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Investir em dólar, sem comprar dólar: cotação perto de R$ 5,30 abre janela para ETFs, bonds, BDRs e exportadoras

Para investir em dólar, nada mais óbvio do que comprar a moeda ou fundos que nela investem. Mas outras maneiras indiretas também permitem que o investidor tenha exposição à divisa, como é o caso de BDRs, ETFs, bonds e ações de exportadoras na bolsa. Em um momento em que se abre uma janela de investimento em dólar, essas são alternativas que unem o melhor dos mundos: diversificação com exposição a um ativo historicamente defensivo para as carteiras de investimento.

A moeda americana já caiu 14% contra o real neste ano, é verdade, mas as coisas podem mudar em breve: em 2026, ano de eleição, é quase uma leitura tácita entre profissionais de mercado que os problemas fiscais do país voltarão a ganhar protagonismo. Se isso acontecer, o dólar deve, no mínimo, recuperar uma parte do terreno perdido.

É aí que entra o poder da primeira forma – e talvez a mais eficiente – de se investir com essa estratégia de “dolarização” da carteira: os ETFs. E o destaque aqui vai para o IVVB11, o mais líquido entre todos os fundos de índice internacionais listados na B3 e que replica o desempenho do S&P 500, sem hedge (proteção cambial).

As ações americanas estão no ponto em que podem, sim, ser consideradas caras. Ainda assim, mesmo uma alta modesta na renda variável dos EUA serviria de impulso para os ativos estrangeiros negociados aqui. A matemática, então, fica clara: um avanço do dólar, ainda que pequeno, junto com uma alta, ainda que modesta, das ações dos EUA torna um simples ETF de S&P 500 uma excelente escolha. Em prazos maiores, então, nem se discute.

É exatamente isso que contam os dados históricos, ainda que tenhamos que lembrar que retorno passado nunca é garantia de retorno futuro. O IVVB11 cai cerca de 3% neste ano exatamente porque capturou a alta do S&P 500 lá fora, de 11%, mas também a queda da dólar ante o real. Nem por isso deixou de ser uma ótima opção: já entregou um retorno de 15% em 12 meses e 61% em 24 meses. Nas janelas acima de 12 meses, o dólar não chegou a superar o Ibovespa todas as vezes, mas o IVVB11 sim, justamente pelo efeito cumulativo do câmbio com a renda variável.

Comprando ações “gringas” sem sair do Brasil

Para investir em firmas estrangeiras sem sair da bolsa local, o investidor tem à disposição os BDRs. É o equivalente a negociar a ação no Brasil, tão simples quanto. E a grande jogada aqui é fazer o dever de casa básico: optar por companhias líderes em seus setores ou com negócios que só elas conseguem oferecer, além da óbvia entrega de lucros e receitas consistentes.

Como a bolsa americana pode estar passando por uma fase de preços caros, o investimento nos BDRs precisa ser feito para o longo prazo ou então via uma exposição um pouco mais diluída com outros ativos – que é o que próprio IVVB11 permite.

Fora isso, vale dar dois passos para trás no caso dos papéis que subiram muito nos últimos meses. É o caso do setor de tecnologia, cujas altas já começam a deixar os investidores inquietos. Não é como se o mundo estivesse perdido para Nvidia, por exemplo, mas uma “correção” do mercado não seria surpreendente a essa altura do campeonato.

Vamos para alguns exemplos. Os BDRs da Tesla (TSLA34), os mais negociados do mercado, acumulam queda no ano pelo aumento da forte concorrência com os carros chineses e com a leitura cada vez mais crescente de que houve euforia demais na esteira tema inteligência artificial. Quem investiu no BDR da Tesla já perdeu 23% com o “combo” dólar mais a ação. E, para frente, a situação não deve melhorar para a companhia, que enfrenta o ceticismo do mercado em vê-la como mais do que uma firma de veículos, além dos desafios concorrenciais.

É uma situação totalmente diferente do Mercado Livre (MELI34), também um dos papéis mais negociados. Nesse caso, o investidor colheu a valorização na bolsa americana Nasdaq, mas perdeu o restante da alta por causa do dólar. O papel, porém, segue muito bem avaliado pelas áreas de pesquisas dos maiores bancos de investimento. O movimento dos concorrentes é uma pedra no sapato no curto prazo, mas os investimentos da firma para continuar crescendo no e-commerce e na América Latina colocam a companhia em vantagem.

Bonds, a diversificação na renda fixa internacional

O momento não poderia ser mais propício para investir na renda fixa lá fora: com a expectativa de que um primeiro corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o BC americano) aconteça ainda este mês, o efeito da “marcação a mercado” deve beneficiar os investidores. Isso porque, se as taxas de juros caem, o preço dos títulos sobe, em especial dos de maior vencimento.

