ANS nega recurso e obriga Hapvida a ajustar quase R$ 1 bilhão no balanço de 2024
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) negou nesta sexta-feira (5) o recurso da Hapvida e determinou que a operadora refaça o balanço de 2024, com um ajuste contábil de quase R$ 1 bilhão relacionado ao Programa Desenrola. A agência concluiu que a companhia reconheceu o benefício fiscal de forma antecipada e terá de reverter o lançamento.
Por volta de 12h45, as ações da Hapvida caíam 0,96%, cotadas a R$ 15,40, após terem figurado entre as maiores quedas do Ibovespa no início do pregão.
O caso remonta ao acordo firmado no âmbito do Desenrola, que perdoou uma dívida de R$ 866 milhões da Hapvida com o SUS. Na época, antes da conclusão formal da análise pelo governo, a companhia registrou os efeitos do benefício no balanço de 2024 — movimento que agora levou a ANS a exigir a revisão das demonstrações financeiras.
Com isso, a operadora da família Pinheiro deverá republicar suas demonstrações financeiras e a reversão do benefício fiscal reconhecido. Na prática, um eventual estorno exigiria que a companhia apagasse do balanço o ganho próximo de R$ 1 bilhão contabilizado após o perdão da dívida – como se o crédito fiscal nunca tivesse existido.
Isso reduziria o ativo e o patrimônio líquido da Hapvida, afetando o valor contábil da firma, a expectativa de lucros futuros e a percepção de risco entre investidores e credores. Embora não envolva pagamento ao governo, a baixa contábil tende a reforçar dúvidas sobre governança e aumenta a pressão sobre o papel na Bolsa.
O debate desta sexta soma-se a uma derrocada mais longa: nos últimos seis meses, a ação acumula queda de quase 63%, levando o valor de mercado a R$ 7,64 bilhões — menos da metade dos R$ 16 bilhões na época da listagem na Bolsa.
É um retrato da perda de confiança na capacidade da firma de estabilizar resultados e recuperar previsibilidade. JP Morgan, Itaú BBA, BTG Pactual, Bradesco e Banco do Brasil rebaixaram recentemente a recomendação para o papel.
Em relatório divulgado no fim de novembro, após o balanço do terceiro trimestre, o Itaú BBA descreveu uma companhia enfrentando um curto prazo mais duro, pressionada por rentabilidade menor e visibilidade reduzida para uma virada rápida. Uma das leituras centrais do banco é que a Hapvida vive uma desconexão entre receita por beneficiário e custo por beneficiário, num contexto de maior utilização e necessidade de investimento para manter qualidade e retenção.
O relatório também destaca que a expansão recente de infraestrutura adicionou custos relevantes. Desde o início do ano, a companhia abriu sete hospitais e 25 unidades ambulatoriais, com cerca de 500 novos leitos — um aumento de capacidade que ainda precisa ganhar tração para diluir os custos fixos.
Procurada pelo InvestNews, a Hapvida não comentou.
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Autor: Raquel Brandão