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Aristocratas de dividendos no Brasil: as 9 empresas da Bolsa que desafiam a volatilidade e pagam dividendos crescentes todo ano

Consistência e crescimento são qualidades desejadas em qualquer área e no mundo dos investimentos não é diferente. Quando falamos em renda passiva, há um selo de elite que distingue as boas ações: o de Aristocrata dos Dividendos.

Nos Estados Unidos, o termo – “dividend aristocrats” – é tradicional e se aplica a firmas que aumentam seus dividendos por pelo menos 25 anos consecutivos, muitas delas listadas no índice S&P 500. Entre as mais conhecidas estão Coca-Cola (KO) e Johnson & Johnson (JNJ), com mais de 60 anos de proventos crescentes, além de Pepsico (PEP) e McDonald’s (MCD), com mais de 50.

Ser uma aristocrata dos dividendos significa previsibilidade e solidez.

“Um histórico tão longo de dividendos crescentes é visto como sinal de maturidade corporativa, disciplina financeira e confiança inabalável da gestão nas perspectivas futuras do negócio”, avalia Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos.

Na Bolsa de Valores brasileira, porém, não há nenhuma ação que tenha conseguido repetir esse feito. Isso não diminui a relevância das firmas locais, mas reflete a volatilidade do cenário econômico e político.

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Segundo Sobreira, fatores estruturais tornam inviável manter políticas de crescimento contínuo de dividendos e, em alguns casos, seria até imprudente tentar. O que pode ser explicado em três motivos fortes, que contaremos no final desta coluna.

Mas como prega o ditado: cada um faz o melhor que pode com as ferramentas que possui, né jacarezada?

Nesse contexto, um padrão mais realista de Aristocrata dos Dividendos no Brasil apresentaria companhias que conseguiram elevar seus dividendos por quatro ou cinco anos seguidos, mesmo enfrentando crises políticas e econômicas. Um indicador poderoso de qualidade, resiliência e compromisso com os acionistas.

Em um estudo exclusivo para esta coluna, Sobreira identificou as firmas que mantiveram proventos crescentes entre 2019 e 2024. O período incluiu o fim de um governo, uma pandemia global, uma guerra que impactou commodities, uma eleição polarizada e a alta da Selic de 2% para quase 14% ao ano.

A triagem considerou como critério o dividendo por ação (DPA) pago destas firmas, com dados da Economatica. Além disso, o analista exigiu lucro por ação (LPA) positivo em 2024, para garantir que os proventos fossem sustentáveis com a operação. Outro filtro vem da liquidez média mínima de R$ 500 mil por dia em 2024.

O levantamento também calculou o CAGR de dividendos, que mostra o ritmo anualizado de crescimento dos proventos, e o payout médio, porcentual do lucro distribuído aos acionistas neste período.

Quem passou no teste de aristocrata tupiniquim?

Seguindo os critérios definidos, apenas quatro firmas se consolidaram como aristocratas com pelo menos cinco anos de dividendos crescentes consecutivos. É importante lembrar que uma aristocrata nem sempre será considerada uma vaca leiteira — companhias conhecidas por distribuir boa parte do lucro com dividend yield (rendimento de dividendos) elevado.

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Nas aristocratas, o payout pode ser mais moderado e o rendimento em proventos, menor. O que conta é o crescimento consistente do dividendo por ação.

Segundo o estudo de Sobreira, as quatro que passaram no teste foram Weg, Log, Marcopolo e Raia Drogasil.

A Weg (WEGE3), líder global em equipamentos elétricos industriais, motores e energia renovável, é referência de firma para uma carteira de longo prazo. Combina crescimento com geração constante de caixa, características de uma típica aristocrata. Os dividendos estão em alta há sete anos, acompanhando o lucro. O payout médio no período foi de 52%, com pagamentos semestrais em março e agosto. A taxa média de crescimento dos dividendos (CAGR) foi de 27,6% ao ano nos últimos sete anos.

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Com alta liquidez, a Weg facilita a entrada e a saída de investidores, mas seu preço elevado reduz o retorno em dividendos. Em 2024, o dividend yield foi de 1,43%, o que a mantém distante do perfil de vaca leiteira.

Outra surpresa positiva é a Log (LOGG3), do setor de galpões logísticos e imóveis para e-commerce. Fora do radar por muito tempo, a firma apresentou cinco anos consecutivos de crescimento dos proventos, com CAGR da remuneração de 76,8%. Sobreira chama atenção para o payout médio de 67%, que exige cautela quanto à sustentabilidade dessas distribuições no futuro.

