Novo imposto sobre renda na Bolsa atrai investidor para ETFs de dividendos; veja o que gestoras e analistas projetam para 2026

Com a tributação dos dividendos sancionada, firmas da Bolsa já anteciparam lucros e se movimentam para mudar suas políticas de remuneração em 2026. Mesmo com o tributo incidindo sobre valores acima de R$ 50 mil mensais ou R$ 600 mil no ano, um efeito indireto deve aparecer no mercado: a busca dos investidores por novas formas de gerar renda passiva e diversificar a carteira, reduzindo o impacto da nova regra. É nessa que entram os ETFs de dividendos.
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Como apontam analistas ouvidos pelo E-Investidor, fica difícil falar em isonomia quando um ativo passa a ser tributado e outro não, mas é inevitável que segmentos antes esquecidos voltem ao radar. Entre eles estão os ETFs (sigla para Exchange Traded Funds, fundos atrelado a uma carteira de ativos negociados na Bolsa de Valores como se fosse uma ação) que pagam dividendos, lançados em 2023 e que avançaram pouco até aqui, muito por causa da cobrança de 15% sobre seus proventos.
Os gestores reconhecem que esses 15% de imposto travaram a expansão da categoria. O crescimento foi tão tímido que, em um país onde dividendo é rei, apenas 13 ETFs com distribuição de renda nasceram nos últimos dois anos, bem abaixo da força vista em nichos como os ETFs de criptomoedas.
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Agora, com a nova tributação de dividendos de ações, surge a dúvida: os ETFs de dividendos finalmente ganham atratividade? A reportagem ouviu os principais gestores da indústria e destaca os fatores que podem reposicionar essa classe de ativos em 2026.
Patamar de igualdade, mas muda radicalmente o jogo?
Para Renato Eid Tucci, gestor de ETFs da Itaú Asset Management, a taxação de 10% nos dividendos acima de R$ 50 mil coloca ações e ETFs no mesmo patamar, mas isso não muda o jogo da indústria. Ele vê possibilidade de migração, porém acredita que o principal desafio está no investidor entender a conveniência de ter um ETF de dividendos na carteira. O Itaú tem apenas um produto com essa estratégia, o DIVD11, que replica o IDIV (Índice de Dividendos da B3) e somava 7381 investidores até novembro.
Eid destaca que a conveniência passa por três fatores. O primeiro vem da curadoria das ações mais consistentes, evitando firmas que pagam muito em um ano e nada no seguinte. O segundo está na diversificação, já que um ETF reúne diferentes pagadoras de dividendos sem exigir que o investidor amplie e estude um portfólio grande sozinho.
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O terceiro está relacionado ao fluxo de proventos, já que enquanto ações têm calendários diferentes, um ETF de distribuição de dividendos consegue entregar renda mensal independente da data de pagamento das firmas. Ele também cita o potencial de valorização das cotas dos ETFs.
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A defesa da isonomia tributária também aparece na análise de Andrés Kikuchi, CIO da Nu Asset e gestor do NDIV11, terceiro maior ETF de dividendos da B3, com 17.298 cotistas. Para ele, tributar dividendos de ações não representa equilíbrio. “Vai acontecer uma tributação extra para ter isonomia entre ações e ETFs. E o que a indústria sempre defendeu é o contrário.”
Kikuchi afirma que a igualdade deveria ser construída pela isenção, permitindo ao investidor escolher apenas pelo mérito do produto. Ele lembra que a medida provisória (MP) 1.303 tocava nesse ponto, mas foi arquivada. Segundo o gestor, ainda está cedo para prever se a cobrança da alíquota de 10% sobre dividendos de ações trará fluxo relevante para os ETFs de distribuição de dividendos.
Já Renato Nobile, gestor da Buena Vista Capital, vê o cenário com mais ceticismo. Para ele, a tributação acima de R$ 50 mil causa mais confusão do que fluxo para os ETFs. Ele também não acredita em uma eventual queda do imposto cobrado de 15% sobre dividendos de ETFs.
“O governo quer tributar e arrecadar. Não vejo aumento do imposto nos dividendos de ETFs, mas também não há espaço para isenção.”
Apesar disso, Nobile espera um forte crescimento da indústria em 2026, mas por outros motivos: maior familiaridade do investidor com os ETFs de dividendos, busca de diversificação em ano eleitoral, possíveis cortes de juros e a entrada de grandes gestoras na categoria.
“O fluxo de investidores que fugiu dos multimercados e dos fundos de ações deve migrar para esse tipo de ETF de proventos”, aponta.
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Eficiência tributária e sem risco de bitributação
- Dividendos e juros sobre capital próprio pagos das ações aos ETFs não sofrem tributação, o fundo recebe os valores isento;
- A tributação única de 15% ocorre na hora de distribuir o provento ao acionista;
- É por isso que ETFs que pagam dividendos possuem certas vantagens tributárias e não devem sofrer bitributação com as mudanças recentes.
