13º salário no dia da Black Friday: por que esse encontro é perigoso e como proteger seu dinheiro
A coincidência entre o pagamento do 13º salário e a Black Friday 2025 – ambos marcados para esta sexta-feira (28) – cria um terreno fértil para decisões financeiras precipitadas. Em um cenário de endividamento elevado e juros nos 15% ao ano, a combinação de “dinheiro extra” com promoções agressivas, marketing intenso e pressão para aproveitar “a melhor oportunidade do ano” aumenta o risco de gasto impulsivo. Especialistas em finanças e comportamento do consumidor apontam que, nesse contexto, a emoção frequentemente se sobrepõe à racionalidade econômica.
- Calculadora do 13º salário 2025: veja quanto você vai receber na 1ª e na 2ª parcela
Octávio Gomes, educador monetário, especialista em Investimentos e sócio da AVG Capital, destaca que o maior gatilho emocional provocado pela Black Friday não vem, necessariamente, da vontade de comprar, mas do medo de ficar de fora – sentimento conhecido como “FOMO“, na sigla em inglês.
“Para mim, o principal gatilho emocional alimentado com as campanhas da Black Friday é o medo de perder uma oportunidade, muitas vezes maior do que a necessidade real do bem ou serviço ofertado”, afirma. Ele explica que a ansiedade, a impulsividade e até a sensação de escassez reforçam tal comportamento do consumidor, levando a decisões pouco estratégicas.
Para lidar com isso, Gomes recomenda um mecanismo simples, mas poderoso: mapear necessidades reais e monitorar preços com antecedência. Segundo ele, acompanhar o valor de um produto ou serviço ao longo do tempo ajuda a identificar se a oferta de fato oferece vantagem – e evita decisões baseadas apenas no estímulo do momento.
Publicidade
Além disso, ele reforça que o planejamento prévio do uso do 13º salário pode funcionar como um antídoto contra compras por impulso. Planejar objetivos, prioridades e o destino de cada parte do dinheiro, diz o especialista, “evita que a ansiedade dilua essa entrada financeira” provocada pelas compras na Black Friday.
Planeje-se e proteja seu bolso: listas ajudam quem quer economizar
Erick Nuñez, contador e CEO do Hashtag Group, recomenda listar despesas fixas, dívidas e compromissos dos próximos três meses antes de qualquer compra. Segundo ele, definir um destino claro para o 13º salário – seja pagar dívidas, reforçar a reserva de emergência ou planejar compras necessárias – constitui uma forma eficaz de proteger o fluxo de caixa no orçamento do consumidor.
Ele também aconselha evitar parcelamentos longos e reservar parte do valor para despesas de início de ano, quando costumam chegar contas de impostos e material escolar, que frequentemente geram aperto monetário. Para o especialista, sinais como fatura do cartão de crédito acima da média, ausência de reserva e alta porcentagem da renda comprometida com dívidas funcionam como impeditivos para consumir na Black Friday, mesmo com desconto.
- Black Friday 2025: confira guia dos gigantes online para economizar de eletrônicos a itens de casa e moda
A percepção dos especialistas tem respaldo nos dados. Uma pesquisa da Serasa em parceria com o instituto Opinion Box revela que 42% dos consumidores afirmam que vão aproveitar a data promocional “com certeza”. Embora 72% digam se planejar financeiramente, 23% já ultrapassaram o limite do cartão em compras anteriores e 12% se endividaram ao tentar aproveitar promoções.
Outro levantamento, do Mercado Pago e do Mercado Livre com mais de 42 mil consumidores, mostra que 47% vão antecipar as compras de Natal durante a Black Friday 2025, aproveitando os preços baixos como uma das estratégias para garantir os presentes de fim de ano, enquanto 38% decidirão conforme as ofertas do dia.
Os números mostram um consumidor mais cuidadoso, mas ainda fortemente motivado pela vontade de comprar – e vulnerável a excessos.
Decidi comprar: quais critérios devo usar para avaliar se vale a pena?
A Black Friday costuma criar a sensação de que tudo envolve uma grande oportunidade mas, segundo especialistas, o primeiro passo para não cair em armadilhas consiste em verificar se o desconto é real. O planejador monetário e especialista em finanças comportamentais Jeff Patzlaff explica que o critério para avaliar qualquer oferta deve ser objetivo: comparar preços e entender se o desconto é verdadeiro.
“Use comparadores de preço para garantir que não é metade do dobro. O desconto tem que ser real sobre o preço médio dos últimos três meses”, afirma.
Para ele, ofertas de 5% não justificam abrir mão de liquidez. “Comprar algo barato que você não precisa significa jogar dinheiro fora, não importa o tamanho do desconto”. Patzlaff recomenda que assim que o 13º cair na conta o consumidor separe imediatamente o valor das despesas de janeiro, como Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e matrículas.
