Van Gogh, Alice e Pessoa: entenda citações dos advogados no julgamento no STF


As sustentações orais dos advogados dos réus da ação penal da trama golpista, realizadas entre terça e quarta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF), tiveram uma série de referências artísticas e históricas.
A maioria delas foi feita por Andrew Fernandes Farias, defensor do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, que citou do pintor Vincent Van Gogh ao poeta Fernando Pessoa, além da personagem literária Alice.
Outros advogados, contudo, também fizeram citações, como ao Caso Dreyfus, ocorrido na França no século XIX, e aos monarcas franceses Luís XIV e Luís XVI.

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Confira a seguir as referências utilizadas:
Van Gogh
Andrew Farias citou o quadro O Semeador, de 1888, do pintor neerlandês Vincent Van Gogh (1853- 1890), para falar sobre a “missão do advogado”:
— Contemplando a tela O Semeador, de Van Gogh, gosto muito, eu compreendi que a missão do advogado é como daquele simples camponês, que anda pelo campo semeando paz, liberdade, justiça, esperando que caia em terra boa e dê fruto.
Alice
Farias também citou um trecho do livro Alice através do espelho (1871), escrito por Lewis Carroll e continuação de Alice no país das maravilhas (1865). Ele lembrou um diálogo entre a protagonista e a personagem Humpty Dumpty, para falar sobre o significado das palavras:
— Eu lembro do Lewis Carroll, aquela famosa passagem do diálogo entre Alice e Humpty Dumpty. Diz Humpty Dumpty: “quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique, nem mais, nem menos”. A questão, e aqui é a sabedoria, a racionalidade, a lógica representada por Alice, a questão, ponderou Alice, “é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas diferentes”. A questão, replicou Humpty Dumpty, “é saber quem é que manda”.
Fernando Pessoa
Outra referência foi do Poema em linha reta, do português Fernando Pessoa (1888-1935). Farias fez alusão ao teor dos primeiros versos da obra: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
A citação foi feita ao falar sobre o arrependimento de Nogueira pela fala de que a comissão de transparência eleitoral seria “para inglês ver”.
— Um dos poemas que eu mais gosto do Fernando Pessoa, aquele Poema em linha reta: “Nunca vi quem tivesse falado uma bobagem, todos os meus amigos são príncipes, semideuses, todo mundo é sempre elegante”. E aí ele teve um momento ali de deselegância, de indelicadeza.
Gonçalves Dias
O poeta brasileiro Gonçalves Dias (1823-1864) também foi lembrado pelo advogado de Nogueira, devido ao seu poema I-Juca Pirama. Ao citar os versos, contudo, ele trocou o Norte, do poema original, por Nordeste, já que o ex-ministro nasceu no Ceará.
— Tem uns versos de Gonçalves Dias que eu gosto muito, que é aquele em Juca Pirama, que diz mais ou menos assim, eminente ministra Cármem, Vossa Excelência me corrija se eu me equivocar: “Guerreiros, nasci. Sou bravo, sou forte. E digo eu, sou filho do Nordeste”. E o general Paulo Sérgio é um bravo guerreiro do Nordeste.
Caso Dreyfus
Já o advogado Paulo Cunha Bueno, que defende o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), lembrou do julgamento do capitão Alfred Dreyfus, ocorrido em 1894 na França. Dreyfus foi injustamente acusado de espionagem para a Alemanha e foi condenado. Sua inocência foi comprovada anos depois.
— Senhores ministros, não permitamos, em hipótese alguma, criarmos neste processo uma versão brasileira e atualizada do emblemático caso Dreyfus. Curiosamente, também capitão de artilharia. Curiosamente, acusado de crime contra a pátria. Curiosamente, condenado com base num rascunho de documento apócrifo. Curiosamente, teve o seu exercício de defesa constrangido em determinado altura.
Revolução Francesa
O advogado Demóstenes Torres, responsável pela defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, falou os a Revolução Francesa ao criticar declarações do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP).
Boulos afirmou que o rei Luís XIV, que ficou conhecido como Rei Sol, foi morto na guilhotina. Entretanto, isso ocorreu com seu sucessor, Luis XVI, como parte da revolução.
— No Twitter, Boulos disse: “um lembrete para Bolsonaro, a dinastia de Luís XIV terminou na guilhotina”. Além de ser um erro histórico, quem terminou na guilhotina foi o Luís XVI. E a dinastia não começou com Luís XIV. Mas, enfim, jogo jogado, foi um discurso de ódio, fazendo alusão à Revolução Francesa.
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Fonte original
Autor: Agência O Globo