Quando o assunto é tributação, alguns fatores importantes ainda passam despercebidos pelos investidores. Kikuchi lembra que, por serem fundos, os ETFs não sofrem tributação quando recebem dividendos ou juros sobre capital próprio (JCP). Para a pessoa física, o JCP tem retenção de 15% na fonte e os dividendos, antes isentos, passam a ter retenção de 10% sobre valores acima de R$ 50 mil mensais – leia mais aqui.
Nos ETFs de distribuição, porém, o fundo recebe tudo isento, tanto dividendos quanto JCP, mesmo após as mudanças. A cobrança acontece apenas na taxa única de 15% aplicada no pagamento ao cotista, o que evita bitributação. Essa dinâmica vale para todo o segmento, não apenas para o NDIV11.
Leonardo Maranhão, especialista em ETFs e sócio da Invés Finance, destaca outra vantagem tributária dos ETFs de distribuição de proventos: os JCPs sempre foram reinvestidos de forma isenta dentro dos fundos, gerando diferimento fiscal e maior eficiência. “Para ações que têm um porcentual elevado de distribuição via JCP, isso acaba sendo uma vantagem para o ETF”, afirma.
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Ele lembra ainda o temor recorrente do mercado monetário de que a alíquota de 15% do JCP possa ser replicada nas ações, reforçando o benefício relativo dos ETFs.
2026: o ano dos ETFs de dividendos
Mesmo com um ano eleitoral se aproximando, juros elevados e tributação no radar, gestores ouvidos pelo E-Investidor acreditam que 2026 será o ano dos ETFs que pagam dividendos.
Kikuchi afirma que, apesar da alíquota de 15% já existente, a indústria continuou recebendo novos lançamentos em 2025, sinal claro de interesse do mercado. Ele lembra que os assessores de investimento também impulsionam a demanda, já que buscam produtos eficientes e de menor custo até para garantir remuneração, fenômeno semelhante ao observado nos Estados Unidos, o que favorece o crescimento.
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Na Nu Asset, a estratégia envolve amadurecer o primeiro ETF antes de avançar para um segundo produto de renda, possibilidade que já está no radar da gestora para 2026. Kikuchi destaca que o NDIV11 acumula retorno de 42,78% desde o lançamento, acima do Ibovespa, com 33,93%, e atingiu 10 mil cotistas já no primeiro ano, marca que o BOVA11 levou uma década para alcançar.
Para Eid, da Itaú Asset, o avanço da categoria deve aparecer com clareza em 2026 tanto no número de cotistas como no patrimônio sob gestão.
Em entrevista ao E-Investidor, Renato Nobile, da Buena Vista, também listou os fatores que devem estimular a indústria no próximo ano, entre estes a entrada de gestoras renomadas no mercado de ETFs que pagam proventos, a queda dos juros e o maior interesse dos investidores que começam a se familiarizar com as teses.
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Danilo Moreno, analista da Investo, vê 2026 como um ano muito positivo, impulsionado pela familiaridade crescente do investidor com ETFs de renda, que combinam eficiência, transparência e baixo custo. “Nos fundos de dividendos da Investo, os ativos foram desenhados para entregar estratégias perenes, que se encaixam em diferentes cenários políticos, independente do ciclo de juros e volatilidade eleitoral”, afirma. A Investo possui atualmente três ETFs que pagam dividendos listados, BIZD11, UTLL11 e BEST11.
Segundo ele, assessores e consultores terão papel fundamental ao reforçar a cultura dos ETFs e ajudar o investidor a entender suas vantagens de renda e diversificação no longo prazo. Entre os produtos da gestora, a maior aposta de Moreno vem do BEST11, lançado em setembro, que já ultrapassou R$ 40 milhões em patrimônio e oferece exposição a bancos, energia, saneamento, seguros e telecom, com proventos mensais.
As teses que dominaram o coração dos investidores
Segundo levantamento do E-Investidor, com dados da B3 e da Economatica, os ETFs que mais dominam o coração dos investidores são os sintéticos, atrelados a teses que combinam bitcoin com proventos e índice S&P 500, seguido ainda do ETF NDIV11 do Nubank e do QQQI11 que oferece exposição a ações de tecnologia presentes no Nasdaq 100. Veja dados:
Analistas opinam
Analistas consultados pela reportagem avaliam que 2026 será positivo para os ETFs de dividendos, com expansão de produtos, cotistas e patrimônio.
Para Maranhão, da Invés Finance, ETFs com dividendos sintéticos (como os da Buena Vista, que geram os proventos artificialmente com opções) ganham relevância em ano eleitoral por oferecer diversificação internacional e eficiência tributária. “Esses ETFs têm dividendo tributado em 15% no Brasil, mas nos EUA a alíquota seria de 30%. Então há um ganho tributário”, afirma.
A analista Priscilene Nunes, da Ticker Research, aponta COIN11 e QQQI11, da Buena Vista Capital, como as melhores apostas para 2026. Ela projeta dividend yield (rendimento de dividendos) de 20% a 24% para o COIN11 e de 12% a 15% para o QQQI11.
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“O COIN11 será o grande destaque por estar atrelado ao bitcoin, ter forte liquidez, ampla adoção institucional e capturar prêmios de opções mais altos, permitindo renda recorrente em cenários de forte oscilação”, diz Nunes.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Katherine Rivas
