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Crédito privado em alerta: risco estrutural cresce com juros altos e desequilíbrios no mercado

Nas últimas semanas, o mercado voltou a olhar com mais atenção para o crédito privado, especialmente após os casos de Braskem (BRKM5) e Ambipar (AMBP3), que – devido ao alto endividamento – têm sido pressionadas e expostas ao risco crescente de inadimplência. Para Marilia Fontes, sócia fundadora da Nord Investimentos, essa preocupação é mais do que justificada. O setor cresceu rápido demais e, agora, carrega um risco estrutural difícil de ignorar.

Braskem e a Ambipar se tornaram símbolos recentes da fragilidade do crédito privado no Brasil. A petroquímica contratou assessores monetários no fim de setembro para revisar sua estrutura de capital, o que levantou temores de uma possível reestruturação de dívida. Já a Ambipar, firma de gestão ambiental, entrou com pedido de recuperação judicial no Brasil e nos Estados Unidos em 21 de outubro.

Apesar de serem por motivos distintos, os dois casos ilustram os possíveis efeitos do ambiente de juros elevados e das condições financeiras mais restritivas, que vêm pressionando firmas alavancadas e de maior risco.

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Nos últimos anos, o ambiente de juros altos e as mudanças regulatórias canalizaram uma enxurrada de recursos para esse tipo de investimento. A cobrança do “come-cotas” nos fundos exclusivos afastou grandes investidores dos títulos públicos. Em seguida, as restrições sobre Letra de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCAs) redirecionaram a demanda para papéis isentos de firmas – como Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e debêntures de infraestrutura.

“O resultado foi um mercado superalocado, com companhias se apressando para emitir o máximo possível antes da votação da Medida Provisória (MP) 1.303. Essa corrida reduziu os spreads [a diferença entre o preço da compra e o da venda] a níveis historicamente baixos, distorcendo a precificação dos riscos”, explica Fontes.

“Hoje, há títulos de firmas com nota máxima de crédito pagando menos do que o próprio Tesouro Nacional, um claro sinal de desequilíbrio”, completa.

“Se o problema fiscal do país continuar sem solução, o cenário pode piorar”, acrescenta a sócia. Juros altos por mais tempo aumentam a pressão sobre as firmas, e casos pontuais de recuperação judicial podem se transformar em algo maior – até mesmo em uma crise sistêmica.

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Uma Selic próxima de 15% estrangula a economia, compromete a rentabilidade e ameaça a sobrevivência de diversas companhias, segundo Fontes. Nesse contexto, o número de recuperações judiciais e de casos de inadimplência tende a crescer rapidamente. Marília Fontes explica que, quanto mais o ambiente se prolongar, maiores as chances de contaminação no sistema monetário.

Quem sai perdendo?

Entre todos os agentes do mercado, o investidor pessoa física é quem mais sofre. Muitos acreditam que o crédito privado é líquido, mas a realidade é o oposto: em momentos de estresse, vender um título antes do vencimento pode significar perdas de 70% a 80%, esclarece a especialista. Nesse tipo de ativo, a regra é clara: prevenir antes do problema. Tentar remediar depois, na maioria das vezes, é tarde demais, segundo a especialista.

“Por isso, desde fevereiro de 2024, minha recomendação para novos investimentos no Renda Fixa PRO permanece a mesma: evite novos aportes em crédito privado”, diz.

À medida que os papéis forem pagando juros e amortizações, é preferível reinvestir em títulos públicos, que hoje oferecem retornos maiores e riscos menores.

Trocar risco alto por “risco menor” dentro do próprio crédito privado não resolve. Migrar de um papel high yield (alto rendimento) para um AAA (Triple A, classificação prestigiosa do mercado) privado significa aceitar rentabilidades muito baixas – em muitos casos, inferiores às dos títulos do Tesouro.

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Fontes argumenta que mesmo os fundos de crédito geridos por profissionais enfrentam desafios: em períodos de resgates e abertura de spreads, os gestores são forçados a vender ativos a mercado, pressionando preços e reduzindo o retorno das cotas. As taxas de administração ainda corroem parte significativa da rentabilidade.

Pós Covid-19: como está o mercado?

O modelo de crescimento pós-pandemia, sustentado por expansão fiscal e juros elevados, mostra-se cada vez mais insustentável. A especialista detalha que há firmas com resultados operacionais positivos que, ainda assim, fecham o mês no vermelho, simplesmente porque o custo da dívida é alto demais.

Na visão de Fontes, enquanto esse cenário prevalece, o governo gasta mais, aumenta a dívida e enfrenta dificuldade para se financiar. Para atrair compradores, precisa manter os juros elevados e acaba tendo que socorrer as mesmas firmas que sufocam com o custo do crédito.

“A esperança é que, após as eleições, o debate fiscal volte ao centro da agenda e abra espaço para uma queda estrutural dos juros“, torce a sócia fundadora da Nord.

Mesmo uma taxa abaixo de 10% ainda seria alta, mas já traria algum fôlego para a economia e para o setor produtivo, de acordo com ela.

O que fazer agora?

Até lá, o recado de Marília Fontes é simples: prudência. Proteger o patrimônio é muito mais importante do que correr atrás de rentabilidade imediata.

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Autor: Isabela Ortiz

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