira italiana — às que se dedicam, sobretudo, a propostas de cuidado e acolhimento.

O desejo de criar um lugar onde casais, famílias ou grupos de amigos pudessem ter aconchego e “tempo de qualidade” foi o que motivou a advogada e influenciadora digital Sthefania Memelli e o médico Victor Lima a criarem a Cabana Ventania, em Paty do Alferes, no interior do estado. Na hospedagem envidraçada, os hóspedes têm acesso à rara coleção de discos do casal, com 300 títulos, área externa com sacada e vista para as montanhas, banheira ao ar livre e fogo de chão.

— Queríamos que as pessoas estivessem num espaço para se reconectar com suas companhias — diz Sthefania, que escreve sobre viagens há dez anos e, há três, oferece a cabana para aluguel.

O último quinquênio, diz Clara Carvalho de Lemos, professora associada do Departamento de Turismo e do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Uerj, foi um período de crescimento do interesse das pessoas pelo turismo de natureza. É resultado do impacto da urbanização intensa, da vida acelerada, barulhenta e estressante. Mas agora, afirma ela, as carências vão além:

— O caos leva a um isolamento físico e mental das pessoas, mas o que tenho visto nos estudos é que elas não buscam se isolar socialmente; vão para esses lugares com filhos, com amigos… A imersão é com companhia. E isso mostra que o turismo é uma experiência de sociabilidade também. Porque, na sociedade cada vez mais individualista, existe uma carência de estar junto de outras pessoas, sobretudo de quem se gosta.

À procura de refúgio

A fila de espera para reservas de fim de semana na Cabana Ventania chega a superar dois meses. Recentemente, os anfitriões abriram a Cabana Brisa, onde há piscina aquecida e área coberta do lado de fora.

As hospedagens incentivam a independência (o serviço é de self check-in), que favorece a privacidade. Então, clientes podem levar seus próprios vinhos, bebidas e demais alimentos. Caso não queiram, Sthefania e Victor enviam um guia para orientações:

— O grande diferencial é o cuidado, a atenção aos detalhes. Ninguém vai se sentir num lugar robótico. Cada cantinho, cada degrau foi pensado para o aconchego.

Segundo a plataforma de reservas de hospedagens Holmy, com 587 cabanas (ou chalés) entre as mais de 800 unidades de seu catálogo nacional, o interesse pelo turismo de isolamento aumenta a cada ano. Nos primeiros cinco meses de 2025, houve um aumento de 7% em relação ao mesmo período de 2024 — foram 570 reservas contra 532 do ano anterior. Em relação ao faturamento, a alta foi de 9,3%.

A diversificação de destinos acompanha o crescimento numérico: em vez de se aterem às serras Fluminense e dos Órgãos, os hóspedes consideram opções na Serra da Mantiqueira, que abrange partes de Minas Gerais e de São Paulo. Uma pesquisa encomendada pelo Airbnb publicada em abril indica que 39% dos entrevistados mencionam “escapismo” como um desejo de férias.

A professora de turismo Clara Lemos reforça que a poluição sonora e visual das metrópoles também pode influenciar:

— Muitos pesquisadores têm estudado as paisagens sonoras naturais, que são aquelas de silêncio ou em que há apreciação dos sons da natureza, que proporcionam momentos de calma e tranquilidade. Outros atrativos são as paisagens de dark sky. Na área urbana, os céus noturnos estão cada vez mais claros por conta da iluminação artificial. Então, as pessoas buscam o isolamento para conseguir ver estrelas.

Fugir da área urbana da cidade sem abandonar a capital também é uma saída. Ilha de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, atrai visitantes para a Cabana da Mata.

— A grande maioria dos hóspedes vem da própria capital e até de bairros próximos, entre eles Campo Grande, Recreio, Barra, e alguns da Zona Sul. Cerca de 90% — diz Vivian Bittencourt, de 35 anos, sócia do irmão Caio Bittencourt na Cabana e no Casulo da Mata.

A casa rústica no meio da Mata Atlântica com diárias que vão de R$ 599 (dia útil) a R$ 899 (diária de fim de semana) ainda extrapola a proposta de apenas receber hóspedes interessados em atividades relaxantes. Embora a maioria ainda procure o local para se refugiar, há demanda para ensaios fotográficos profissionais e amadores.

Paz perto da praia

Regiões praianas que dispõem de parques florestais como Paraty, na Costa Verde, e Macaé, no Norte Fluminense, também têm seus fãs desertores da selva de pedra. Na cidade vizinha a Angra dos Reis, uma cabana “do futuro” atrai centenas de hóspedes anualmente. Trata-se de uma casa futurista na montanha, dentro da Aldeia Rizoma, um condomínio com casas integradas à floresta com cachoeiras e piscinas naturais próximas. Tem até sauna. A mesma propriedade tem a cabana Casa Macaco, com cozinha completa, sala de massagem e academia.

Em Macaé, a Cabana Tucano tem jacuzzi, sala temática (com livros e discos), banheiro completo e solário — local onde a luz natural é fundamental, proporcionando uma sensação de aconchego e conexão com a natureza.

— Quando a gente fala de turismo de natureza, não há um perfil homogêneo. Tem os que querem rusticidade e natureza, tem os que querem se sentir bem, confortáveis, mas num ambiente controlado, e há os que não estão dispostos a abrir mão de certas atividades nem do conforto — diz a turismóloga Clara Carvalho de Lemos.

Jantar na adega

Se nas cabanas, para onde fogem os turistas fãs de isolamento, é rara a saída da propriedade, em outras hospedagens destacadas da capital é comum encontrar quem queira “passear no bosque”. Alinhadas à tendência destination hospitality, em que o objetivo é proporcionar experiências que despertem nos visitantes o desejo de voltar, as propostas vão dos cuidados com corpo e mente à valorização da cultura local.

Gerente da pousada Parador Lumiar, no distrito de Nova Friburgo, na Serra, Cristiane Minateli Grazinoli conta que, após 20 anos, o hotel e spa passa por uma renovação conceitual. Além do investimento na gastronomia, com ingredientes que muitas vezes são colhidos na própria horta, e na hotelaria de alto padrão, a conexão com o lugar e com os moradores do entorno é valorizada:

— No dia 12 de julho, vamos ter uma festa julina aberta ao público, com banda, comidas típicas, brincadeiras. É importante não só como evento, mas para a integração da população local.

Cristiane explica que as novidades acompanham a mudança no comportamento do público:

— Temos percebido também uma maior preocupação com sustentabilidade.

Para quem está fugindo do caos urbano, há apostas intimistas: no lugar de um jantar num restaurante cheio de gente, é possível desfrutar dos prazeres da mesa dentro da adega da pousada, por exemplo.

Escape

Camila Barretto, CEO da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), afirma que atividades distintas das que as pessoas encaram no dia a dia podem ser suficientemente atraentes para fazer com que elas queiram mudar de ambiente — deixando momentaneamente o local onde trabalham e vivem para trás:

— Principalmente o turista que sai da cidade busca experiências que o façam sair de dentro das edificações.

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Agência O Globo

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