Mesmo com payout alto, a Log mantém um ritmo intenso de expansão no segmento logístico, aumentando o portfólio de galpões – e reforçou recentemente sua prática de dividendos. Em dezembro de 2024, adotou a prática de pagamentos trimestrais, comprometendo-se a distribuir 50% do lucro líquido anual. A firma pretende reavaliar o modelo anualmente, embora não descarte repetir a estratégia em 2026.

Entre as velhas conhecidas do investidor, a Marcopolo (POMO4), fabricante de carrocerias e ônibus com presença internacional, também entrou para o grupo. Nos últimos cinco anos, sua taxa de crescimento dos dividendos foi de 61,6%, com payout médio de 52%, compatível com sua geração de caixa e capacidade de investimento.

Segundo Sobreira, a Marcopolo é uma firma de crescimento sujeita a ciclos industriais e à demanda por transporte coletivo. É uma aristocrata tradicional, mas fora dos padrões de vaca leiteira. Para os próximos anos, ele projeta valorização e dividendos constantes.

Mesmo no varejo, a Raia Drogasil (RADL3) também se destaca, com nove anos de dividendos crescentes e taxa de alta dos proventos de 13,9% no período. Seu payout médio de 43% é considerado saudável pelo analista, com liquidez atraente para investidores institucionais.

Aristocratas de 4 anos

Algumas companhias se enquadram como “quase aristocratas”, por terem registrado quatro anos seguidos de dividendos crescentes entre 2020 e 2024, um período marcado pela pandemia e forte estresse econômico.

“Companhias que iniciaram ou mantiveram uma trajetória de aumento de proventos neste período mostraram notável capacidade de adaptação e resiliência em um dos ambientes de negócios mais desafiadores da história recente”, avalia Sobreira.

Apenas cinco firmas passaram no teste:

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No setor monetário, aparecem Banco do Brasil e BTG Pactual.

O Banco do Brasil (BBAS3), por anos visto como vaca leiteira, teve crescimento anualizado de 32,10% nos proventos, mas enfrenta 2025 desafiador, com aumento da inadimplência no agronegócio e mais provisões. O payout caiu para 30% do lucro líquido e proventos extraordinários ou ajustes no montante distribuído só devem vir em 2026, como já sinalizado pela gestão .

Na minha visão, será difícil para o BB manter o padrão de quase aristocrata em 2025, embora Sobreira considere cedo para conclusões e aconselhe monitorar balanços e projeções trimestrais.

O BTG Pactual (BPAC11) dá prioridade para expansão e diversificação de receitas, o que explica o dividend yield de apenas 3,16% em 2024. Mesmo com foco em crescimento, o aumento constante dos proventos acompanha a alta dos lucros e reforça seu perfil aristocrata.

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Entre as small caps – companhias consideradas pequenas quando comparadas com as demais firmas na Bolsa –, se destacam Tegma e Fras-le. A Tegma (TGMA3), líder no transporte de veículos, depende do ritmo da indústria automotiva e da eficiência de gestão. Segundo Sobreira, a manutenção do padrão crescente de dividendos exige disciplina de capital e bom momento do setor.

A Fras-le (FRAS3), do grupo Randon, líder em materiais de fricção como pastilhas de freio, se beneficiou da forte demanda por reposição de autopeças. Com gestão sólida e payout equilibrado, mantém espaço para dividendos e crescimento nos próximos anos.

Por que tão poucas firmas?

Como mostrou Sobreira, a escassez de aristocratas na Bolsa brasileira tem causas estruturais. A principal vem da volatilidade macroeconômica do País, marcada pelos ciclos de “voo de galinha”, alternados com crescimento e recessões profundas, além de recuperações lentas, que afetam lucro e caixa. Quando a economia desacelera, as firmas preferem preservar caixa e reduzir dívidas a pagar dividendos.

Outro fator fica com a Selic, historicamente alta e instável. Embora essencial para conter a inflação, ela encarece custo de oportunidade e a dívida das firmas e as força a escolher entre remunerar acionistas ou reforçar o balanço, abatendo endividamento.

A instabilidade política e regulatória também mina o planejamento de longo prazo. Discussões recorrentes sobre tributação de dividendos surgem todo ano e tornam improvável que uma firma assuma compromissos de proventos crescentes por décadas. Afinal ninguém é louco né, jacarezada?

Como resume Sobreira, ser uma aristocrata no Brasil diz mais sobre resiliência do que estabilidade. Aqui, sobrevivem os fortes e nisso, concordo com ele.

Embora, com toda sinceridade, tirando o Banco do Brasil, achei essas companhias bem sem graça. Mas é importante não desprezar as aristocratas apesar do dividend yield menor. Afinal consistência é uma virtude que precisa ser reconhecida também no mercado monetário e em um país volátil, diversificar se torna o verdadeiro jogo.

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Katherine Rivas

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