The AgriBiz: China leva 85% da soja exportada pelo Brasil em agosto — e vai continuar

A China nunca comprou tanta soja do Brasil como em 2025. De janeiro a agosto, foram embarcadas quase 66 milhões de toneladas da oleaginosa para os chineses, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Só no mês passado, foram 8 milhões de toneladas, ou 85% das exportações totais de soja do Brasil no período.

Historicamente elevada, a atual participação da China nas exportações brasileiras de soja só é comparável a de 2018, quando Donald Trump deflagrou a primeira guerra comercial contra Pequim. A diferença é que, de lá para cá, a produção brasileira de soja disparou mais de 40%. Ou seja, estamos falando de volumes bem maiores.

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O desempenho reflete a ausência da China no mercado de soja norte-americano neste ano — uma consequência da tarifa recíproca imposta por Pequim a Washington em março, medida que acabou com a competitividade da soja americana.

Desde então, a China não comprou nenhum carregamento sequer de soja dos Estados Unidos, que começa a colheita da oleaginosa neste mês e concentra os seus embarques no segundo semestre.

A situação é tão preocupante que levou produtores americanos a pedir socorro a Trump no mês passado. “Os produtores não conseguem sobreviver a uma disputa comercial prolongada com o seu maior cliente”, afirmaram em carta ao presidente.

Mas, com as negociações entre Estados Unidos e China prorrogadas até 10 de novembro, é possível que as esmagadoras chinesas passem 2025 sem ver a cor da soja americana.

Esse contexto tem influenciado diretamente os prêmios de exportação nos portos brasileiros. Mesmo após uma colheita recorde, o prêmio continua elevado para o último trimestre do ano (em torno de US$ 1,50 por bushel) — período normalmente dominado pelos Estados Unidos no comércio de soja. E se mantém positivo para o início de 2025, o que também é atípico — nessa época, eles normalmente ficam negativos devido à pressão de oferta no Brasil.

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“Desde que Trump assumiu o segundo mandato, os prêmios não voltaram para o terreno negativo”, disse Carlos Cogo, consultor especializado no setor, durante palestra nesta semana em um congresso em São Paulo.

Essa dinâmica tem fortalecido os preços internos. Em agosto, a soja ficou praticamente estável em relação ao mesmo período de 2024, apesar de fundamentos que, em condições normais, exerceriam uma pressão baixista, observou Marcela Marini, analista do Rabobank, em relatório divulgado nesta semana. Entre esses fatores, ela cita a colheita recorde no País e a continuidade da recomposição dos estoques globais.

Com a manutenção do impasse entre EUA e China, o Rabobank espera que os embarques brasileiros continuem fortes nos próximos meses, elevando as exportações da safra 2024/25 para 110 milhões de toneladas. De janeiro a agosto, foram 86,5 milhões, segundo a Secex.

O alerta fica para o momento em que Washington e Pequim cheguem a um acordo, diz Cogo. Se a China zerar a tarifa de importação sobre a soja americana, hoje em 23%, os prêmios nos portos brasileiros vão desabar, derrubando também os valores pagos aos produtores, afirmou o consultor. Para ele, os agricultores estão ignorando a oportunidade de garantir uma boa rentabilidade na safra que começa a ser plantada este mês.

“Estamos com 20% da soja da safra 2025/26 fixada apenas. Os produtores estão perdendo uma oportunidade espetacular de fazer um ano bom”, alertou.

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