Últimas Notícias

Muitos comprimidos, um corpo frágil: o custo do uso excessivo de medicamentos por idosos

Durante anos, a família de Barbara Schmidt temeu que alguma doença estivesse por trás de uma sequência assustadora de quedas que levaram a bisavó de 83 anos repetidas vezes à mesa de cirurgia, com ossos quebrados. Em vez disso, os tombos frequentes de Schmidt podem ter relação com outra coisa: os medicamentos que deveriam fazê-la se sentir melhor.

Schmidt, que mora com o marido há 65 anos em Lewes, no estado de Delaware, retirou receitas de mais de uma dúzia de medicamentos diferentes no último ano, de acordo com registros médicos e de farmácia.

Isso não é incomum entre os idosos americanos, segundo a análise do Journal. Um em cada seis dos 46 milhões de idosos inscritos no benefício de medicamentos do Medicare — que cobre a maior parte dos remédios usados por pessoas mais velhas nos EUA — recebeu prescrição de oito ou mais medicamentos.

Schmidt se considera saudável — ainda trabalha alguns dias por semana em uma loja da Marshalls e é uma artesã dedicada, que cria cartões de aniversário elaborados para seus quatro filhos, 14 netos e oito bisnetos. Mas a osteoporose deixou seus ossos frágeis, enquanto artrite e problemas na coluna às vezes causam dores intensas. Ao longo dos anos, Schmidt contabiliza nove cirurgias, incluindo a substituição de ambos os quadris e joelhos. Ela também enfrentou ansiedade e dificuldades para dormir, em grande parte relacionadas à dor.

Para ajudar, médicos foram acrescentando medicamentos.

Entre os primeiros esteve a gabapentina, que ela diz ter começado a tomar há cerca de uma década para tratar dores persistentes nas costas. O remédio parecia aliviar o problema, e Schmidt queria manter uma vida ativa. Assim, continuou usando o medicamento, chegando a três doses diárias de 300 miligramas.

Por anos, mostram os registros, Schmidt também tomou diazepam para ansiedade. O medicamento é mais conhecido pelo nome comercial Valium e pertence à classe dos benzodiazepínicos.

Mais recentemente, ela teve prescrições de hidroxizina, um anti-histamínico às vezes usado no tratamento da ansiedade, e de metocarbamol, um relaxante muscular que normalmente tomava diariamente junto com a gabapentina. Para dormir, recebeu trazodona, um antidepressivo, apesar de não ter diagnóstico de depressão.

Alguns dos medicamentos que Schmidt tomou estão em uma lista amplamente utilizada de remédios que podem ser perigosos para idosos. As diretrizes, mantidas pela American Geriatrics Society e conhecidas como “Critérios de Beers” — em referência ao médico que liderou inicialmente seu desenvolvimento — sugerem que certos medicamentos quase nunca deveriam ser usados por pacientes mais velhos. Entre eles estão o benzodiazepínico diazepam, o anti-histamínico hidroxizina e o relaxante muscular metocarbamol.

Barbara Schmidt, de 83 anos, ainda se considera saudável (Foto: Hannah Yoon / The Wall Street Journal)

Outros medicamentos, dizem as diretrizes, ainda representam riscos para pacientes com determinadas condições médicas ou quando combinados com outros remédios. Elas alertam, por exemplo, que idosos devem minimizar o número de medicamentos tomados simultaneamente que afetam o sistema nervoso central, incluindo a gabapentina.

À medida que Schmidt foi adicionando mais remédios com efeitos sedativos, começou a sofrer quedas regulares.

Ela fraturou o quadril após tropeçar na borda de uma entrada de garagem. Durante férias em família na Alemanha, acabou em um hospital depois de cair de uma escada rolante. Em outra ocasião, caiu de uma escada enquanto trabalhava em decorações de Natal, perdeu a consciência e ficou com o rosto gravemente machucado. A família ficou cada vez mais alarmada, mas Schmidt se recusava a usar andador ou bengala, atribuindo as quedas a causas externas, como terrenos irregulares.

As prescrições mais recentes de Schmidt vieram de pelo menos cinco profissionais de saúde diferentes. A maioria era ligada ao sistema hospitalar local Beebe Healthcare, incluindo uma enfermeira praticante que a atende nos cuidados primários e um consultório de gastroenterologia. Um cirurgião ortopedista que tratou seus problemas nas costas e prescreveu medicamentos para a dor trabalha em um consultório independente, a First State Orthopaedics.

