Varejo na Bolsa: otimismo com juros e eleição impulsiona visão positiva de gestores


O setor de varejo na bolsa de valores ganha fôlego com o otimismo crescente dos gestores de investimentos, impulsionado principalmente pela perspectiva de queda nos juros e pelo impacto político da perda de popularidade do governo. Esse cenário macroeconômico favorável tem renovado a confiança dos investidores, que enxergam no ambiente atual uma oportunidade para o segmento.
Além dos fatores macroeconômicos, o desempenho recente das firmas do setor também tem sido fundamental para sustentar essa visão positiva. Resultados sólidos e estratégias eficazes reforçam a atratividade das ações de varejo, ampliando o interesse dos gestores.
Essas tendências foram discutidas na quarta edição da série Superclássicos da Bolsa, promovida pela XP. O debate exclusivo sobre o setor reuniu dois nomes de peso da gestão de investimentos: Rafael Furlan, sócio e gestor da Norte Asset, e Alexandre Bagnoli, analista e fundador da Encore Asset.
Com mediação de Danni Eiger, responsável pela Rede de Varejo no Research da XP, o encontro abordou temas como macroeconomia, posicionamento dos investidores e as ações mais promissoras do setor.
“A economia está surpreendentemente forte, mesmo com juros altos. Isso se soma a uma alocação ainda muito baixa em Bolsa, tanto por estrangeiros quanto por investidores locais, o que cria espaço para valorização”, afirmou Alexandre Bagnoli, da Encore.
“Os resultados do primeiro trimestre surpreenderam positivamente. A maioria das varejistas entregou números sólidos, após um final de 2024 desafiador”, disse Rafael Furlan, da Norte. Para ele, a combinação entre melhora nos fundamentos e valuations ainda atrativos segue favorável ao setor.
Os gestores também explicaram como a abordagem top-down – da economia para as firmas – ajuda a identificar oportunidades. “A gente leva muito o macro em consideração na Norte. E o ponto-chave hoje é o juro. Ele está perto do topo, e depois disso o mercado já começa a discutir cortes. Isso, somado à precificação política, abre espaço para valorização”, reforçou Furlan.
- Leia mais: Haddad confirma alíquota de 17,5% sobre aplicações financeiras e aumento para JCP
- E também: Verde vê mérito em IR para aplicações, mas diz que governo “joga conta para frente”
Cenário político e juros alimentam visão positiva
Alexandre Bagnoli ressaltou que o humor do mercado começou a mudar com a elevação da desaprovação do governo federal nas pesquisas. “Isso gera um reposicionamento de expectativa, porque o mercado precifica a chance de mudança de governo com perfil mais pró-mercado”, disse. Ele destacou que, historicamente, esse tipo de ciclo tem efeitos antecipados nos ativos de risco, como se viu em países vizinhos como Chile e Argentina.
Na avaliação da Encore, o risco de recessão no segundo semestre perdeu força. “No começo do ano, o consenso era de que haveria uma desaceleração mais forte. Hoje, a expectativa é de um segundo semestre mais suave, impulsionado pelos estímulos fiscais. E o posicionamento segue leve: tem pouco investidor em Bolsa ainda”, observou Bagnoli.
Furlan concordou: “O valuation de muitas firmas estava no começo do ano nos níveis de 2015 e 2016, quando tivemos recessão de 3% a 4%. Só que o consumo hoje está resiliente, o que mostra uma dissonância que cria oportunidade”. Ele acrescentou que a precificação política já está em andamento, com o mercado antecipando o impacto das eleições municipais e, posteriormente, da disputa presidencial.
Outro ponto destacado pelos dois gestores foi o bom desempenho operacional das varejistas no primeiro trimestre de 2025. “Vivara, Arezzo, Renner… todas entregaram resultados consistentes, revertendo as decepções do quarto trimestre de 2024. Isso reforça que o micro também está contribuindo para a melhora da Bolsa”, disse Furlan.

Petrobras e juniores sobem durante alta do petróleo, que termina dia em queda
Negociações comerciais entre EUA e China sinalizam um possível alívio nas tensões e impactam positivamente as expectativas para a demanda de energia

Lula determinou que nenhum aposentado alvo de desvios tenha prejuízo, diz ministro
O ministro participa no período da tarde desta terça-feira de uma audiência pública das comissões de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara
Setor ainda tem espaço para valorização no segundo semestre
A discussão também abordou a expectativa para o segundo semestre. Bagnoli foi direto: “Provavelmente, o segundo trimestre será o pico de crescimento, por conta de uma base muito fraca no ano passado, especialmente no varejo de vestuário. Em 2024, praticamente não tivemos inverno. Já neste ano, o frio chegou e impulsionou as vendas nos fins de semana.”
O analista da Encore apontou que, mesmo após o forte movimento de alta das ações, ainda há espaço. “Tem firma negociando a 10 vezes preço/lucro. Arezzo, Renner, Vivara… continuam baratas. Mas o mercado está míope, olhando só o curto prazo. É preciso enxergar o filme, e não apenas o trimestre.”
A avaliação é compartilhada por Furlan, que vê um cenário mais favorável a revisões de lucro pontuais do que um movimento generalizado. “Grande parte das revisões já ocorreu após o primeiro trimestre. Agora, o maior upside deve vir da queda dos juros, que reduz despesas financeiras e o custo de capital”, explicou o gestor da Norte Asset.
Ele destacou ainda que há nomes específicos com potencial relevante de valorização. “Track & Field, SmartFit, Arezzo e Vivara estão bem posicionadas. São firmas com histórias sólidas, sinergias relevantes no caso da Arezzo, e crescimento acima da média, o que pode gerar revisões para cima nos lucros”, completou.
Nem todo varejo é igual: a importância de olhar caso a caso
Ao falar sobre setores específicos dentro do varejo, Furlan fez questão de separar o joio do trigo. “Não dá para colocar tudo no mesmo balaio. São nichos muito distintos – calçados, jóias, cosméticos, academias… cada um com drivers próprios e públicos-alvo diferentes”, observou.
Ele citou o e-commerce como um segmento onde, apesar da qualidade das firmas, há mais cautela. “A gente respeita muito o Mercado Livre, talvez a melhor firma da América Latina, mas o ambiente competitivo ficou mais hostil. Shopee, TikTok, e outros players asiáticos estão mais agressivos em frete e marketing. Isso pressiona as margens e dificulta a precificação”, avaliou.
A Encore também adota uma postura cuidadosa com esse subsegmento. Bagnoli destacou que, embora o consumo esteja reagindo, as varejistas digitais enfrentam margens apertadas. “É preciso separar bem o que é firma bem posicionada e o que é só uma narrativa. Não dá para se deixar levar só pelo fluxo.”
No fim das contas, os dois gestores convergem na análise: o setor de varejo na Bolsa vive um momento de retomada, sustentado por fundamentos melhores, juros perto do topo e valuations ainda atrativos. Mas o investidor precisa olhar com lupa para encontrar os melhores nomes.
“O segundo semestre tende a ser um pouco mais lento, mas não significa que o setor esteja caro. Pelo contrário. O mercado ainda não precificou totalmente essa nova fase do varejo”, concluiu Bagnoli.
The post Varejo na Bolsa: otimismo com juros e eleição impulsiona visão positiva de gestores appeared first on InfoMoney.
O que achou dessa notícia? Deixe um comentário abaixo e/ou compartilhe em suas redes sociais. Assim deixaremos mais pessoas por dentro do mundo das finanças, economia e investimentos!
Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: osniralves