Nubank (ROXO34), hoje 3º maior banco do Brasil em clientes, mira o México para buscar mais 65 milhões deles; e quando chegam os dividendos?

O Nubank (ROXO34) prova a cada dia sua consolidação. Terceiro maior banco do País hoje em número de clientes, com 100 milhões deles em 2025 e atrás somente de Caixa Econômica Federal e Bradesco (BBDC4), a firma agora busca expansão internacional, tendo o México como sua principal aposta para, inclusive, superar a operação brasileira em participação de mercado e rentabilidade. O otimismo também reflete a capacidade da gestão em atravessar um cenário macroeconômico adverso, embora o desafio de se firmar como pagador de dividendos ainda esteja longe de se tornar realidade.
O foco do roxinho em crescer no México vem acompanhado de uma troca na presidência da operação do país da América do Norte. No último dia 2, Armando Herrera assumiu o cargo de CEO no lugar de Ivan Canales, que liderou nos últimos três anos. A transição está sendo conduzida por Guilherme Lago, diretor monetário (CFO, na sigla em inglês) do Nubank.
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Em um videocast, Lago disse que o México possui mais de 50% da população desbancarizada e a companhia quer a maior parte desse público – equivalente a aproximadamente 65 milhões de pessoas, tendo em vista os 130 milhões de habitantes atualmente.
Segundo o CFO, o banco pode ter participação de mercado na filial mexicana maior que o market share alcançado no Brasil. Tal cenário daria ao Nubank a chance de ditar o ritmo local sem sofrer com pressões de taxas ou grandes concorrentes, deixando a operação mexicana mais rentável que a brasileira.
“Estamos muito animados com a oportunidade de fornecer essas soluções aos mexicanos e poder compartilhar um pouco da nossa experiência aqui e construir o que acreditamos que pode ser a maior franquia de banco digital da América Latina”, afirmou o executivo.
Para atingir a meta, a firma está implementando a estratégia de crédito “low and grow”, que consiste em iniciar os clientes com limites de crédito modestos e aumentá-los à medida que mais dados sobre ele são coletados. Para a companhia, o método fomenta a concessão de crédito conservadora e promove educação financeira.
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Até o momento, o Nubank anunciou investimento de US$ 1,4 bilhão no México.
Por que a operação no México pode superar o Brasil em rentabilidade
Na visão dos analistas do BTG Pactual, o Nubank tem apresentado boas perspectivas na segunda maior economia da América Latina, onde a expansão de operações vem ganhando escala e ajudando a compensar a desaceleração dos produtos mais rentáveis no Brasil.
“Acreditamos que a estratégia do banco no México está sendo muito bem executada e agora claramente ganhou força. Em nossa visão, a expansão internacional segue como um dos principais pontos para investir na ação”, afirmam Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, que assinam o relatório do BTG.
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Além do crescimento fora do Brasil, a companhia também deve se beneficiar do cenário doméstico. O BTG avalia que a linha de clientes de renda baixa deve ser favorecida em 2026 pela continuidade de programas públicos de transferência de renda, como o Bolsa Família. Outras medidas esperadas em ano eleitoral, como a isenção de Imposto de Renda (IR) para pessoas físicas com ganhos de até R$ 5 mil mensais, também podem impulsionar os resultados.
“Nossos números atualizados agora refletem essa dinâmica de curto prazo, ao mesmo tempo em que sustentam o otimismo quanto à lucratividade e às perspectivas de crescimento de longo prazo. Consequentemente, também estamos elevando nossas estimativas para 2026 e 2027 em cerca de 5%, para R$ 3,4 bilhões e R$ 4,3 bilhões, respectivamente”, afirmam os analistas.
Boa gestão do Nubank ganha confiança do mercado
O momento da firma também se apoia em melhorias significativas no balanço do segundo trimestre de 2025 (2T25). O Nubank reportou lucro líquido de US$ 637 milhões, alta de 42% na comparação com igual período do ano passado. O Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), que mede a rentabilidade da firma, foi de 28%. A cifra ficou acima de todos os quatro grandes bancos brasileiros, inclusive do Itaú (ITUB3; ITUB4), que apresentou ROE de 23,3%.