Publicidade
A ideia é transferir esse dinheiro para uma “caixinha” ou aplicação de liquidez diária, de modo que não fique à vista e ainda gere algum rendimento até o vencimento das contas. Ele lembra que muitos Estados e prefeituras oferecem descontos no pagamento à vista de impostos, o que transforma o uso estratégico do salário extra em economia real.
- Caixinhas de investimento vs poupança: o que nunca te contaram sobre a aplicação do momento, rendimentos e impostos
Antes de gastar na promoção, lembre-se dos juros…
Patzlaff reforça que a decisão sobre o destino do 13º deve ser matemática, não emocional. “Cartão de crédito chega a cobrar 449,9% ao ano e cheque especial 135,5% ao ano, segundo o Banco Central (BC). Nenhum investimento conservador supera esse custo”, explica.
Para organizar o uso do 13º salário, Patzlaff sugere o método 50/30/20 como guia: 50% para dívidas e despesas obrigatórias, 30% para lazer, sonhos e presentes e 20% para investimentos, ajustando conforme a realidade de cada trabalhador.
- Veja: Brasileiro vai usar a Black Friday 2025 para driblar inflação e alimentos lideram intenção de compra
A visão técnica de Carlos Castro, planejador monetário CFP pela Planejar, segue a mesma lógica. Ele reforça que, em um País onde o crédito é especialmente caro, o primeiro uso do 13º deve ser, sem hesitação, o pagamento de dívidas. “As pessoas normalmente se endividam usando o crédito mais caro do mercado: cartão de crédito e cheque especial”, afirma. Para Castro, esse é o passo inicial e inegociável: antes de pensar em investir, tem que parar a sangria financeira.
Não tenho dívidas e já montei a reserva de emergência, posso gastar?
- Black Friday: LATAM anuncia promoção com passagens a partir de R$ 132
Após eliminar dívidas e montar a reserva de emergência, entra em cena a etapa de diversificação dos investimentos. Castro fala em três critérios:
- horizonte de tempo;
- objetivo;
- perfil do investidor – confira aqui o seu.
Para metas de curto prazo (até dois anos), ele recomenda ativos de menor volatilidade, como títulos do Tesouro Direto. Para objetivos de médio prazo (de dois a cinco anos) ou de longo prazo (acima de cinco anos), a composição muda, incorporando categorias como renda variável, fundos multimercado e investimentos alternativos, sempre de acordo com o perfil: conservador, moderado ou agressivo.
“O conceito de carteira de investimentos é central: você não investe apenas em um ativo, mas em diferentes classes que se complementam e distribuem o risco”, afirma Castro.
Ele explica que a proporção de cada classe deve ser ajustada ao perfil do investidor e ao objetivo pretendido. Para facilitar o processo de planejamento, menciona o uso de calculadoras financeiras que projetam cenários com base no Boletim Focus atualizado.
Simulação de investimentos: saiba como aplicar seu abono salarial
O 13º salário caindo na mesma semana da Black Friday 2025 cria a sensação de que há “dinheiro sobrando” e isso estimula compras impulsivas. A simulação de investimentos feita por Carlos Castro, planejador monetário CFP pela Planejar, a pedido exclusivo do E-Investidor, porém, revela o custo invisível dessa escolha: ao gastar agora, o consumidor abre mão de um retorno futuro que poderia conquistar se aplicasse o dinheiro por 12 meses.
Se um consumidor investisse R$ 5 mil do 13º (somando a primeira e a segunda parcela) em alternativas simples, como Tesouro Selic ou um Certificado de Depósito Bancário (CDB) que renda 100% do CDI (parâmetro de rendimento de investimentos no Brasil), o ganho ultrapassaria R$ 550 ao fim de um ano. Em carteiras de investimentos diversificadas, pode chegar perto de R$ 800. A comparação mostra de forma direta que uma promoção aparentemente vantajosa resulta, na prática, em perder uma rentabilidade real e calculável.
Publicidade
A combinação entre 13º salário e Black Friday 2025 mostra que desconto não é economia se atrapalha metas financeiras e comprometer o dinheiro que fará falta em janeiro. Enquanto uma TV com “30% OFF” parece uma chance única, o rendimento de R$ 550 no Tesouro Selic significa dinheiro real que o consumidor abre mão quando compra por impulso.
O que achou dessa notícia? Deixe um comentário abaixo e/ou compartilhe em suas redes sociais. Assim deixaremos mais pessoas por dentro do mundo das finanças, economia e investimentos!
Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Isabela Ortiz
