De metrô a saneamento: os planos (bilionários) da Acciona no Brasil

Nem todo investidor estrangeiro está realmente pessimista com o Brasil. No caso da Acciona, multinacional espanhola do setor de infraestrutura, as apostas em projetos de mobilidade e, mais recentemente, de saneamento, seguem firmes. E olha que a firma e esses investimentos envolvem planos de longuíssimo prazo: 10, 20, 30 anos.
A Acciona é a responsável pela construção da Linha 6 do metrô de São Paulo, que liga a zona Norte ao centro da capital paulista (Brasilândia até a Liberdade). E, mesmo com juros de longo prazo altos e toda a instabilidade do câmbio, a companhia já está se preparando para entrar na disputa pela concessão da Linha 16, apelidada de “linha dos parques”, que deve ter 16 quilômetros de extensão. Além de planos ousados para o setor de saneamento.
“O Brasil é muito cíclico. Nós sabemos que daqui a seis meses, daqui a um ano, isso [o cenário de juros] muda”, afirma André De Angelo, responsável pela operação da Acciona no Brasil, em entrevista ao InvestNews. “Nós queremos avançar, mas temos que andar devagar porque nós temos pressa”, diz o executivo, parafraseando a música de Renato Teixeira.
A Acciona, que faturou €19,2 bilhões no ano passado, tem operações em mais de 40 países. Fora o mercado europeu, onde está sua matriz, a Austrália é seu principal mercado. Em seguida, vêm a América do Norte e o Brasil. “Os dois mercados estão no mesmo nível de importância”, afirma. “O Brasil é um mercado bastante importante para a firma, tanto em termos de faturamento, de resultado e também de perspectivas futuras.”
O déficit de infraestrutura em um país do tamanho do Brasil é, claro, uma oportunidade para uma companhia como a Acciona. Existem muitos grandes projetos a serem desenvolvidos por aqui. Mas os investimentos em infraestrutura no Brasil ainda estão num nível muito abaixo do que seria necessário ao longo dos anos.
Um estudo recente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) avalia que o país precisa investir ao menos 3% do seu PIB em infraestrutura de transportes, por exemplo, mas, em 24 anos, jamais superou a marca de 0,62%.

Mas De Angelo diz que o apetite por grandes projetos também tem a ver com a evolução do ambiente regulatório no país, que traz segurança para os investidores de infraestrutura. De acordo com o executivo, o Brasil se destaca pela clareza e previsibilidade dos projetos. “Acho difícil ter hoje no mundo um país que tenha um plano claro de investimento de concessões e PPPs com tamanhas oportunidades como o Brasil.”
Por outro lado, reconhece que, para quem deseja desembarcar no país neste momento, o cenário possa ser um pouco mais complexo, especialmente na tomada de financiamentos. Para firmas já estabelecidas, o cenário não chega a ser preocupante.
O responsável pela Acciona Brasil destacou que os projetos em análise têm ciclos de maturação médios, com financiamentos que só serão contratados daqui a um ou dois anos. “Ninguém tem uma bola de cristal, mas o histórico do Brasil se mostra cíclico.”
Saneamento
Nos últimos anos, a Acciona ensaiou algumas vezes sua entrada na operação de saneamento básico do Brasil. E o momento certo chegou em setembro, quando a Acciona conquistou seu primeiro contrato com a vitória em um dos leilões de Parceria Público-Privada (PPP) da Sanepar, estatal de saneamento do Paraná.
O contrato abrange 48 municípios da região Oeste do estado e prevê mais de R$ 2 bilhões em investimentos ao longo dos 24 anos de concessão. “É um projeto em que nós acreditamos muito. A gente quer fazer desse projeto o início de uma plataforma de saneamento”, diz.
Para o executivo, a PPP é apenas o primeiro passo de uma estratégia mais ampla, que já mira oportunidades em Minas Gerais, Pernambuco, em leilões de concessão de Bauru (SP) e Brusque (SC) e até mesmo com aquisição de firmas que hoje possam estar nas mãos de fundos de private equity. “Todas as possibilidades estão na mesa”, afirma.
A Acciona chegou a encaminhar uma aquisição estratégica de ativos que pertenciam à Iguá Saneamento e acompanhou os passos iniciais do processo de privatização da Sabesp, mas os planos foram sendo adiados quando os formatos dos negócios não se alinhavam às expectativas da companhia.
Agora, com o primeiro contrato de saneamento em mãos, a estratégia da firma é criar um modelo de gestão que possa ser replicado em futuras concessões que a Acciona eventualmente venha a conquistar.
“Nossa intenção é, além de cumprir as metas estabelecidas no contrato, formar pessoas a partir disso”, acrescenta De Angelo. O executivo reforça que a proximidade geográfica e o potencial de agregar valor à operação do Paraná serão determinantes na avaliação de quais oportunidades serão filtradas.
Grandes projetos
A Acciona, firma listada na bolsa de Madrid e controlada pela família Entrecanales, está presente no Brasil desde 1996 e tem como prioridades no país o saneamento e a mobilidade.
Não por acaso, o principal investimento da firma hoje é a Linha 6 do metrô paulista e que é atualmente o maior projeto de infraestrutura em andamento na América Latina, com R$ 19 bilhões em capex para uma concessão de 24 anos.
“São 15 quilômetros, 15 estações, 40 metros de profundidade, desbravando regiões e solos que nunca tinham sido escavados antes”, detalhou André de Angelo. A previsão é que a linha comece a operar parcialmente no final de 2027, atendendo cerca de 630 mil pessoas diariamente.

Além das concessões de saneamento básico e os planos para o metrô, estão no radar da Acciona outros dois grandes projetos de infraestrutura: o túnel Santos-Guarujá e o novo centro administrativo do governo paulista no bairro de Campos Elíseos. “São projetos grandes, são projetos de engenharia complexa, de montagem financeira complexa, e é onde a gente entende que pode agregar valor”, afirma o executivo.
O que achou dessa notícia? Deixe um comentário abaixo e/ou compartilhe em suas redes sociais. Assim deixaremos mais pessoas por dentro do mundo das finanças, economia e investimentos!
Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Rikardy Tooge