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Tempestade à vista

O corte de 0,25% na Selic com gostinho de 0,50% foi literalmente o trailer do filme que pode ser 2025.
Todos os membros do COPOM indicados pelo governo atual votaram por 0,50%, porém 0,25% “ganhou”, levando a nossa taxa básica de juros para 10,50% ao ano. Como na virada do ano haverá a troca do presidente Roberto Campos Neto, devemos ver em 2025 a taxa Selic acentuando o processo de queda.
Tal movimento pode:

  • Voltar a pressionar a inflação no médio prazo.
  • Reprecificar os ativos de renda variável por conta da chamada “taxa de desconto” (Selic) menor.
  • Impactar diretamente na redução do custo de dívida das empresas, e da população de um modo geral.
  • Assim como também permitir uma melhor avaliação dos ativos listados em Bolsa de Valores.

Como efeito “rebote” a inflação voltará a “fazer preço” no poder de compra da população, reduzindo-o, na prática o cidadão vai comprar menos ou pagar mais caro pelo mesmo bem ou serviço, o que deve “achatar” ainda mais a classe média, e pesar sobre a classe baixa, que viram a capacidade de compra reduzir bastante durante e após a pandemia de diversas formas, em especial moradia, alimentos, e veículos.
Provavelmente só entenderemos os reais impactos desse fenômeno ao longo das próximas décadas, onde hoje você tem uma expansão econômica e tecnológica como nunca antes vistas, porém com cada vez menos acesso, hoje não mais por conta da distribuição, que é praticamente “universal”, mas em razão do preço que aumenta dia após dia e deteriora o dinheiro no bolso do consumidor, o ganho de aplicações, e valor de muitos ativos, por isso sempre revisitar as teses e estratégias de investimentos será cada vez mais fundamental.
Continuaremos a ver a expansão de gastos públicos e o aumento da carga tributária, o que também pressionará a inflação. “A mesma mão que dá é a mesma mão que tira”, pois o programas e investimentos do governo farão chegar dinheiro na ponta final, porém esse movimento reforçará também a alta de preços graças ao efeito cascata do “quem paga a conta?”.
O governo expande gastos e investimentos, que para tanto precisa de dinheiro, logo precisa arrecadar mais ou aumentar a dívida pública, normalmente os dois juntos, mais imposto para o empresário é quase que automaticamente mais imposto para o consumidor, que na linha final é quem acaba pagando. Soma-se a isso o aumento dos custos de produção, o crescimento da população, o aumento da demanda, o aumento dos preços, e bingo, mais uma vez, o aumento da inflação.
Uma “cascata” que cada vez mais impõe um custo de vida mais alto a todos, na última linha: viver vai ficar cada vez mais caro, o que pede estratégias ainda mais bem pensadas e sofisticadas de planejamento financeiro, tributário, de investimentos, e sucessório.
Em contrapartida, nesse cenário ativos reais como imóveis, fundos imobiliários, ações, e ativos de proteção como ouro, títulos da dívida americana, bem como o dólar, devem seguir ajudando o investidor a se proteger da inflação ou a ter ganhos acima dela, o chamado ganho real.
Quem tem um patrimônio relevante, seja ele em ativos financeiros ou ativos reais deve continuar tendo ganho real de um modo geral, desde que faça a leitura correta da política econômica e dos movimentos do mercado para que a riqueza familiar continue sendo “geracional” e perpetuada ao longo do tempo, tudo isso vai exigir mais planejamento, até porque a cobrança de impostos sobre os dividendos é questão de tempo, o que para muitos tributaristas seria a “bitributação”, mas que na prática representará mais transferência de renda para os cofres públicos que historicamente adotou a expansão fiscal para o equilíbrio das contas públicas.
Ainda vamos continuar lidando com os efeitos da inflação por um longo período, até conseguirmos fechar a caixa de Pandora que abrimos por conta dos efeitos da pandemia, de injeção de capital na economia por parte dos governos, aumento de impostos, e preços cada vez mais fora do orçamento das famílias.
Quem entender e antecipar o movimento que está por vir de muitos desafios na economia, mas também de muitas oportunidades, poderá colher bons frutos no médio/longo prazo.

Idean Alves

Sócio e chefe da mesa de operações da AçãoBrasil Investimentos, escritório credenciado a XP Investimentos.

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