Um porta-voz da Beebe afirmou que a instituição revisou seus padrões de prescrição e, em novembro, implementou um novo prontuário eletrônico que permitirá aos médicos “visualizar históricos médicos e de medicação consolidados” dos pacientes e oferecer um cuidado “mais seguro e bem informado”. A First State Orthopaedics disse que não comenta questões relacionadas ao atendimento de pacientes, a menos que seja legalmente obrigada a fazê-lo.

Farmacêuticos que trabalham com idosos dizem que médicos nem sempre têm conhecimento da lista completa de medicamentos de seus pacientes. Nem sempre os pacientes mencionam o que outros médicos prescreveram quando o histórico é levantado, e especialistas podem não ter acesso a um prontuário compartilhado.

A análise do Journal constatou que, entre idosos que tomam oito ou mais medicamentos, é comum que as prescrições venham de um grande número de médicos.

Alguns médicos prescrevem medicamentos a seus pacientes em taxas alarmantes, às vezes ordenando sozinhos oito ou mais remédios para um único paciente. O Journal identificou que os médicos que mais prescrevem estão concentrados em áreas rurais do Sul dos EUA, onde doenças crônicas são prevalentes.

A filha de Schmidt, Debra Schindler, que trabalha em Maryland para o sistema hospitalar MedStar Health, achava que a mãe precisava ir a uma clínica especializada em idosos. “Eu simplesmente sabia que não era normal ela cair o tempo todo”, diz Schindler.

Em março de 2023, Schmidt se reuniu com George Hennawi, diretor médico executivo de geriatria e serviços para idosos do sistema MedStar, além de outros profissionais, incluindo um farmacêutico que revisou sua lista de medicamentos.

Hennawi focou em três das prescrições: hidroxizina, metocarbamol e gabapentina. Os medicamentos provavelmente eram a causa da confusão mental e das quedas, disse ele. “Todos eles atuam mais ou menos da mesma forma”, afirma Hennawi. “Combinar todos aumenta o risco de complicações.”

Schmidt ficou chocada. Ninguém havia levantado antes o perigo do uso simultâneo de tantos medicamentos.

Uma revisão detalhada de medicamentos como a que Schmidt recebeu — parte de um processo conhecido como medication therapy management (gestão da terapia medicamentosa) — deveria ser uma exigência do Medicare. As seguradoras que vendem planos de medicamentos precisam oferecer esse serviço.

A exigência federal, porém, se aplica apenas a um grupo limitado de beneficiários, e Schmidt não se qualificava, provavelmente por não ter um número suficiente de doenças crônicas.

A análise do Journal mostrou que as chamadas revisões abrangentes de medicamentos exigidas pelo Medicare não alteraram, em média, o número de remédios prescritos aos pacientes.

Um porta-voz dos Centros de Serviços Medicare e Medicaid afirmou que essas revisões podem identificar diversos problemas potenciais e que seu impacto “pode não ser refletido em uma simples contagem de prescrições ao longo do tempo”.

Schmidt diz que, após a consulta de 2023, praticamente parou de tomar gabapentina e metocarbamol. Ela usa a hidroxizina apenas quando se sente estressada. Desde então, afirma não ter sofrido novas quedas e se sente mais lúcida.

Ela já havia interrompido o uso do benzodiazepínico anteriormente, após apresentar sintomas de abstinência durante uma internação hospitalar e descobrir que se tratava de uma substância controlada.

“Estou melhor do que antes”, diz.

Schmidt afirma que ainda guarda medicamentos que não toma regularmente, incluindo a gabapentina. “Eu mantenho comigo para o caso de chegar um momento em que eu precise”, afirma. “Quando se envelhece, a gente não joga remédio fora.”

Os Schmidts preparam as decorações de Natal para a casa (Foto: Hannah Yoon / The Wall Street Journal)

O que achou dessa notícia? Deixe um comentário abaixo e/ou compartilhe em suas redes sociais. Assim deixaremos mais pessoas por dentro do mundo das finanças, economia e investimentos!

Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original

Autor: The Wall Street Journal

Dinheiro Portal

Somos um portal de notícias e conteúdos sobre Finanças Pessoais e Empresariais. Nosso foco é desmistificar as finanças e elevar o grau de conhecimento do tema em todas as pessoas.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo