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Liquidação recorde de US$ 19 bilhões abala mercado cripto após novas tarifas de Trump à China

No começo desta semana, logo após a maior liquidação diária já registrada no mercado de criptomoedas — última sexta-feira (10) —, o setor ainda tentava entender o que havia acontecido. Em poucas horas, US$ 19 bilhões em posições foram varridos das telas e mais de 1,6 milhão de traders foram liquidados em um movimento desencadeado por um fator externo ao mundo digital: o anúncio de Donald Trump sobre tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses.

Para o analista Rony Szuster, Head de Research do Mercado Bitcoin (MB), o impacto dessa medida vai muito além da política comercial. “É importante destacar o grande impacto que tarifas adicionais de 100% sobre a China teriam no comércio mundial, além das pressões internas significativas sobre a inflação, podendo inclusive alterar o ciclo de política monetária”, afirma.

Segundo ele, o mercado cripto reagiu de forma mais intensa porque, naquele momento, era o único ambiente ativo para precificar o risco. Szuster explica:

Quando Trump confirmou a tarifa, com validade prevista para 1º de novembro, o mercado de cripto foi o principal ambiente disponível para precificar esse risco durante o fim de semana, enquanto os mercados tradicionais estavam fechados.

Se o pronunciamento tivesse ocorrido em um dia útil, acrescenta, “provavelmente teríamos visto quedas mais acentuadas no S&P 500 e em outros índices americanos”.

Um reflexo imediato e global

A declaração de Trump, feita fora do horário de operação dos grandes mercados, provocou uma reação em cadeia. Com menos liquidez e alta alavancagem, o universo das criptomoedas se tornou o primeiro termômetro da tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo.

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Nos dias seguintes, novos sinais de possível diálogo entre Washington e Pequim começaram a reduzir a temperatura do mercado. “Pronunciamentos de Trump indicavam que ele poderia se reunir com Xi Jinping, e os mercados preditivos já refletiam uma menor probabilidade de que a tarifa fosse realmente implementada”, observa o especialista.

Trata-se, em grande parte, de um movimento de barganha do presidente americano, algo que ele já havia feito no passado.

Quando ficou claro que as chances de aplicação da tarifa eram menores, o mercado cripto iniciou uma recuperação. “Esse episódio explica dois pontos: a gravidade que teria a aplicação de tarifas de 100%, e o fato de que, enquanto os mercados tradicionais estavam fechados, essa percepção de risco foi precificada principalmente no mercado de cripto”, conclui Szuster.

Altcoins: o elo mais fraco

A reação mais violenta veio das altcoins (moedas alternativas ao Bitcoin e ao Ethereum), que concentraram a maior parte das liquidações. Para Szuster, isso ocorreu por uma combinação de fatores técnicos e psicológicos. “Esse movimento de liquidação foi mais severo nas altcoins porque o anúncio de Trump gerou uma grande aversão ao risco no mercado”, explica.

Segundo ele, em momentos de tensão, há uma migração natural de recursos para ativos considerados mais seguros dentro do próprio universo cripto. “Observa-se um fluxo de capitais das altcoins menores para Ether, Solana e, especialmente, para o Bitcoin. Isso é evidenciado pelo aumento da dominância do Bitcoin no mercado, indicando um movimento de proteção”, afirma.

O especialista também destaca que a menor liquidez das altcoins acentua as perdas. “Elas dependem mais das ordens de compra dos market makers [participantes do mercado com conhecimento e recursos para operar continuadamente], que, em eventos de liquidação intensa, frequentemente diminuem ou retiram suas ordens, contribuindo para quedas ainda mais acentuadas.”

Em síntese, três fatores explicam o tombo:

  • aumento da aversão ao risco;
  • retração dos market makers;
  • e menor liquidez dos mercados de futuros dessas moedas.

ADL: o mecanismo que protege (e agrava) crises

Um dos elementos técnicos que contribuíram para a intensidade do colapso foi o mecanismo de Auto-Deleveraging (ADL), utilizado por exchanges de derivativos para equilibrar o sistema durante momentos de alta volatilidade. Szuster explica que o ADL entra em ação quando um trader alavancado é liquidado, mas o valor da liquidação não cobre todo o prejuízo.

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“Nessa situação, o fundo de seguro da exchange tenta absorver a perda; porém, se ele não for suficiente, o ADL é acionado para reduzir automaticamente posições vencedoras do outro lado do mercado. Ou seja, mesmo quem estava ganhando pode ter parte da posição encerrada à força, para que a corretora não fique no prejuízo”, detalha.

Embora cumpra um papel de segurança, o sistema pode amplificar as crises. “Essas liquidações forçadas tiram liquidez do mercado e ampliam o pânico em momentos de queda acentuada”, ressalta o analista, acrescentando que o ADL deve ser considerado “um último recurso, e não algo que deva acontecer com frequência”.

Para mitigar seus efeitos, Szuster defende reforçar os fundos de seguro das exchanges, melhorar os processos de liquidação parcial e adotar uma gestão de risco mais rigorosa, com margens dinâmicas e limites de alavancagem ajustados à volatilidade.

Hyperliquid e o papel das corretoras

Durante a queda, uma das plataformas mais mencionadas foi a Hyperliquid, que concentrou o maior volume de liquidações. O episódio reacendeu o debate sobre os mecanismos de alavancagem e o papel das exchanges descentralizadas.

Szuster avalia que não há conflito de interesse direto entre corretoras e investidores. “Em momentos de extrema volatilidade, as corretoras que operam derivativos costumam se comportar melhor do que muitos usuários, que podem ser liquidados. No entanto, quem realiza operações alavancadas deve estar ciente desses riscos”, afirma.

Segundo ele, protocolos descentralizados como o da Hyperliquid permitem ampliar ganhos – mas também perdas:

Não seria correto afirmar que há um conflito de interesse. O que ocorre é que as operadoras de derivativos buscam um mercado que permita alavancagem de forma saudável ao longo do tempo, para maximizar retornos.

Ainda assim, Szuster alerta: “Eventos extremos não podem ser muito frequentes, pois podem limitar o tamanho potencial do mercado de derivativos e impactar a receita de longo prazo”. Em sua visão, as corretoras vêm aprimorando seus mecanismos de segurança e proteção, mas o risco é inerente ao próprio modelo de alavancagem.

E depois da tempestade?

Após o choque, o mercado ainda demonstra cautela. Rumores sobre grandes fundos afetados e liquidações recordes aumentaram o receio entre os agentes. No entanto, Szuster acredita que o efeito será passageiro. “ [Esses eventos] podem tornar os agentes mais cautelosos no curto prazo, mas, historicamente, o mercado se recupera rapidamente”, afirma.

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Ele relembra episódios anteriores, como a crise da Covid-19 e a quebra da FTX, que provocaram choques temporários, mas não alteraram estruturalmente o comportamento de alavancagem. “Na verdade, a opção por derivativos e alavancagem sempre se expandiu à medida que o mercado cripto cresceu. Acreditamos que essa tendência continuará”, diz.

Para o analista, o receio atual tende a se dissipar. “Apesar do efeito temporário de cautela, não houve um trauma duradouro. Eventos como esse tendem a ser superados, permitindo que o mercado de derivativos e futuros continue se expandindo junto com o crescimento do mercado de criptoativos.”

*Com informações da Bloomberg

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Isabela Ortiz

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