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Um mês de tarifaço: sem “hecatombe”, cenário de cautela se mantém

Um mês de tarifaço: sem “hecatombe”, cenário de cautela se mantém

As tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos completam um mês de vigência neste sábado (6), sem que a “hecatombe” econômica tenha ocorrido – graças à lista de exclusão com quase 700 produtos e à adaptação das firmas exportadoras que ficaram de fora da isenção. Mas, o cenário ainda exige cautela, dadas as incertezas em relação às decisões de Donald Trump e ao andamento do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) apontam que as exportações para os EUA tiveram queda de 18,5% em agosto, mas o Brasil teve superávit de US$ 6,1 bi nas exportações totais, comparado ao mesmo mês do ano passado – aumento de 35,8%.

Saiba mais: Efeito “tarifaço”: exportações do Brasil para os EUA caem 18,5% em agosto

Eduardo Grübler, gestor da AMW, afirma que o tarifaço teve um efeito menor que o esperado na economia brasileira como um todo, apesar do susto inicial com o aumento de 50% nas tarifas sobre alguns produtos (carne, peças de avião e suco de laranja).

Embora setores específicos, como o de suco de laranja, tenham sido mais afetados pela dificuldade de redirecionar as exportações, a capacidade de deslocar a carne para outros mercados e a resiliência da Embraer, beneficiada na lista de isenção, atenuaram os efeitos negativos. Apesar disso, ele ressalta que o impacto da medida não foi nulo, especialmente para as pequenas e médias firmas. 

Na análise geral,  a reação dos mercados de risco foi positiva, com alta de mais de 6% no Ibovespa e a maior alta desde agosto do ano passado, demonstrando uma percepção de que o cenário não foi tão ruim quanto se previa, avalia Grübler.

Diversificação de destinos

Para Alex Agostini, economista-chefe na Austin Rating, “o principal efeito do tarifaço foi tirar o Brasil da zona de conforto, levando-o a diversificar mercados e relações comerciais.”

Olhando o “copo meio cheio”, Agostini diz que o cenário levou as firmas a se adaptarem, buscando novos clientes e mercados, e o governo passou a estimular o comércio exterior com ajuda de crédito e linhas de financiamento. “Apesar de um impacto inicial estimado em 0,6% do PIB, o impacto real será menor e diluído ao longo do tempo”, avalia. 

Para Jackson Campos, especialista em comércio exterior, a leitura para o primeiro mês pós-tarifaço é que a diversificação de destinos e a preferência da China na aquisição de produtos sul-americanos evitaram “ruptura na oferta brasileira”, mas o risco persiste nos itens expostos ao mercado dos EUA que não têm alternativa logística ou sanitária rápida.

Incertezas no radar

Mirella Hirakawa, coordenadora de pesquisa da Buysidebrazil, avalia que ainda há um grau de incerteza no ar, ainda que menor do que no início de agosto. 

“Apesar de no primeiro momento as tarifas terem surpreendido pela magnitude muito alta, as exceções mitigaram esse primeiro impacto. Entramos em agosto com um grau de incerteza muito alto, e saímos de agosto com um grau de incerteza menor. Mas a gente não vê ainda uma resolução de curto prazo para as negociações [dos setores que ficaram de fora da lista de exclusão]”, afirma.

Impacto nas exportações

Um estudo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) identificou 195 produtos brasileiros potencialmente impactos pelas tarifas, considerando o peso das exportações para cada unidade da federação. A análise também aponta mercados alternativos, estimulando a diversificação. 

Entre esses produtos, os semimanufaturados de ferro ou aço não ligado e o café não torrado estão entre os mais vulneráveis às novas tarifas, correspondendo a 6,9% do total da exportação brasileira aos EUA.

Café teve corte de 50%, carne ampliou destinos

Entre os produtos que ficaram de fora da lista de exportação, os setores de carne, café e cítricos foram os que mais sofreram neste primeiro mês de taxação.

Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o anúncio do tarifaço – e a ausência do café na lista de isenção – paralisou novos negócios e suspendeu contratos que estavam previstos. O resultado foi uma queda de 50% nas exportações, comparado ao mesmo mês do ano passado. 

O setor de carnes teve maior facilidade de ampliar os destinos de exportação, redirecionado a produção para mais de 150 países, além de abrir novos mercados, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC).

Indonésia e Filipinas, por exemplo, estão recebendo carne com osso e miúdos; São Vicente e Granadinas estão importando carne bovina. Além disso, a associação afirma estar avançando nas negociações com o mercado japonês. 

Segundo a ABIEC, o setor segue negociando com os EUA para buscar estabelecer maior equilíbrio na relação comercial. “O saldo deste primeiro mês comprova que, mesmo diante de barreiras, o Brasil tem condições de seguir expandindo mercados e garantindo alimentos de qualidade, sustentabilidade e confiança para o mundo”, afirma o presidente da ABIEC, Roberto Perosa.

Julgamento de Bolsonaro e tarifas

Além do cenário econômico, as incertezas que pairam no radar das projeções dos economistas envolvem também o contexto político, já que a imprevisibilidade de Donald Trump não exclui a possibilidade de aumento das tarifas a depender do resultado do julgamento de Bolsonaro e das relações entre Brasil e China, analisa Alex Agostini.

Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) na ação que o acusa de liderar organização criminosa armada, tentativa de abolir violentamente o Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Na carta em que anunciou as tarifas de 50% ao Brasil, Donald Trump cita o julgamento, pressionando pela anulação da ação.

Segundo Agostini, alguns analistas afirmam que as tarifas podem cair sob a combinação conjunta do efeito do julgamento na Suprema Corte americana, do peso sobre a inflação local (já que as tarifas encarecem os produtos importados), e a pressão das associações de firmas dos EUA, que também buscam diminuir os custos de produção barateando os insumos usados no processo. 

Outra hipótese mais remota, mas ainda assim considerada por alguns analistas, é que o andamento do processo contra Bolsonaro no Brasil pode levar os EUA a identificarem que as informações levadas a eles não são verdadeiras, o que poderia refletir em uma mudança de postura do governo.

“São dois lados que se vêem aberto, mas o mais provável, até pelo discurso de Trump, é que ele possa aumentar algumas tarifas, inclusive porque ele tem dito que o BRICS é contra os Estados Unidos e a gente viu recentemente China, Índia e Rússia se reunindo, apertando mãos’, diz Agostini.

Investir com cautela

A recomendação para investidores é de cautela, avalia Grübler, ainda que a alta taxa de juros no Brasil seja vista como um fator mais relevante para a desaceleração do PIB do que as tarifas.

O especialista sugere diversificação, com opções como Tesouro IPCA (títulos atrelados à inflação) para um perfil de menor risco e ações de firmas brasileiras com bom histórico de geração de caixa e pagamento de dividendos – como varejo e incorporadoras –, para aqueles com maior apetite ao risco. 

Para ele, a estratégia de investimento recomendada é a de manter liquidez e diversificação, buscando ativos com perfil de retorno conhecido e alta liquidez. Assim, é possível aproveitar oportunidades quando elas surgirem.

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Autor: Élida Oliveira

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