Trump volta a mirar Moscou e petróleo dispara: entenda o impacto nas ações e onde investir agora
O petróleo dispara, nesta quinta-feira (23), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor sanções contra duas das principais firmas de petróleo da Rússia — Rosneft e Lukoil. A justificativa, segundo o governo americano, é a intransigência de Vladimir Putin, que se recusa a negociar o fim da guerra na Ucrânia. Para analistas ouvidos pelo E-Investidor, a medida pode gerar volatilidade e beneficiar as ações petrolíferas no curto prazo, mas a tendência é de queda da commodity ao longo do próximo ano devido ao excesso de oferta global – impedindo uma revisão de fundamentos.
Por volta das 12h, o petróleo Brent subia 4,83%, a US$ 65,61. As sanções de Trump foram as primeiras do político contra a Rússia desde o seu início de mandato. A decisão marca uma virada na política externa do republicano, que antes pressionava a Ucrânia para aceitar um acordo de paz. Segundo os analistas do setor petroleiro, a commodity pode ir para a faixa dos US$ 70 a US$ 80 por barril caso a crise piore com uma resposta abrupta da Rússia. Mesmo assim, a perspectiva futura é de queda do petróleo.
Humberto Aillon, professor e especialista na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), diz que existem válvulas de escape que podem guiar uma possível queda do petróleo, como o aumento de refino e extração por outros países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Ainda assim, caso a Rússia escale o conflito, ele estima que a commodity poderia chegar ao patamar de US$ 70 por barril.
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Felipe Sant’Anna, analista da Axia Investing, estima que o petróleo tende a voltar para US$ 60 por barril após o fim da tensão momentânea. Desse modo, ele prevê esse patamar até o final de 2025, a menos que fatores externos ou novas guerras ocorram.
“O preço do barril é fundamental para manter a inflação global minimamente controlada, portanto a alta do petróleo não é do interesse da maioria dos países”, explica.
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, calcula que o petróleo deve operar na faixa de US$ 64 por barril em 2026. Ele cita um relatório da agência internacional de energia que aponta um desequilíbrio de um excesso de oferta em relação à baixa demanda da commodity no próximo ano.
Adriano Pires, sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), vê o patamar de US$ 80 por barril como um teto para o óleo no curto prazo por esse ser o valor que o ativo chegou quando os Estados Unidos atacaram o Irã.
“No entanto, 15 dias depois ele voltou para os US$ 65, porque hoje não tem explicação de mercado para petróleo acima de US$ 60, devido à forte oferta e a baixa demanda”, comenta.
Pires acredita que o preço do barril tende a cair em 2026 para a faixa dos US$ 50 e US$ 55 devido ao excesso de oferta em relação à demanda. Ele calcula um consumo de 100 milhões de barris de petróleo para 2026 com uma produção de 102 milhões, ou seja, 2 milhões de barris devem ficar em estoque.
“O mundo vive hoje um aumento na produção. A entrada de novas fontes produtoras, como a Guiana e a própria produção dos Estados Unidos, devem puxar o preço para baixo no próximo ano”, explica.
O sócio fundador do CBIE lembra que houve alguns momentos na história nos quais o petróleo subiu e se manteve em patamar elevado por um período mais prolongado, como no início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Naquele ano, 2022, o petróleo chegou a ser negociado a US$ 130 por barril e demorou 8 meses para voltar a ser negociado na faixa dos US$ 80 por barril.
“O mundo vivia uma onda ambientalista que pregava a diminuição da produção de petróleo. Hoje, a commodity tem novos produtores e tende a ter novos polos, como a margem equatorial no Brasil. Essas questões puxam o preço do petróleo para baixo rapidamente após o choque inicial do mercado”, argumenta Pires.
Por fim, ele reforça que as sanções americanas podem respingar na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Isso porque a China é uma grande importadora do gás russo. Desde o início da guerra da Ucrânia, a Rússia deixou de mandar gás para a Europa e o desviou para a Ásia. Além do gás, o óleo negro também era comprado pela Europa. No entanto, com as sanções da guerra, Moscou passou a vender seu gás e petróleo para a China, Índia e Paquistão.
“Vejo que isso pode ter um impacto na guerra comercial caso Trump pressione a China, mas nada para causar mudanças drásticas nos preços do petróleo. Somente uma guerra muito forte, por exemplo, o próprio Trump invadindo a Ucrânia tende a causar mudanças drásticas no preço do óleo”, diz Pires
Quais ações da Bolsa podem ganhar com a alta do petróleo?
Na visão de Illan Albertman, analista da Ativa Investimentos, firmas expostas à produção e exportação de petróleo são as principais beneficiadas pela alta de curto prazo:
- Petrobras (PETR4): maior geração de caixa e espaço para dividendos;
- PRIO (PRIO3): maior alavancagem operacional ao preço do Brent;
- Brava (BRAV3) e Recôncavo (RECV3) também têm ganho direto de preço.
No entanto, o analista diz não haver espaço para revisar preços-alvo desses ativos, pois o movimento parece concentrado no curto prazo.
“Se a alta se sustentar e a média esperada do Brent subir, poderemos ver revisões positivas de preço-alvo, especialmente para Petrobras e PRIO, mais sensíveis ao Brent. Mas ainda é cedo para incorporar o choque nos modelos”, salienta.
Ricardo França, da Ágora Investimentos, tem preferência para as ações da Petrobras e PRIO entre as firmas do segmento que podem ser beneficiadas. Para a companhia privada, ele estima que o aporte tende a ser positivo pelo fato de a firma conseguir explorar o campo Wahoo, que tende a trazer ganhos em lucratividade e margem para a firma.
Segundo o guia de ações da corretora, a Ágora Investimentos tem recomendação de compra para a PRIO com preço-alvo de R$ 56 para os próximos 12 meses, alta de 54,6% na comparação com o fechamento de quarta-feira (22), quando a ação encerrou o pregão a R$ 36,23.
Para a Petrobras, ele também recomenda compra com preço-alvo de R$ 40,00, alta de 34% em relação ao último fechamento. Todavia, ele comenta que o impacto positivo sobre a estatal seria limitado, pois a firma tende a não repassar a volatilidade de mercado nos preços para o consumidor.
“A menos que o petróleo continue nesse preço por um período prolongado, veríamos alguma diferença nas receitas estatal. Ou seja, como essa é uma volatilidade momentânea, isso não deve se refletir o balanço da companhia”, afirma França.
Já Humberto Aillon, da FIPECAFI, reforça que outra ponta das ações listadas em Bolsa pode subir com a medida: as companhias aéreas. Ele estima que Azul (AZUL4) e Gol (GOLL54) podem sofrer no curto prazo e perderem valor. “Essas são firmas que tem o petróleo como custo, por meio do querosene de aviação. Por isso, a alta do petróleo deve prejudicá-las. O investidor deve evitar essas ações”, afirma Aillon.
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Em suma, o investidor deve entender que mesmo com a volatilidade do dia, o petróleo tende a recuar no médio e longo prazo devido ao excesso de oferta global em relação à baixa demanda. Os impactos nas ações tendem a ser no curto prazo, dando pouca margem de atuação. Ainda assim, os especialistas seguem confiantes com as ações das petroleiras e enxergam possibilidades de ganhos em algumas delas.
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Autor: Bruno Andrade