O mercado temia uma alta generalizada da inadimplência e das provisões do Nubank diante do cenário macroeconômico de juros a 15% ao ano e inflação acima do teto da meta. Todavia, esse fato não se concretizou – houve acréscimo de apenas 0,1 ponto porcentual na inadimplência acima de 90 dias da firma, que subiu para 6,6%.
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Com esse número, as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) do Nubank cresceram 1% no trimestre, sem o efeito do câmbio, para US$ 1 bilhão. A alta foi inferior à do Banco do Brasil (BBAS3), que no mesmo período viu suas provisões saltarem 103,8%. Essa era uma das preocupações dos analistas do Citi, que após o resultado elevou a recomendação de Nubank de venda para compra.
“Apesar das preocupações com o ambiente macroeconômico (que acreditamos estar se saindo melhor do que o esperado), vemos os trimestres recentes como um testemunho da capacidade de o banco não apenas navegar bem, mas de também acelerar em carteiras-chave enquanto mantém uma boa qualidade de ativos”, escrevem os analistas Gustavo Schroden, Brian Flores e Arnon Shirazi em relatório.
Quando o Nubank será um banco com dividendos atraentes?
Ainda que haja perspectiva de ganhos para os acionistas, os analistas enxergam um longo caminho para o Nubank tornar-se um banco com dividendos robustos para o investidor. Régis Chinchila, analista de Research da Terra Investimentos, diz que o banco digital possui escala com mais de 122 milhões de clientes na América Latina, mas superar os quatro grandes em volume de negócios no Brasil é improvável no curto prazo.
“O que pode ocorrer é um avanço expressivo em participação de mercado em determinados segmentos, como cartões de crédito, crédito pessoal e produtos digitais. O grande diferencial do Nubank em relação aos tradicionais está na eficiência tecnológica e na penetração em públicos historicamente menos atendidos”, explica.
Larissa Quaresma, analista de ações da Empiricus, comenta que o banco não possui uma forte presença no segmento de atacado (Investment Banking, Crédito Corporativo, Cash Management, Tesouraria). Segundo ela, a medida dificulta a companhia em concorrer em pé de igualdade contra os demais do setor no Brasil.
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O Itaú, por exemplo, terminou o 2T25 com uma carteira de crédito de R$ 1,38 trilhão. Desse montante, 32,5% está focada em pessoas físicas. Os 67,5% restantes se dividem em pequenas e médias firmas (PMEs) e companhias de grande porte.
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Já o Nubank apresentou uma carteira de crédito de US$ 27,3 bilhões no período, a qual é formada por cartão de crédito e empréstimos para pessoa física, sem a presença de companhias. “Por isso, nos negócios de atacado, ainda é difícil enxergar o Nubank superando os tradicionais, mesmo no longo prazo”, argumenta Quaresma.

Não obstante, o foco de expansão no México deve fazer com que a firma gaste dinheiro com investimentos no “low and grow” no país norte-americano. Ou seja, as análises indicam que a companhia não deve pagar proventos interessantes nos próximos dois anos.
Gabriel Mollo, analista do Banco Daycoval, vê um início gradual da política de distribuição de dividendos do Nubank a partir de 2026, com retornos ainda modestos no curto prazo, mas com espaço para aceleração conforme o ciclo de crescimento amadurece.
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A Empiricus calcula dividend yield (retorno de dividendos) de 0% para o Nubank em 2025 e 2026, assim como o BTG, que vê mudança só em 2027, quando chegaria a 3,3%. A Terra Investimentos estima rendimento em proventos em 0,5% em 2025, 1% em 2026 e entre 1,5% e 2% em 2027. “Esses números ficam abaixo dos grandes bancos brasileiros, que costumam oferecer dividendos mais robustos”, diz Chinchila da Terra.
Desse modo, as recomendações para as ações do Nubank (ROXO34) continuam concentradas com foco na valorização do ativo. O plano de expansão no México e as medidas que ampliam a renda das famílias de baixo poder aquisitivo reforçam o otimismo do mercado, especialmente após um bom resultado em meio a um cenário desafiador para firmas que concedem crédito às classes D e E.
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Autor: Bruno Andrade