Fora do Brasil, os investidores têm acesso a títulos de dívida do governo americano (Treasuries), de outros governos, de firmas estrangeiras e firmas brasileiras. Todos eles são chamados de bonds. No caso desses produtos, a expectativa se repete: com a queda do dólar, abre-se a chance de entrar nos ativos a preço mais baixo e que tende a subir na marcação a mercado e na valorização da moeda americana.

No caminho ideal, o investidor pode ter bonds na carteira por meio de ETFs ou fundos tradicionais de renda fixa, como aqueles oferecidos por gestoras “gringas” especializadas no tema, caso da Oaktree e da Pimco. Investir diretamente só dá para fazer por meio de uma conta internacional.

No caso dos corporate bonds brasileiros, as emissões privadas, os retornos em dólar até tendem a ser maiores do que os de firmas americanas de rating semelhante, dado o risco maior. Mas aí entra o problema da diversificação geográfica, que continuada “confinada” no Brasil.

Também faz pouco sentido comprar bonds apenas de firmas brasileiras porque essas emissões não pagam necessariamente mais do que o CDI. Para as firmas, emitir bonds significa dívida mais barata; mas, para o investidor brasileiro, pode simplesmente não valer a pena a relação entre o risco de crédito, risco cambial e o retorno potencial. É, inclusive, o cenário atual, com a Selic elevada.

Finalmente, no caso da exposição ao governo americano, a despeito de toda a dúvida sobre a situação fiscal do país no atual governo, trata-se de investir no maior mercado – e na maior economia – do mundo. Sempre bem vindo.

Saber escolher entre as alternativas globais, porém, não é tarefa simples para um investidor de varejo no Brasil. Daí a importância de contar com os fundos. Entre os ETFs, como mencionamos, vale considerar o BNDX11, que compra emissões de diversos países desenvolvidos sem contar os EUA, e o USDB11, que replica o mercado agregado de renda fixa dos EUA, entre títulos do governo e crédito corporativo de melhor qualidade (high grade).

Exportadoras, o jogo “dolarizado”, mas com a moeda local

Existe uma outra forma de trazer o efeito do dólar para a carteira sem sequer comprar ativos lastreados diretamente nele: o investimento em exportadoras. Esse talvez seja o modo menos óbvio entre todos, porque aqui os riscos e cenários para as firmas é ainda mais evidente. Diferentemente dos BDRs, ETFs e bonds, a relação com o dólar não é necessariamente o fator determinante. Mas é, sem dúvida, um deles, então essa estratégia precisa entrar na nossa conta.

As firmas com exposição direta ao dólar na bolsa são aquelas ligadas às commodities, caso da Vale, da Petrobras e da Suzano, e também aquelas cujos negócios são dependentes do exterior, como a Embraer.

Para as firmas de commodities, o resultado nasce de duas forças: o preço em dólar da matéria-prima e o câmbio. Se o dólar sobe e a commodity cai, o câmbio amortece a queda; se ambos sobem, o efeito se soma. Os custos em reais das firmas e os hedges (proteção cambial) colocam as firmas em menor ou maior exposição, mas o preço continua sendo o motor.

A Petrobras é sensível ao preço do petróleo Brent na fatia de exploração e produção. Se o dólar se fortalecer em um contexto de Brent ainda sujeito a oferta elevada – com queda de preços, portanto –, a conversão para reais ajuda a firma, mas não a elimina pressão dos preços em dólar sobre os resultados.

Quedas adicionais para o Brent, que já oscila na casa dos US$ 60, devem dificultar a vida da estatal. Mas a companhia já anunciou que vem trabalhando em planos estratégicos para mitigar esses impactos. É o que sustenta recomendações de neutra a compra para as ações das casas de análise dos grandes bancos.

Na Vale, a jogada é mais direta: preço do minério de ferro. É o ponto básico para a firma. Se o dólar de fato tiver alguma valorização, isso ajuda a proteger as margens em reais caso o minério oscile para baixo. Como o cenário é de preços ao redor dos atuais US$ 100, algumas casas mantêm a recomendação de compra a neutra para a firma.

Na Suzano, a combinação entre um dólar mais forte e preços de celulose em recuperação tende a ser favorável, já que a receita da companhia está na moeda americana, enquanto os custos mais relevantes são em reais – é um dos melhores cenários. Não por menos, a recomendação da maioria das casas é de compra.

Já a Embraer fica fora dessa conversa. A relevância aqui se dá ao fato de que a fabricante de aeronaves realiza suas vendas na moeda americana. Logo, um fortalecimento do dólar contribui em termos de custos e receitas. Mas o componente operacional é o que direciona as perspectivas para a firma, com os “pedidos firmes” de aviões sendo observados de perto pelo mercado.

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Autor: Juliana Machado

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