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“Maior risco para 2026 é Lula romper com o arcabouço fiscal e aumentar benefícios”, diz gestor da Kinea Investimentos

Depois de anos com prioridade em juros internacionais, moedas e bolsas de valores de países desenvolvidos em seu portfólio, a Kinea Investimentos decidiu aumentar a exposição ao Brasil. O movimento – com grande influência do cenário exterior e com vistas para 2026 – fez com que a gestora colocasse metade do seu orçamento de risco em ativos locais.

Em sua última carta mensal, a casa compara essa virada de chave na alocação com a Odisseia, de Homero, clássica obra da literatura que relata o retorno de Ulisses à ilha de Ítaca após vencer a Guerra de Troia. A jornada, longe de simples, foi marcada por tempestades, monstros e tentações.

Para a Kinea, o Brasil hoje representa uma “Ítaca imperfeita”: carregada de armadilhas, mas com boas oportunidades para quem tem disciplina e convicção de que há valor escondido. Segundo Roberto Elaiuy, gestor de Renda Fixa da Kinea, a exposição da casa ao País atingiu o maior patamar em três anos e está fundamentada em indicadores econômicos.

“Aumentamos posição no Brasil pelo cenário da economia, não pelo aspecto político, observamos mais a atividade, a inflação e o câmbio do que qualquer outro fator. Ainda assim, acompanhamos de perto a preparação para as eleições 2026”, afirma Elaiuy.

O executivo projeta um resultado eleitoral dividido e reconhece que, à medida que o novo ano se aproxima, o tema político tende a ganhar mais peso nas decisões dos investidores.

E-Investidor – Em sua carta mensal, a Kinea diz que é hora de “voltar ao lar” e aumentar a exposição ao Brasil. Quais fatores motivaram essa decisão?

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Roberto Elaiuy – Ficamos muito tempo sem ter o Brasil como principal risco nos fundos. Enxergamos o País como qualquer outro mercado, sem preferência por sermos brasileiros. Nossa tese depende do cenário global. Uma Selic alta não basta se o contexto internacional dificultar fluxo para países emergentes.

A avaliação hoje é que o mundo passa por um momento muito raro, com juros altos nos Estados Unidos ao mesmo tempo em que o lucro das firmas cresce. A economia americana está saudável, mas o mercado de trabalho começa a dar sinais de fraqueza e a inflação, de forma gradual, caminha em direção à meta, o que permite ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortar juros.

Isso adiciona mais liquidez no sistema monetário como um todo e esse fluxo de dinheiro tende a ir para ativos mais arriscados, com alto diferencial de juros. O Brasil está muito bem posicionado nesse sentido.

E como a gestora observa o cenário doméstico?

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Internamente, observamos um enfraquecimento gradual da atividade: primeiro nos indicadores de sondagem, depois nos índices setoriais e, mais recentemente, em sinais do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, o cenário de inflação segue melhorando, com valorização do real frente ao dólar e queda nos preços das commodities.

Vemos espaço para o Banco Central (BC) reduzir juros. Embora um corte em 2025 seja menos esperado, não está descartado, mas o movimento tende a ser mais provável em 2026. Na nossa avaliação, o BC também tem margem para cortar além do que o mercado monetário precifica e até em um ritmo mais acelerado.

Como a Kinea enxerga o impacto das eleições de 2026 sobre o mercado local?

Na nossa visão, será uma eleição muito disputada, voto a voto. Não estamos fazendo posição no Brasil porque temos confiança de que Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai ganhar, por exemplo. Mas, pensando que o candidato à direita pode ter rejeição menor por não ser tão conhecido, achamos que ele pode conseguir se recuperar.

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Contudo, não será fácil para a direita, longe disso. Lula tem muita experiência em fazer campanha e sabe operar a máquina pública.

Quais são os principais riscos que podem desafiar a visão otimista da gestora em relação ao Brasil?

O principal risco da nossa avaliação é o presidente Lula romper com o arcabouço fiscal caso ele se veja ameaçado nas eleições e saia apertando todos os botões do seu “painel de controle” para aumentar benefícios e implementar medidas para angariar votos, como a gratuidade no transporte público.

Se o presidente seguir essa linha será um evento suficientemente ruim para desmontar a tese que temos em relação ao Brasil. Um fiscal muito mais expansionista vai sustentar o Produto Interno Bruto (PIB), como já aconteceu nos últimos anos. Mas acreditamos que ele não cometerá esse erro.

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Ficou bastante claro que ir nesse caminho fez o dólar explodir no final de 2024, superando R$ 6, e o político sabe ler dólar.

Quais são os ativos que estão na carteira da Kinea?

A nossa posição em Brasil está concentrada em renda fixa, com posições em juros prefixados em diferentes pontos da curva. Não temos NTN-Bs (Tesouro IPCA+), pois projetamos uma inflação abaixo do consenso. Mantemos ainda uma posição menor comprada em real e vendida em dólar, aproveitando o enfraquecimento global da moeda americana.

Na Bolsa, a Kinea carrega estratégias relativas, não direcionais. Damos prioridade a firmas com fluxo de caixa estável e alta geração de retorno, sensíveis à queda de juros, mas resilientes em um cenário de atividade mais fraca. Entre os papéis, temos Sabesp (SBSP3), Copel (CPLE6), Orizon (ORVR3), BTG Pactual (BPAC11), Bradesco (BBDC3;BBDC4) e Embraer (EMBR3).

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Após a alta do Ibovespa no início deste ano, passamos a adotar um modelo mais long & short – estratégia que combina uma posição vendida em uma ação e comprada em outra.

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Beatriz Rocha

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