Bradesco (BBDC4) frustra novamente, nem plano de recuperação anima e ação desaba
As expectativas já não eram positivas, mas o Bradesco (BBDC4) conseguiu decepcionar ainda mais ao apresentar os seus números do quarto trimestre de 2023 (4T23) e nem mesmo o esperado plano estratégico de cinco anos, anunciado junto com o balanço, animou. Assim, após um salto de 6,21% na véspera (também por conta da notícia sobre a OPA da Cielo), os ativos BBDC4 abriram em queda de 8,19%, a R$ 15,24, às 10h12 (horário de Brasília) desta quarta-feira (7).
O segundo maior banco privado do Brasil reportou nesta quarta-feira (7) lucro líquido recorrente de R$ 2,88 bilhões no último trimestre do ano passado (com um ROE, ou retorno sobre o patrimônio líquido de cerca de 7%), alta de 80,4% em relação ao mesmo período de 2022, mas queda de 37,7% frente ao terceiro trimestre do ano passado e abaixo das previsões de analistas. Projeções compiladas pela LSEG apontavam lucro de R$ 4,57 bilhões.
Contabilizando provisões de reestruturação e “passivos contingentes”, o lucro foi de R$ 1,7 bilhão, 60% abaixo da projeção do Itaú BBA, enquanto o ROE decepcionou em 32%.
A carteira de empréstimos do Bradesco ficou estável sequencialmente, as provisões (PDD) aumentaram mais 15% em relação ao trimestre anterior, a margem financeira (NII) dos clientes caiu 3% e os serviços caíram 1%, apesar da sazonalidade favorável, avalia a equipe de análise do BBA.
Para os analistas do banco, os pontos positivos foram um melhor NII do mercado, resultados de seguros mais fortes e melhores métricas de qualidade de crédito lideradas por índices de inadimplência (NPLs) de varejo.
Olhando para o ano que se inicia, a visão também é conservadora. “O guidance para 2024 aponta para um processo de recuperação de receitas muito gradual, com custos de risco ainda elevados e SG&A [despesas gerais e administrativas] elevados”, avalia o BBA.
Para 2024, o Bradesco estimou crescimento de 7% a 11% para a carteira de crédito, com expansão de 3% a 7% na margem financeira e aumento de 2% a 6% nas receitas de prestação de serviços e de 5% a 9% nas despesas operacionais. O Bradesco também estimou PDD expandida entre R$ 35 bilhões a R$ 39 bilhões.
Analistas do Citi estimaram que o guidance para 2024 implica lucro de cerca de R$ 17 bilhões em 2024 no ponto médio, “mostrando alguma recuperação, mas em uma base muito deprimida, e com nível ainda muito alto de despesas de provisão”, conforme relatório a clientes. Os analistas acrescentaram que a previsão do banco foi fraca e indica que a melhoria da rentabilidade do Bradesco ainda tem um longo caminho a percorrer.
O BBA estima um ponto médio do guidance de lucro entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões, ou 10% de ROE para 2024, uma recuperação de lucro de 5% na base anual em comparação aos R$ 16,3 bilhões reportado em 2023 e abaixo de sua estimativa de cerca R$ 20 bilhões. Com o ROE abaixo do custo de capital por um tempo, o banco reiterou a recomendação marketperform (desempenho em linha com a média, equivalente a neutro) para o Bradesco, mantendo Banco do Brasil (BBAS3) como top pick entre os grandes bancos.
O Citi destacou em relatório logo após o resultado que todas as atenções ficariam voltadas para o novo plano estratégico e indicações das alavancas para a futura melhoria do ROE. “Contudo, acreditamos que a falta de melhorias no curto prazo deverá impedir qualquer melhor desempenho da ação”, apontou, mantendo também recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de R$ 17,50.
Nesta manhã, o banco destacou as principais diretrizes do seu novo plano estratégico, apontando que busca aumentar sua participação de mercado no crédito expandido de cerca de 14% para 15% a 19%. Além disso, o plano prevê redução de níveis hierárquicos e maior autonomia aos executivos. De acordo com apresentação, o banco busca com as mudanças complexidade menor e agilidade na tomada de decisões.
O JPMorgan, mesmo tendo em vista o plano e apontando que “o 4T23 deveria ser menos relevante hoje”, aponta que o último trimestre foi fraco e que as projeções para 2024 são frustrantes.
“Entendemos que o Bradesco está em um caminho de recuperação, mas o guidance fornecido implica em lucro de apenas cerca de R$ 18 bilhões (no ponto médio). Acreditamos que provavelmente o banco esteja sendo conservador, mas ainda esperamos uma reação negativa do mercado. O guidance implica uma queda de 25% em relação às nossas estimativas de R$ 23,8 bilhões e um ROE de apenas 11%, novamente abaixo do custo de capital”, avalia. Já num tom mais positivo, o JPMorgan ressalta que a qualidade dos ativos melhorou, com a formação de inadimplência, ou “NPL formation” (a variação do saldo de créditos em atraso) em queda para R$ 8 bilhões, um valor elevado, mas muito melhor do que nos trimestres anteriores.
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